O livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, da médica geriatra e especialista em cuidados paliativos Ana Claudia Quintana Arantes, é uma obra que desafia tabus e convida o leitor a refletir sobre a finitude não como um fim, mas como um impulso para viver com mais plenitude. A autora, com sensibilidade e profundidade, aborda a morte como uma parte inevitável da existência, mas também como uma grande mestra que nos ensina a valorizar o tempo, as relações e as escolhas que definem quem somos.
A essência do livro está em sua inversão de perspectiva: em vez de tratar a morte como um tema sombrio, Ana Claudia a apresenta como um convite à consciência. Ela argumenta que o verdadeiro medo não deveria ser a morte em si, mas sim chegar ao fim da vida sem ter vivido de maneira significativa. A obra questiona a forma como a sociedade moderno lida com a finitude, muitas vezes evitando o assunto ou tratando-o com distanciamento, o que acaba por gerar uma vida de procrastinação, arrependimentos e ausência de propósito.
Uma das metáforas mais impactantes do livro compara a vida a uma viagem de metrô com os olhos vendados: muitas pessoas entram nela sem saber para onde vão, sem estar presentes no trajeto, apenas esperando que alguém as chame quando for hora de descer. A autora desafia o leitor a sair dessa passividade e assumir o protagonismo de sua própria história, vivendo de forma intencional e alinhada aos seus valores mais profundos.
Além disso, o livro ressalta a importância dos cuidados paliativos, não apenas como uma abordagem médica, mas como uma filosofia de vida que prioriza a dignidade, o conforto e a humanização do processo de morrer. Ana Claudia critica a cultura médica que, muitas vezes, foca excessivamente em prolongar a vida a qualquer custo, negligenciando a qualidade dos momentos finais e a importância de uma despedida significativa.
Por fim, a obra nos lembra que a morte, quando encarada com respeito e não com terror, pode ser um farol que ilumina o caminho de uma vida mais autêntica. Como a autora afirma, “A morte é um dia que vale a pena viver porque é o dia em que a vida faz mais sentido”. O livro não é apenas sobre morrer bem, mas sobre viver de maneira que, quando a morte chegar, ela seja apenas o fechamento natural de uma jornada bem vivida — sem arrependimentos, com amor, presença e significado.