A casa localizada às margens do trilho do trem, bem no Centro de Jaraguá do Sul, guarda muito mais do que marcas em suas paredes, um pouco judiadas pelo tempo, e um estilo arquitetônico antigo. Por lá, ecoam as risadas dos filhos, histórias da família e foi nessa casa, que tem a Estação Ferroviária de Jaraguá do Sul – onde hoje funcionam a Fundação Cultural e Biblioteca Municipal – como vizinha, onde o ex-ferroviário Juarez de Jesus Ferreira, 55 anos, viveu seus melhores momentos.
Transferido para Jaraguá do Sul há cerca de 35 anos para trabalhar como Agente de Estação Ferroviária, ele guarda boas lembranças dos tempos em que os trens levavam passageiros, cargas das mais distintas e eram motivo de curiosidade por quem andava pela cidade. “Quando vinha o trem com vagões para passageiros ou a Automotriz, tínhamos que tomar cuidado redobrado porque as pessoas iam para às margens do trilho só para ver de mais perto”, relembra.
Na época, o hoje aposentado Ferreira veio com a mulher, Neuci, e a filha Janira, que tinha apenas seis meses. Foi em solo jaraguaense que ele viu a família aumentar com a chegada de Jean, em 1991. Como trabalhava o dia todo na Estação e ocupava o cargo de Chefe do local, e como morava – e ainda mora – de frente para os trilhos, os filhos cresceram em meio aos vagões e a paixão por esse transporte foi absorvida por toda a família. Daquele tempo, lembra dos filhos correndo pela casa – ou do mais “arteiro” Jean, que até fugia da escola só para ficar com o pai na Estação – e das boas lembranças no cargo que exerceu por muitos anos.
“Todo ferroviário tem saudade desses tempos. Lidávamos com o público todos os dias, recebíamos turistas que vinham
conhecer a cidade e os curiosos que vinham só para ver o trem mesmo”, diz.
Ferreira foi o último ferroviário a sair da Rede Ferroviária em Jaraguá do Sul, depois que ela foi fechada em 1997. Como já tinha experiência na área elétrica, foi trabalhar de eletricista e se aposentou posteriormente, devido a um acidente. Mesmo assim, continuou morando na casa, na época pertencente à Rede Ferroviária e hoje patrimônio da Controladoria Geral da União. “Essa casa é muito importante para mim. Pagamos um aluguel para União e cuidamos desse patrimônio que precisa ser preservado”, conta. O sonho do ex-ferroviário é ver o imóvel restaurado para preservar as características da obra. O local serve de palco para o projeto Casa Sonora, idealizado pelo filho Jean Juarez Ferreira, o Boca. É na sala ode ocorrem apresentações de nomes da música catarinense, como a joinvilense Ana Paula da Silva que se apresenta no local hoje (30), a partir das 21 horas. “Sinto muito orgulho em ver que o pessoal vem até essa casa tão humilde para ver shows de pessoas tão reconhecidas e talentosas e ver que elas saem daqui felizes com o lugar”, conta.
Morar em frente aos trilhos de trem, para ele, é uma forma de estar ligado à toda a história da família na cidade e com o trem. “Ele (o trem) nunca me incomodou, muito pelo contrário. É uma saudade que mato todos os dias ao vê-lo passar”, finaliza. Cada apito e barulho feito pelos vagões remetem às melhores memórias do aposentado, que se orgulha em ver o trem passar “na porta de casa” e de observá-lo de uma forma como ninguém vê.
Você sabia?
O dia 30 de abril é considerado o Dia do Ferroviário pois foi nessa data, em 1854, que foi inaugurada a primeira linha ferroviária do Brasil: a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, conhecida hoje como Estrada de Ferro Mauá. O ferroviário é a pessoa que trabalha nas estradas de ferro. Apesar de hoje ser motivo de muitos questionamentos, já que muitos são a favor da retirada dos trens dos centros urbanos, o transporte ferroviário exerce importante papel na história, principalmente quando se remete às locomotivas, tanto no transporte de passageiros quando de cargas na construção do País.
