A marcha bípede foi um dos eventos mais transformadores na evolução humana, permitindo o desenvolvimento de habilidades únicas, como a fabricação de ferramentas e a manipulação de objetos. No entanto, essa adaptação trouxe consigo desafios anatômicos e fisiológicos significativos. A coluna vertebral, originalmente adaptada para suportar o peso em posição quadrúpede, teve que se reestruturar para manter o equilíbrio em uma postura ereta. Essa mudança resultou em curvas naturais (lordose e cifose) que, embora auxiliem na absorção de impactos, também aumentam a susceptibilidade a dores e lesões, especialmente em regiões como a lombar.
Além disso, a pelve humana sofreu alterações para facilitar a locomoção bípede, tornando-se mais estreita. Essa adaptação, porém, complicou o parto, já que o canal pélvico ficou mais restrito em relação ao tamanho do crânio fetal, que aumentou com o crescimento do cérebro. Esse dilema obstétrico é único em humanos e exigiu soluções evolutivas, como partos mais precoces (com bebês relativamente menos desenvolvidos) e a necessidade de cuidado prolongado após o nascimento.
A dor na coluna, comum na maioria dos humanos, é um reflexo direto dessa transição evolutiva. A postura ereta sobrecarrega discos intervertebrais e músculos, especialmente em sociedades modernas com hábitos sedentários e má postura. Estudos indicam que a prevalência de lombalgias está diretamente ligada à biomecânica da coluna bípede. Portanto, enquanto a marcha bípede foi crucial para o desenvolvimento humano, ela também impôs custos significativos à saúde musculoesquelética, evidenciando o delicado equilíbrio entre adaptação e vulnerabilidade na evolução.