Os primeiros clubes e sociedades de Jaraguá do Sul nasceram sob forte influência da cultura alemã e iniciaram uma tradição que atravessa gerações. A prática do tiro, hoje modalidade olímpica, começou ligada à rotina dos imigrantes e às festas comunitárias.
O tiro fazia parte do dia a dia dos colonizadores, principalmente como extensão da caça, atividade comum na época.
A habilidade com armas ganhou espaço nas celebrações locais, com disputas amistosas e coroações de reis e rainhas. Assim surgiram as primeiras sociedades de tiro, referência cultural, esportiva e social.
O primeiro registro oficial é de 1906, com a fundação da Schützenverein Jaraguá (Sociedade de Atiradores Jaraguá). Em pouco tempo, outras sociedades surgiram, muitas em salões improvisados, casas ou ranchos, sempre acompanhadas de festas, bailes e grande participação popular.
Entre as mais antigas estão a Sociedade de Atiradores Dr. Lauro Müller e a Sociedade de Atiradores e Sport Rio Serro II, fundadas em 1916, e a Sociedade de Atiradores Einigkeit (União), criada em 1928. Essas instituições fizeram parte de um ciclo cultural intenso, como mostra o livro “Festas de Rei”, da historiadora Silvia Kita.
Esse crescimento foi interrompido na década de 1930 pela Campanha de Nacionalização do governo brasileiro e a entrada do país na Segunda Guerra Mundial, que levaram ao fechamento de várias sociedades.
Na época, materiais em alemão eram apreendidos e muitos registros históricos se perderam, resultando em um período de silêncio forçado. A retomada só ocorreu após 1945, com reativações e novas fundações que resgataram tradições interrompidas.
Um marco foi a fundação, em 1959, do Clube de Caça, Tiro e Pesca Marechal Rondon, que tinha foco esportivo, sem festas típicas, priorizando treinamento e competição.
Esse movimento se consolidou em 1968, quando Jaraguá do Sul participou pela primeira vez dos Jogos Abertos de Santa Catarina com uma equipe de cinco atletas: Amadeus Mahfud, Adolfo Oswaldo Saade, Leopoldo Enke, Adolpho Mahfud e Dietrich Hufenüssler.
Segundo o livro “Baependi: 100 anos de muita história”, o time conquistou a sexta colocação, um resultado expressivo para a época.
O fortalecimento das sociedades ganhou ainda mais força a partir de 1989, com a criação da Schützenfest. Idealizada pela Associação dos Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu (ACSTVI), a festa resgatou e consolidou a tradição do tiro na identidade local.
Hoje, é uma das maiores festas culturais de Santa Catarina e símbolo da relação de Jaraguá do Sul com suas raízes germânicas.