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“A poupança é sofrimento e a previdência privada é um assalto à mão armada”, diz Tito Gusmão, CEO da Warren Investimentos

Foto Divulgação

Por: Pedro Leal

25/06/2020 - 15:06 - Atualizada em: 25/06/2020 - 16:24

Uma campanha publicitária do Banco Itaú, atacando corretoras e agentes autônomos de investimentos por um suposto conflito de interesses lançou holofotes sobre a falta de conhecimento do brasileiro sobre o mercado financeiro.

Para o CEO da Warren Investimentos, Tito Gusmão, as pessoas precisam de conhecimento para ter a autonomia para gerir o seu próprio dinheiro.

De acordo com Gusmão, a complexidade do mercado financeiro e o longo histórico de juros altos e instabilidade do Real combinados com uma educação financeira precária – grande parte da população termina o mês no vermelho por não acompanhar a saída de dinheiro – tornou o brasileiro avesso aos investimentos de risco.

Com a realidade dos investimentos mudando e a rentabilidade da renda fixa caindo, a tendência foi terceirizar a gestão destes investimentos – seja na forma dos gerentes de investimentos dos bancos ou na forma de corretores e agentes financeiros.

“As pessoas investem muito mal no Brasil, as plataformas não são amigáveis e as pessoas acabam delegando essa responsabilidade”, diz.

Conflito de interesses

O conflito de interesse alegado pelo Itaú advém do modelo de remuneração seguido por grande das corretoras, com base em comissão por produtos vendidos.

“Neste modelo, o retorno do corretor está no produto, o que leva a indicação de produtos com comissões mais expressivas”, explica Gusmão.

“Esta indicação vem mesmo que o produto não tenha o melhor retorno, ou seja, mais adequado ao perfil do cliente, em alguns casos chegando a sugestões predatórias”, diz Gusmão.

Outro modelo de remuneração, chamado fee based e adotado por corretoras como a Warren, cobra pelo serviço prestado – e não pelo produto de investimento vendido.

“A Warren nasceu para resolver este problema de conflito de interesses entre corretora e corretado. É este modelo que grandes investidores trabalham”, explica.

Foto Rovena Rosa/Agência Brasil

Segundo Gusmão, grandes investidores preferem pagar taxas fixas a comissões. . Isso quer dizer que membros da diretoria de grandes financeiras evitam o próprio modelo que suas empresas oferecem.

O modelo com base em comissões foi um dos motores da crise do mercado financeiro em 2007 e 2008, com grandes corretoras e bancos nos EUA oferecendo produtos de baixo valor para investidores que não tinham conhecimento dos riscos, deflagrando uma das maiores crises econômicas de tempos recentes.

“Esse conflito de interesses se vê na obra O Lobo de Wall Street, o interesse dos brokers era o lucro próprio e não necessariamente o do cliente”, explica.

Modelo ultrapassado

Segundo o CEO, o modelo seguido nos bancos tradicionais é baseado em cotas de produtos, centrados em formas de investimentos que não são os mais rentáveis e que estejam melhor alinhados com os interesses da instituição.

“Os bancos fazem uma oferta de produtos ruim sem que o interesse seja no cliente”, critica. Estes produtos se centram em poupança, previdência privada e fundos de investimento.

“A verdade é que a poupança não é um investimento, é sofrimento. Já a previdência é praticamente um assalto à mão armada, de tanta taxa que se paga. Taxa para sacar, para depositar, para transferir, consultar o saldo, taxa até para saber quanto se paga de taxa”, afirma.

Mesmo assim, a provocação do Itaú tem fundamento. E a situação exposta no vídeo, do cliente recebendo ligações de seu assessor todos os dias com ‘oportunidades imperdíveis’, é extremamente comum.

O pior é que o investidor que recebe essas ligações, às vezes não entende que na verdade as oportunidades estão sempre disponíveis e que a ansiedade que o assessor passa é uma ferramenta comercial para incentivar a carteira desse cliente a rodar mais e, por consequência, gerar mais comissionamento.

A solução para este dilema, diz Gusmão, é a educação financeira do cliente: saber no que está investindo, no que quer investir e em que prazo.

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).