Vivemos na era da informação, mas paradoxalmente, também na era da desinformação. Nunca se produziu tanto conhecimento, e nunca foi tão fácil acessá-lo. No entanto, nunca tantas pessoas se mostraram tão vulneráveis a fake news grosseiras, a teorias conspiratórias e a manipulações doutrinárias. Por quê? A resposta é simples, ainda que incômoda para muitos: quem não lê, acredita em qualquer coisa. E pior: quem não lê se torna presa fácil da estratégia da alienação, já que não está imunizado de senso crítico, pois, que não lê pouco pensa, e quem pouco pensa obedece fácil.
A leitura não é só um passatempo ou um hábito de intelectuais. Ela é o exercício fundamental do pensamento crítico. Quando alguém lê, confronta ideias, analisa argumentos, questiona fontes. Quem não cultiva esse hábito, no entanto, aceita passivamente o que lhe é dito, especialmente se vier embrulhado em emoções fáceis – ódio, medo, preconceitos.
Fake news não se espalham por serem convincentes, mas porque encontram terreno fértil em mentes vazias. Pesquisas mostram que pessoas com baixo repertório de leitura tendem a absorver e compartilhar notícias falsas com mais frequência. Não por maldade, mas por incapacidade de discernimento.
Um estudo do Instituto Reuters revelou que quem consome informação apenas por redes sociais tem três vezes mais chances de acreditar em desinformação. Essas pessoas não sabem diferenciar um artigo científico de um post viral, uma análise aprofundada de um discurso demagógico. E o resultado é que se tornam marionetes de quem manipula.
Comprova-se então, que liberdade exige esforço e, por outro lado, a ignorância é confortável. Há quem se orgulhe de “não gostar de ler”, como se fosse uma prova de autenticidade, praticidade ou autodidata. Na verdade, é uma confissão de preguiça mental. A liberdade não é um presente; é uma conquista diária. E exige leitura, porque só é verdadeiramente livre quem consegue pensar por si mesmo.
Quem lê expande seus horizontes, entende contextos históricos, percebe as nuances dos discursos. Enquanto o que não lê, repete slogans prontos sendo facilmente dominado por algoritmos e manchetes sensacionalistas. O leitor, por sua vez, escolhe suas fontes, compara versões, forma opiniões fundamentadas.
Diante disso, é preciso dizer sem rodeios: quem não lê é cúmplice da desinformação, Se você se ofende com fake news, mas passa dias sem abrir um livro, sem ler uma análise séria, sem buscar fontes confiáveis, então você é parte do problema. Não adianta culpar apenas os mentirosos, é preciso culpar também quem dá ouvidos a eles.
O hábito da leitura não é um luxo para acadêmicos. É uma necessidade para qualquer cidadão que queira participar da sociedade sem ser um títere. Se você não tem tempo para ler, terá tempo para ser enganado. Se não busca conhecimento, será refém de quem o distorce. Será um seguidor com viseira.
Portanto, se você se reconhece nessa crítica, a resposta não é se defender, mas se transformar. Pegue um livro, assine um jornal sério, questione o que viraliza. Não compartilhe lixo. Porque, no fim das contas, a ignorância não é apenas uma falta – é uma escolha. E o preço dessa escolha é a própria liberdade.