Durante um dos eventos que destacam a relevância que a Scar (Sociedade Cultura Artística) ganhou no cenário cultural de todo o país, a notícia da morte de um dos fundadores e primeiro presidente da entidade, Fernando Springmann, abalou os bastidores do Femusc (Festival de Música de Santa Catarina). Ele morreu na manhã de domingo (27), aos 93 anos de idade, por causas naturais.
Springmann foi um dos primeiros médicos a atuarem na cidade e, ao lado da esposa e pianista Yara Fischer Springmann, tornou-se um dos grandes entusiastas da cultura em Jaraguá do Sul.
Violinista, logo que veio para cá, ele foi convidado por Yara para participar da pequena orquestra do casal Francisco e Adélia Fischer, que ensaiavam na sala de estar de casa com outros amigos.
Em junho de 1956, a família Fischer fundou a Sociedade Cultura Artística, montada inicialmente para manter uma pequena orquestra de amigos músicos que se encontravam em saraus e recitais nas tardes de domingo.
Hoje, a entidade materializou um dos teatros mais bem equipados do Brasil, com o Centro Cultural da Scar, que foi berço para a criação de inúmeros projetos, incluindo o Femusc, que traz estudantes de música do mundo a Jaraguá do Sul.
Além de estar entre os fundadores, Springmann foi o primeiro presidente da Scar, logo após a fundação. O médico também estava presente no primeiro Concerto de Gala da Orquestra da Scar, realizada no Clube Atlético Baependi em 1957.
Springmann deixa a esposa, três filhos e sete netos enlutados. O corpo do médico foi velado na capela Mortuária Leier e cremado no Crematório Catarinense.
Durante o concerto de domingo no Femusc, pequenas homenagens foram feitas ao músico, que tem uma parte da programação dedicada em sua homenagem: o “Momento Springmann”.
A organização do festival estuda fazer mais uma menção ao entusiasta no encerramento do evento, no próximo sábado (2).
História de vida
Springmann nasceu em Florianópolis no dia 12 de novembro de 1925. Em 1952, ele veio para Jaraguá do Sul com o diploma de medicina e o inseparável violino.
Na época, a cidade tinha cerca de 30 mil habitantes. Ainda rural, o município contava com apenas dois médicos, empregados no único hospital da região do Vale do Itapocu, o atual Hospital e Maternidade Jaraguá.
Ele ainda trabalhou no Hospital São José, e foi um dos incentivadores da fundação da Rede Feminina de Combate ao Câncer, atuando também como o primeiro médico da entidade.
Sem aparelhos de raio X e com pouca disponibilidade de exames, a medicina naquele tempo era feita na base do tato, dos olhos e dos relatos do próprio paciente.
Partos normais eram assistidos pelas parteiras e procedimentos invasivos só ocorriam quando havia risco para a gestante e para a criança. Durante o regime militar, Springmann retornou para Florianópolis, como médico concursado, voltando para Jaraguá do Sul já aposentado.
Namoro, casamento, filhos e netos vieram entre a medicina, as aulas de piano, os concertos e o desenvolvimento da Scar, hoje uma das referências culturais de Santa Catarina.
Springmann continuou ativo na cena cultural de Jaraguá do Sul até sua morte. Com a esposa, frequentava os concertos no Grande Teatro e participava de reuniões da assembleia geral de sócios da entidade.
Ele foi um dos incentivadores do projeto social “Música para Todos”, desenvolvido pela orquestra da Scar para formação de crianças e adolescentes.
Do casamento de Springmann e Yara nasceram três filhos, mas nenhum deles optou pela medicina: Paulo é engenheiro químico radicado no Canadá, Pedro, também é engenheiro químico, e Regina, casada com o médico pediatra jaraguaense Moacir Zanghelini.
Reconhecimento
Em novembro de 2018, Fernando Springmann e a esposa Yara Fischer foram prestigiados com a maior honraria da área cultural em Santa Catarina: a Medalha do Mérito Cultural Cruz e Sousa.
Concedida pelo governo do Estado, a comenda é definida por consulta pública a partir de indicação feita pelo Conselho Estadual de Cultura.
Ela é concedida a autores de obras literárias, artísticas, educacionais ou científicas relativas ao Estado e reconhecidas pela sociedade, ou a quem tenha contribuído por outros meios e de modo eficaz para o enriquecimento ou a defesa do patrimônio artístico e cultural.
Durante entrevista ao OCP no dia 21 de novembro, Yara se mostrou emocionada por ela e o marido terem a oportunidade de serem reconhecidos ainda em vida, “diferente de tantos artistas que são lembrados apenas após sua morte”.
Autoridades lamentam perda
Gilmar Moretti, presidente do Conselho de Administração da Scar
“O Fernando, para nós, era exemplo vivo da paixão pela música, do poder transformador que a música tem nas gerações. Além dele ser um dos fundadores da Scar, presidente e mesmo com seus 93 anos ainda atuar junto conosco no conselho deliberativo, ele frequentava a instituição acompanhando de perto, vivenciando os momentos mais importantes da nossa entidade. É isso que nós estamos perdendo, essa sensibilidade, essa testemunha de que a sensibilidade na música faz a diferença”.
Diretor artístico do Femusc, Alex Klein
“O Femusc celebra a vida do Dr. Fernando Springmann com agradecimento e a força recebida de sua trajetória de superação e liderança cultural em Jaraguá do Sul. Sua presença no festival é eternizada pela série de concertos Momento Springmann, assim como a memória de tê-lo em pessoa em nossos concertos”.
Vice-prefeito e ex-presidente da Scar, Udo Wagner
“Ele foi um dos médicos pioneiros em Jaraguá do Sul, um médico familiar, que dedicou toda a vida à medicina com competência, por longos anos, na tradicional medicina familiar. E na cultura ele foi um dos inspiradores para a fundação da Scar. Certamente é um ícone da cultura em Jaraguá do Sul, junto com a esposa, pois ambos participaram da primeira orquestra da Scar, que muito inspirou a construção do novo prédio 16 anos atrás. O casal sempre esteve presente nos eventos e participante também do conselho da entidade. Ele foi um dos homens que me inspirou a preservar a cultura do nosso município. Foi uma grande e lamentável perda para a cultura a nível do município, do Estado e do país, além de uma grande perda como ser humano”.
Prefeito Antídio Aleixo Lunelli
“O domingo (27) começou com uma triste notícia: a morte do médico Fernando Springmann, aos 93 anos. Nascido em Florianópolis, o Dr. Springmann, como era mais conhecido, foi um dos primeiros médicos a se instalar na nossa cidade, sendo fundamental nos dois hospitais de Jaraguá do Sul. Ao lado da esposa, Yara Fischer, deu uma importante contribuição para a cultura local, sendo o primeiro presidente da Sociedade Cultura Artística (Scar), na década de 1950. Apaixonado pela música, o casal sempre foi presença frequente no Femusc, tanto que o sobrenome batiza uma das sessões musicais, o Momento Springmann. Quis o destino que perdêssemos uma figura tão importante na nossa história durante o festival que tanto amou. Fique em paz, Dr. Springmann”.
Secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Petry
“A perda é irreparável pelos grandes feitos e contribuição dele com relação a medicina. Sabemos da importância e o quanto ele contribuiu para Jaraguá do Sul, deixando um legado para esta geração e para as próximas. E também, pela atuação dele e da esposa Yara na área cultural. Eles participaram da construção da Scar e de diversas iniciativas da entidade, sempre ativos na cultura do município. Temos que render nossas homenagens à longa e importante passagem e legado que Springmann deixou para a cultura e medicina da cidade. Fico feliz em ter homenageado sua trajetória na Câmara de Vereadores em 2013”.
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