Jornais impressos e TV’s são vistos pelos brasileiros como mais confiáveis na divulgação de informações. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Datafolha em março de 2020, logo que iniciou a pandemia de covid-19. No levantamento, as pessoas foram questionadas sobre se confiavam totalmente, parcialmente ou não confiavam em determinado veículo de comunicação.
O levantamento indicou que para 61% dos entrevistados, os programas jornalísticos de TV são os mais confiáveis. Outros meios que têm maior confiabilidade são os jornais impressos, com 56%, os programas jornalísticos de rádio (50%), e sites de notícias (38%), enquanto as redes sociais Whatsapp e Facebook têm a confiança de 12% da população.
TV
Para a professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Faculdade de Comunicação (Facom), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Iluska Coutinho, essa maior confiança no jornalismo televisivo é algo que foi conquistado ao longo das últimas sete décadas. Segundo ela, é um pacto de confiança que vai sendo testado de diversas maneiras, e tem sido fortalecido, por exemplo, com a possibilidade de as pessoas enviarem vídeos que, ao serem veiculados, reforçam a confiabilidade. “Não é só falar, é falar e escutar as pessoas”, observa.
O professor Paulo Roberto Figueira Leal, que também leciona na Facom, destaca que a TV alcança a quase totalidade dos lares brasileiros e que grande parte da população do país ainda não tem capacidade de consumo – porque não pode ou porque não quer – de veículos impressos ou sites de notícia, onde há uma densidade maior de informações. Para ele, a indicação da TV no nível em que ela aparece nas pesquisas resulta, em parte, de sua presença diária em muito mais lares do que qualquer outra tecnologia.
Rádio
Na opinião do diretor de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra, a velocidade em transmitir informações e o imediatismo são os principais fatores para que os programas jornalísticos de rádio sejam confiáveis para grande parte dos brasileiros. Pesquisador e estudioso do rádio há muitos anos, Guerra destaca que em momentos de tragédia, como quando ocorreu o ataque às torres gêmeas, por exemplo, o rádio sempre foi o primeiro e o mais procurado pela população, tanto pela sua velocidade quanto pela sua credibilidade, imediatismo e, especialmente, porque o rádio sempre foi o companheiro dos ouvintes.
Jornais impressos e sites de notícias
Para a professora Cláudia Thomé, do PPGCOM, ao longo da história o jornalismo tem tido o compromisso em divulgar a informação correta, precisa, noticiando com responsabilidade e ciente de sua função social. “Como jornalistas e pesquisadores, temos que avaliar esses números indicativos do nível de credibilidade do jornalismo profissional, mas também as mudanças de hábito do público na busca por informações no atual contexto comunicacional”, destaca.
Na opinião da professora, o fato dos sites aparecem com apenas 38% no nível de confiança mostra que a função do jornalismo como certificador de informação ainda não migrou totalmente para esses espaços.
Ela observa que há sites ligados a grupos de comunicação tradicionais, outros de grupos de jornalismo independente já reconhecidos por seu trabalho, outros colaborativos, entre outras boas iniciativas, mas que levar a credibilidade do jornal impresso para a internet ainda é um desafio.
Redes sociais e o perigo das “Fake News”
A pesquisa do Datafolha indica que 12% dos entrevistados confiam em informações que têm como fontes o Facebook ou o Whatsapp. Para o professor Paulo Roberto Figueira Leal, a inclusão de novas tecnologias é um processo lento de aprendizagem. Ele destaca que nas eleições de 2018, o Whatsapp foi um veículo de disseminação de fake news (informações falsas). “Então muita gente que até acreditou em alguma coisa, eventualmente depois percebendo que não era verdade, pode ter um processo de aprendizagem com a não confiabilidade deste meio”, afirma. “Aprendizagem que vai se consolidando quanto mais as pessoas conhecem os limites e as características de cada plataforma, de cada tecnologia”, completa.
A professora Iluska Coutinho lembra que há uma relação próxima entre as pessoas e a mídia, mas que elas também têm outras referências. “Nós vivemos numa época de guerra de narrativas que se tornou muito forte no Brasil em 2018, quando tivemos uma polarização política muito grande no país. E essa guerra de narrativas, por um lado, também veio desqualificando a mídia. Há um esforço muito grande de um grupo de poder tentando desqualificar a mídia, tentando dizer que ela não é confiável, muitas vezes utilizando a própria mídia para fazer isso”, declara.
Para Leal, é necessário algum ceticismo para que as pessoas fujam de notícias falsas ou assumam algo como verdade incontestável. “Há um risco enorme de se receber alguma coisa numa rede social e tratá-la como verdade sem nenhum mecanismo de apuração, sem nenhum tipo de checagem. Do mesmo modo, há um risco de tomar as opiniões de um grupo de mídia tradicional, que tem preferências políticas e ideológicas, como a única versão possível daquele episódio”.
O professor conclui que quanto mais a sociedade se torna capaz de perceber criticamente os conteúdos que recebe, maior é a sua capacidade de desenvolver mecanismos de verificação, de checagem de outras fontes, dependendo menos da única fonte que afirma que algo é verdade.
*Com informações do site UFJF