No Brasil, 7 de junho é uma data que celebra um pilar da democracia, mas também relembra séculos de resistência contra a censura e a violência. É o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. A imprensa livre é essencial para a transparência, a fiscalização do poder e o direito à informação, mas sua trajetória é marcada, em maior e menor grau, por repressão, desde o Império até os dias atuais.
No período monárquico, embora Dom Pedro II fosse conhecido por tolerar críticas — inclusive as mais ácidas, a imprensa enfrentou restrições sob o reinado de Dom João VI, quando apenas veículos alinhados ao governo eram permitidos. Jornais como o Correio Braziliense, editado clandestinamente por Hipólito da Costa no exterior, mostram que a luta pela liberdade de expressão é antiga.
O século XX trouxe desafios ainda maiores. Durante a ditadura militar (1964-1985), a censura institucionalizada levou a redações não alinhadas com o sistema, a serem ocupadas por agentes do regime, e jornalistas presos e torturados. A criatividade dos profissionais, como a publicação de receitas de bolo no Estadão para denunciar a censura, tornou-se símbolo de resistência.
A redemocratização, em 1988, consagrou a liberdade de imprensa na Constituição Federal, mas os ataques persistem. Nas últimas décadas, jornalistas enfrentam violência de milícias, assédio judicial e campanhas de difamação. Em 2024, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) registrou 144 casos de agressões, incluindo ataques físicos e perseguição política. O assassinato de Tim Lopes, em 2002, ao investigar crimes no Complexo do Alemão, é um triste exemplo dos riscos da profissão.
Globalmente, a situação também é alarmante. Governos autoritários, como os do Afeganistão, Rússia, China, entre outros, criminalizam jornalistas, enquanto em alguns países ditos democráticos, vemos tentativas de descreditar a mídia independente. No Paquistão, desaparecimentos forçados e assassinatos são comuns, com o Baluchistão sendo chamado de “cemitério de jornalistas”.
Apesar dos desafios, a imprensa segue resistindo. Leis como a Europeia da Liberdade de Imprensa (2024) e o Pacto Digital Global da ONU, buscam proteger profissionais e combater a desinformação, agravada pela inteligência artificial. Como destacou o secretário-geral da ONU, António Guterres, “a liberdade das pessoas depende da liberdade de imprensa”.
Neste 7 de junho, é urgente reforçar o compromisso com uma imprensa livre, diversa e segura, porque, como lembra o Papa Leão XIV, apenas uma comunicação “desarmada” pode construir sociedades justas. A história mostra que calar jornalistas é o primeiro passo para calar a democracia.