Hoje, 9 de junho de 2025, deveria ser um dia de reflexão sobre os inúmeros benefícios da ciência. Entretanto, o senso comum não enxerga, ou não quer enxergar isso, preferindo os discursos político populistas. O fato é que hoje celebramos o Dia Nacional da Imunização em um cenário paradoxal: o Brasil, que já foi referência global em vacinação, enfrenta quedas alarmantes na cobertura vacinal, doenças evitáveis retornando e mortes que poderiam ser prevenidas. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973 e responsável por erradicar a varíola e a poliomielite, hoje luta contra a desinformação, a desorganização logística e a hesitação vacinal .
A descrença nas vacinas não surgiu do nada. Ela foi alimentada por fake news, discursos antivacina e pela politização da saúde. Embora o Brasil tenha historicamente alta adesão às campanhas — como as do Zé Gotinha nos anos 1980 —, a cobertura vacinal infantil caiu de 95% em 2015 para 71% em 2021, com recuperação lenta (79% em 2023). A falsa sensação de segurança, somada à desinformação, fez muitas famílias negligenciarem a caderneta de vacinação. Além disso, a gestão fragmentada do PNI pós-pandemia agravou o problema: em 2023, 30 milhões de doses infantis foram perdidas por vencimento, gerando prejuízos de R$ 400 milhões .
O retorno da febre amarela em São Paulo e a queda na vacinação contra gripe (apenas 51% em Belo Horizonte) são exemplos do risco coletivo. A dengue, que teve redução de 70% em 2025 graças a planos de contingência, ainda preocupa, com apenas 15,9% de adolescentes protegidos pela segunda dose da vacina . Sem imunização, surtos de sarampo e poliomielite — doenças já eliminadas — podem ressurgir, como alertam especialistas .
Como reverter?
1. Combate à Desinformação: Campanhas claras, com linguagem acessível e parcerias com influenciadores e profissionais de saúde, são essenciais para reconstruir a confiança .
2. Fortalecimento do PNI: Investir na “Rede Frio” (armazenamento de vacinas), sistemas de informação integrados e microplanejamento municipal pode evitar desperdícios e falhas na distribuição .
3. Busca Ativa: Vacinação em escolas, unidades móveis e checagem de cadernetas em postos de saúde — estratégias já adotadas no Espírito Santo, onde a cobertura da tríplice viral atingiu 96,53% .
4. Responsabilidade Tripartite: União, estados e municípios precisam agir em conjunto para evitar estoques parados e perdas .
Enfim, vacinar é um ato de solidariedade e cidadania. A queda na imunização não é apenas uma falha do Estado, mas um reflexo da sociedade que esqueceu o poder das vacinas. Reverter esse quadro exige inteligência, ação coordenada, transparência e, acima de tudo, a retomada do diálogo com a população. Como lembra o infectologista Adelino Freire Junior, “a saúde de todos depende das escolhas de cada um” . Que este Dia Nacional da Imunização sirva para reacender a consciência coletiva e salvar vidas.