A partir de abril de 2025, os funcionários públicos do governo metropolitano de Tóquio terão uma novidade. Uma semana de trabalho reduzida para quatro dias. A medida foi anunciada como uma resposta à crise de fertilidade do Japão, que enfrenta taxas de natalidade historicamente baixas.
A iniciativa visa incentivar os casais japoneses a passarem mais tempo juntos, com a expectativa de que isso leve ao aumento do número de filhos.
“Queremos promover um ambiente de trabalho mais equilibrado, onde os japoneses possam passar mais tempo com suas famílias e, ao mesmo tempo, fomentar uma maior taxa de natalidade”, afirmou a governadora de Tóquio, Yuriko Koike.
O Japão enfrenta uma queda dramática em sua taxa de fertilidade. Em 2023, a taxa caiu para 1,2 filhos por mulher, bem abaixo do índice necessário para a reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. O governo japonês tem tentado várias estratégias para lidar com o envelhecimento populacional e o declínio da força de trabalho, e esta medida visa uma solução de longo prazo.
Koike destacou que, além de incentivar a formação de famílias maiores, a nova política também pretende criar um ambiente de trabalho mais flexível, que possibilite aos cidadãos de Tóquio equilibrar a vida profissional e pessoal. “Agora é o momento de Tóquio tomar a iniciativa de proteger e melhorar as vidas, os meios de subsistência e a economia do nosso povo durante esses tempos desafiadores para a nação”, afirmou a governadora.
A nova medida foi bem recebida pelos servidores públicos da capital japonesa, que celebraram a possibilidade de maior tempo livre sem perder o rendimento. Durante sua apresentação na Assembleia Metropolitana de Tóquio, Koike destacou a importância de flexibilizar o trabalho para garantir que os cidadãos não precisem escolher entre carreira e vida familiar, especialmente em contextos de cuidados com os filhos.
Embora a mudança seja válida apenas para o setor público por enquanto, as autoridades não descartam a possibilidade de expandir o modelo para o setor privado no futuro, caso a iniciativa se mostre bem-sucedida.
Modelo de trabalho de 4 dias no Brasil
A medida de Tóquio se alinha a uma tendência crescente observada em outros países. No Brasil, por exemplo, uma organização sem fins lucrativos, a “4 Day Week”, implementou um modelo de trabalho de 4 dias em parceria com a Reconnect Happiness at Work. A iniciativa, conhecida como 10-80-80, oferece 100% do salário para os participantes, que trabalham 80% do tempo e mantêm 100% da produtividade.
Os resultados foram positivos: 892,4% dos participantes relataram ter mais energia e disposição para realizar suas tarefas, e também houve redução significativa no estresse, ansiedade e desgaste ao final do dia. A experiência foi vista como um sucesso, com uma melhoria no equilíbrio entre vida profissional e pessoal, além de impactos positivos na saúde mental e no bem-estar geral.
O Japão não está sozinho na implementação de uma semana de trabalho reduzida. Em 2022, um programa piloto global envolvendo empresas de diferentes países testou a semana de quatro dias. Os resultados mostraram que mais de 90% dos participantes desejavam continuar com o modelo. Entre as melhorias observadas estavam o aumento da produtividade, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e uma melhoria no bem-estar psicológico dos trabalhadores.
A tendência de redução da carga horária sem perda de produtividade parece estar ganhando força mundialmente, refletindo uma mudança nas formas de trabalhar que priorizam não apenas a eficiência, mas também a qualidade de vida dos trabalhadores.
Embora os resultados iniciais sejam promissores, o impacto dessa mudança na sociedade japonesa e no mercado de trabalho ainda está por ser totalmente avaliado. O Japão, conhecido por sua cultura de trabalho intensa e longas jornadas, enfrenta o desafio de adaptar seu modelo tradicional de trabalho a novas realidades econômicas e sociais.
A expectativa é que a adoção de políticas como a semana de quatro dias ajude não só a combater a baixa taxa de natalidade, mas também a melhorar a saúde mental e a satisfação no trabalho, fatores essenciais para garantir o bem-estar da população no futuro.