Enquanto o mundo avança em direção a uma economia circular, o Brasil insiste em enterrar, literalmente, seu potencial. A cada ano, o país gera cerca de 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos, mas apenas 4% disso é reciclado, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Esse número é vergonhoso quando comparado a países como Alemanha (67% de reciclagem), Áustria (58%) ou até mesmo Chile (17%). O resultado? Perdas econômicas bilionárias, danos ambientais irreparáveis e uma posição de atraso no cenário global.
O dinheiro que virou lixo:
Estudos do Banco Mundial indicam que o Brasil desperdiça R$ 14 bilhões anualmente por não reciclar materiais que poderiam ser reinseridos na cadeia produtiva. Só o plástico, que representa 16,8% do lixo urbano, poderia gerar R$ 5,7 bilhões/ano se fosse reciclado, segundo a Fundação Ellen MacArthur. No entanto, mais de 11 milhões de toneladas vão parar em aterros ou lixões, contaminando solos e rios. O alumínio, um dos materiais mais valiosos, tem taxa de reciclagem elevada (98%), mas outros metais, como o aço (47%), ainda estão longe do potencial máximo.
O impacto ambiental e social:
A falta de reciclagem não é apenas um problema econômico, mas um desastre ecológico. O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de EUA, China e Índia, mas recicla menos de 2% desse total, de acordo com o WWF. Enquanto isso, 3.000 lixões a céu aberto ainda operam no país, intoxicando comunidades pobres e gerando custos de R$ 1,5 bilhão/ano em saúde pública, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Oportunidades perdidas:
A reciclagem poderia criar até 500 mil empregos formais no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Hoje, apenas 800 mil catadores — muitos em condições precárias — sustentam um sistema que deveria ser industrializado. Países como Suécia e Holanda já transformaram resíduos em energia e matéria-prima, enquanto o Brasil continua dependente de aterros, que ocupam espaço valioso e emitem metano, um gás 25 vezes mais poluente que o CO₂.
O que falta?
Falta política pública eficiente. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), criada em 2010, ainda não saiu do papel em muitos municípios. Apenas 60% das cidades brasileiras têm coleta seletiva, e menos de 10% delas atingem metas significativas. Enquanto isso, a indústria segue sem incentivos massivos para logística reversa, e o consumidor não é educado para separar o lixo corretamente.
O Brasil poderia ser uma potência verde, mas escolheu ser um grande depositório de lixo. Se reciclasse metade de seus resíduos, geraria riqueza, reduziria emissões e pouparia recursos naturais. Enquanto não houver cobrança rigorosa, investimento em tecnologia e conscientização, continuaremos a enterrar nosso junto com nosso futuro. A pergunta que fica é: até quando vamos aceitar esse desperdício?