Zelador desliga “alarme irritante” e destrói mais de 20 anos de pesquisa

CHOKSAWATDIKORN / SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images

Por: Pedro Leal

27/06/2023 - 13:06 - Atualizada em: 27/06/2023 - 13:50

Um zelador universitário que desligou um freezer após ouvir vários “alarmes irritantes” arruinou mais de 20 anos de pesquisa científica, segundo o registrado em uma ação movida contra seu empregador pelo Rensselaer Polytechnic Institute, no interior do estado norte-americano de Nova York.

As informações são da CNN.

O zelador não está sendo processado – o alvo da ação era sua contratante, a empresa de limpeza Daigle Cleaning Systems Inc.. Ele trabalhou por vários meses em 2020 na universidade particular de pesquisa em Troy, Nova York.

A universidade pede mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 4,7 milhões) em danos e honorários advocatícios da Daigle Cleaning Systems como resultado do incidente.

O freezer do laboratório continha mais de 20 anos de pesquisa, incluindo culturas e amostras de células, nas quais uma “pequena variação de temperatura de três graus causaria danos catastróficos”, de acordo com a ação movida na Suprema Corte do condado de Rensselaer.

A universidade não acredita que o zelador seja culpado, mas culpa a Daigle Cleaning Systems por não treiná-lo e supervisioná-lo adequadamente, segundo o processo.

“O réu, por meio de sua supervisão e controle negligente, descuidado e/ou imprudente do [zelador], causou danos a certas culturas de células, amostras e/ou pesquisas no laboratório”, afirma a universidade.

O processo afirma que as culturas de células e espécimes no freezer precisavam ser mantidas a -80 °C e uma variação de 3 °C causaria danos, então os alarmes soariam se a temperatura aumentasse para -78 °C ou diminuísse para -82 °C graus.

KV Lakshmi, professor e diretor do Baruch ’60 Center for Biochemical Solar Energy Research da universidade, que supervisionou a pesquisa, notou que o alerta do freezer disparou em 14 de setembro de 2020, porque sua temperatura subiu para -78 graus, conforme consta no processo.

Apesar do alarme, Lakshmi e sua equipe determinaram que as amostras de células estariam seguras até que reparos de emergência pudessem ser feitos.

Enquanto o professor esperava que o fabricante do freezer viesse fazer o conserto, sua equipe adicionou uma caixa de trava de segurança ao redor da saída e do soquete do freezer. Um aviso também foi colocado no freezer, segundo o processo judicial.

“ESTE CONGELADOR ESTÁ APITANDO PORQUE ESTÁ EM REPARO. POR FAVOR, NÃO MOVER NEM DESCONECTÁ-LO. NENHUMA LIMPEZA NECESSÁRIA NESTA ÁREA. VOCÊ PODE PRESSIONAR O BOTÃO DE SILENCIOSO DE ALARME/TESTE POR 5-10 SEGUNDOS SE QUISER SILENCIAR O SOM”, dizia o aviso.

Em 17 de setembro, o zelador ouviu o que mais tarde chamou de “alarmes irritantes”, de acordo com o processo.

Em aparente tentativa de ser útil, ele desligou os disjuntores, que forneciam eletricidade ao freezer, desligando-os por engano.

Ele declarou ainda que a temperatura do freezer subiu para -32 °C.

No dia seguinte, os estudantes de pesquisa encontraram o freezer desligado e, apesar das tentativas de preservar a pesquisa, a maioria das culturas foi “comprometida, destruída e tornada irrecuperável, demolindo mais de vinte anos de pesquisa”, aponta o processo.

 

Notícias no celular

Whatsapp

Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).