O dia mal havia começado quando os primeiros visitantes curiosos chegaram na Scar para esperar pela Tocha Olímpica. De pouco em pouco, crianças, jovens e adultos foram ocupando lugares nas calçadas do Centro Cultural, ansiosos por assistir de perto o revezamento da tocha, símbolo maior da história das Olimpíadas. Não demorou muito até que uma multidão de mais de 300 pessoas estivesse reunida no local, vibrando a cada sinal.
Quando ela finalmente chegou, a comoção foi geral. Nem o atraso de 15 minutos tirou o ânimo dos visitantes: gritos, aplausos e, claro, muitas fotografias, marcaram a passagem do comboio que anunciou a vinda do símbolo das Olimpíadas. Em meio à “selfies” e expressões de surpresa, a chama foi trazida com rapidez e poucos minutos depois a tocha já estava em movimento.
Os condutores não esconderam a emoção de carregar um dos
maiores símbolos do esporte mundial
Durante todo o trajeto, pessoas observavam das calçadas, das janelas dos prédios e de dentro dos escritórios. Era difícil segurar a curiosidade. No calçadão, as calçadas ficaram lotadas por aqueles que deram uma “paradinha” para espiar o comboio. E quando ele passava, não era preciso mais do que alguns minutos para a rotina voltar ao normal – as ruas eram bloqueadas conforme o grupo chegava, sem muito alarde, sendo liberadas logo na sequência.
Emoção à flor da pele
Ao lado da família, a ex-atleta Cornélia Holzinger Caglioni de 52 anos, aguardava ansiosa pelo momento em que iria oficialmente entrar para a história das olimpíadas no Brasil. Com os dedos meio trêmulos e um sorriso imenso no rosto, a jaraguaense mal podia disfarçar a alegria de ser uma das escolhidas para conduzir a tocha. “Esta é a minha realização olímpica”, disse ela, sem conseguir conter a emoção, enquanto o comboio se aproximava.
Cornélia começou a escrever o nome na história do atletismo catarinense aos 16 anos, quando se inscreveu na Escolinha de Atletismo do Baependi. Competidora em diversas provas, a ex-atleta contabiliza no currículo inúmeras vitórias, entre elas 25 medalhas de ouro nos Jogos Abertos de Santa Catarina e quatro medalhas de ouro no Troféu Brasil de Atletismo, além de deter recordes estaduais.
“Para mim é uma emoção muito grande fazer parte deste momento, especialmente aqui, na minha cidade, no meio do meu povo. Enquanto atleta, conquistei muito mais do que imaginava, mas não tive a oportunidade de chegar a uma Olimpíada. Este é o momento em que eu posso fazer parte desta história”, declarou, emocionada.
Do outro lado da rua, o marido da ex-atleta, José Augusto Caglioni, acompanhava orgulhoso a cerimônia. “Sinto como se eu estivesse ali junto com ela, é um reconhecimento muito merecido”, comentou Caglioni, que foi treinador de Cornélia durante os anos de atletismo. “É um evento que ajuda a difundir o espírito olímpico entre os jovens”, afirmou ele.
Multidão acompanhou cerimônia na Arena
No pátio da Arena Jaraguá, uma multidão se reuniu para acompanhar a chegada da tocha, trazida pelo ex-atleta do voleibol Benhur Sperotto, 68 anos. Em um palco montado em frente à Arena, Sperotto foi o responsável por encerrar a cerimônia, em meio a um mar de aplausos.
“É uma honra muito grande ter sido escolhido para representar todos os atletas, técnicos e professores esportivos de Jaraguá do Sul. É um momento histórico e único, devemos nos sentir orgulhosos”, disse Sperotto, que participou das Olimpíadas de 1976 e 1980 e hoje atua como coordenador técnico na Fundação Municipal de Esporte.
Na platéia em frente à Arena, era possível visualizar boa parte da nova geração de desportistas jaraguaenses, já que, ao final do evento, mais de 1500 crianças e adolescentes participaram d o Encontro de Polos do Projeto Evoluir, de Vôlei, e do projeto A Bola da Vez, de Basquete. “O esporte é uma ferramenta importante na condução dos jovens para o caminho do bem. É isso que precisamos ter em mente, que por intermédio do esporte é possível fazer a diferença na vida de muitas pessoas”, defendeu Sperotto.
Ao fim cerimônia, quando o público começava a se dissipar, era possível notar a expectativa de quem agora anseia pelo início dos jogos. Para os amigos Cleiton Bolomine, de 21 anos, e Signey Aldengue Júnior, de 20 anos, valeu a pena o esforço para acompanhar a passagem da tocha. “É um momento histórico, que faz parte de toda uma tradição, e é provável que na nossa vida ele não volte a se repetir. Só por isso já valeu a pena privilegiar”, disse Aldengue Júnior.
Lembranças de um dia memorável
Desde 2008, quando entrei para faculdade de jornalismo carregando o sonho de seguir na área esportiva, fui acostumado a correr atrás da informação e contar as melhores histórias de diversos personagens. Mesmo com o curto tempo de profissão, posso dizer que ontem vivi o momento mais marcante da minha carreira. No fim do ano passado, ao receber o convite para ser um dos condutores do revezamento da Tocha Olímpica dos Jogos Rio 2016, já vislumbrava um dia especial.
Mas é difícil descrever o sentimento vivido desde que os condutores se reúnem, até os 200 metros em que cada um dos 28 ‘sortudos’ jaraguaenses percorreu as ruas da cidade. Um misto de emoção e nervosismo toma conta e as lágrimas são difíceis de serem contidas. Após meses de espera, a ficha começa a cair ao chegar ao ponto de partida e ver uma multidão, rodeada de seguranças, comboios enormes e voluntários o aguardarem para um simples gesto de carinho e satisfação em ter a Pira Olímpica a poucos metros de distância. Não só Jaraguá do Sul, mas o Brasil talvez nunca mais viva um dia como este. Eu não fiquei imune a isto.
“Torço para que o clima das Olímpiadas traga momentos de paz ao país” Lucas Pavin, repórter
A minha vida sempre foi dedicada aos esportes. Desde criança pratiquei futebol, conhecendo muitos professores e colegas que ajudaram na minha formação, até virar um adepto do tênis, modalidade na qual também carreguei grandes experiências. Ao receber a tocha, na manhã de ontem, a ansiedade deu lugar a todas as boas lembranças que me trouxeram até aqui, desde que deixei o esporte para entrar na faculdade, além da minha família, namorada, amigos e companheiros de trabalho, que tanto me apoiaram neste dia memorável.
A vinda da tocha trouxe inúmeras criticas por parte da população e concordo que o País precise de mudanças, mas acredito que não seja a hora de questionar a realização do revezamento ou das Olímpiadas, pois prefiro acreditar no lado bom que o esporte proporciona. Infelizmente, problemas políticos, financeiros e sociais sempre existiram e irão continuar perturbando a sociedade, mas não podemos desmerecer um evento como este, dedicado ao esporte que é uma das maneiras viáveis para tornar o País ainda melhor, mesmo em tempos de crise.
Jaraguá do Sul abraçou esta ideia e fez um espetáculo pelas ruas, mostrando ao Brasil e ao mundo que vivemos em uma cidade repleta de esperança. Como um mero anônimo, diante de tantos nomes importantes que marcaram história no esporte jaraguaense, posso afirmar que o dia 13 de julho de 2016 jamais será esquecido e torço para que o clima das Olímpiadas traga momentos de paz ao país.