A religião, enquanto instituição humana, é um constructo histórico e social, moldado por dogmas, rituais e estruturas de poder. Sua função terrena, quase sempre, transcende o sagrado, servindo como instrumento de controle, identidade coletiva e, em muitos casos, até justificativa para violência. Grandes líderes religiosos, paradoxalmente, foram responsáveis por guerras e opressões, demonstrando que a adesão a uma religião não garante ética ou elevação espiritual. Ditadores supremacistas e exterminadores, frequentavam, e frequentam igrejas e templos.
Já a espiritualidade é uma dimensão mais profunda e individual, relacionada à conexão com o transcendente, à busca por significado e ao desenvolvimento de valores como compaixão, empatia e respeito ao diferente. Enquanto a religião opera no campo do coletivo, do controle e do proibido, a espiritualidade flui no íntimo, independente de crenças dogmáticas. Por isso, muitos ateus e agnósticos, mesmo rejeitando instituições religiosas, cultivam uma espiritualidade autêntica, baseada na reflexão filosófica, na arte e no altruísmo. Por outro lado, há os religiosos implacáveis que moram nas igrejas e templos, mas são racistas, homofóbicos, xenofóbicos, e demais preconceitos.
A teocracia, ao confundir religião com espiritualidade, muitas vezes comete o erro de impor normas em nome de Deus, sem considerar a essência ética que deveria fundamentar a fé. A verdadeira espiritualidade não precisa de templos ou hierarquias; ela se manifesta na capacidade de questionar, de buscar conhecimento, de amar e de transcender a lógica terrena, como o egoísmo, a certeza e o fanatismo. Enquanto a religião divide, a espiritualidade, quando genuína, une.
Assim, é preciso distinguir entre a obediência cega a tradições, e a busca por um sentido maior. A história mostra que os maiores crimes foram cometidos em nome de religiões, enquanto os maiores atos de bondade, em sua maioria, vieram de quem não professava religião alguma – apenas humanidade.