Em países marcados por desigualdades profundas e uma frágil base cultural e educacional, a mentira não apenas se normaliza, mas se transforma em espetáculo. A falta de acesso a pensamento crítico, somada à precariedade material, cria um terreno fértil para a circulação de falsidades como entretenimento. Quando a realidade é dura demais, a ficção – mesmo a mais grotesca – vira refúgio e espetáculo. E, nesse processo, até a morte se torna produto de consumo.
A cultura mambembe, no sentido de um teatro pobre e improvisado, é a metáfora perfeita para esse fenômeno. Tudo vira show: a política vira reality show, o jornalismo amador e sensacionalista vira circo, e a tragédia alheia vira conteúdo. A morte, antes um momento de luto e reflexão, é transformada em espetáculo midiático, esvaziada de significado e reduzida a likes e shares. Não importa se é um crime bárbaro, um acidente ou uma catástrofe social – o que vale é o impacto visual, a comoção momentânea, a viralização.
Esse processo tem raízes políticas. Em uma sociedade onde o Estado falha em garantir dignidade, a indignação vira commodity, e a emoção substitui a razão. Líderes populistas e midiáticos exploram essa dinâmica, alimentando-se da desinformação e da espetacularização do sofrimento. A mentira, então, não é apenas tolerada – é incentivada, pois gera engajamento, polarização e, acima de tudo, distração.
O resultado é um empobrecimento ainda maior da esfera pública, onde a verdade perde valor e a ética se dissolve no voyeurismo. Quando a morte vira entretenimento, a vida também perde sentido. E, nesse ciclo perverso, a sociedade se afunda ainda mais na miséria – não apenas material, mas moral e intelectual. Estamos vivendo esse fenômeno…