Deveria ser, acima de tudo, um momento de reflexão sobre as narrativas distorcidas que ainda permeiam nosso ensino. A expressão “descobrimento do Brasil” é um equívoco grave, pois sugere que essas terras estavam vazias antes da chegada dos europeus, ignorando milhões de indígenas que já habitavam o território há milênios. Como se pode “descobrir” um lugar onde já existiam sociedades complexas, culturas ricas e modos de vida sustentáveis? Não se pretende desqualificar a importância da vinda dos europeus, porém, reconsiderar o registro.
As escolas, responsáveis por formar cidadãos críticos, precisam urgentemente revisar essa linguagem exclusivamente colonialista. Ensinar que o Brasil foi “descoberto” é perpetuar a invisibilização dos povos originários, reforçando a ideia de que sua história só começa com a invasão portuguesa. Essa abordagem não só apaga o genocídio e a resistência indígena, mas também naturaliza estereótipos que alimentam o preconceito até hoje.
É essencial reconhecer a contribuição dos povos originários: desde técnicas agrícolas até conhecimentos medicinais, sua influência é parte fundamental da identidade brasileira. No entanto, muitos ainda os veem como “figuras do passado”, não como nações contemporâneas que lutam por direitos básicos, como terra e respeito. O racismo contra indígenas se manifesta em piadas, na destruição de suas terras e na omissão do Estado.
Neste 19 de abril, vamos repensar o que celebramos. Que a data sirva para denunciar erros históricos, valorizar as vozes indígenas e exigir que a educação descolonize seu currículo. Só assim construiremos um futuro onde a justiça social seja, de fato, honrada. O Brasil não foi descoberto. E sua verdadeira história começa muito antes de 1500.