Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Saiba qual é a ligação de Arthur Moreira Lima, um dos maiores nomes da música clássica no Brasil, com Jaraguá do Sul; pianista morreu esta semana

Concerto na Scar em 2009 | Foto: Chan Luz Produção/Divulgação

Por: Elisângela Pezzutti

02/11/2024 - 07:11 - Atualizada em: 04/11/2024 - 15:39

As diretorias da Sociedade Cultura Artística (Scar) e do Festival Internacional de Música de Santa Catarina (Femusc) lamentaram a morte de Arthur Moreira Lima, um dos maiores pianistas do Brasil, ocorrida na última quarta-feira (30), no Hospital Imperial de Caridade, em Florianópolis. Foi ele quem inaugurou, em um concerto memorável realizado na Scar, em 2009, o Steinway de cauda longa, doado pelo industrial Wandér Weege e que faz parte do acervo de instrumentos do Centro Cultural.

A diretora-executiva da Scar, Edilma Lemanhê, conta que na ocasião do concerto ela estava trabalhando na Scar há poucas semanas, então não chegou a conversar pessoalmente com Arthur Moreira Lima, mas que acompanhou toda a apresentação do músico. “A lembrança que eu tenho é dele no palco tocando o piano Steinway. Como eu estava chegando, fiquei fascinada com o que eu vi. Aquele piano gigante, que ele tocava com leveza e ao mesmo tempo com uma firmeza tão grande, e uma sonoridade que enchia o grande teatro, que estava lotado, com as pessoas fascinadas. Foi um momento mágico, em que ele falou comigo através da música. Foi uma apresentação maravilhosa. A gente pode ver o encantamento das pessoas. Guardo uma memória ímpar da passagem dele aqui em Jaraguá do Sul. Foi algo inesquecível”, declara.

Wandér Weege destaca que Moreira Lima foi um dos gigantes do mundo no piano. “Lembro-me das boas e tantas excelentes apresentações que ele promoveu. Ficava até pensando no especial dom que Deus lhe deu. Foi um artista ímpar, gigante e brilhante, que tem seu nome na história dos melhores mestres do piano”.

Apaixonado por Florianópolis

A reportagem do OCP conversou com Margareth Garret, esposa de Arthur, e com Grasiela Garret da Silva, enteada do músico. Margareth revela que o pianista se apaixonou por Florianópolis e que a família morava no Costão do Santinho há 30 anos. “Ele gostava de sossego, não gostava nem de telefone. Foi um homem do mundo que desejava terminar sua vida aqui”, diz.

Arthur com a esposa Margareth | Foto: Arquivo pessoal

Amor e afeto em família

“Ele foi muito amado e viveu intensamente até os 82 anos, quando o câncer de intestino foi descoberto e teve início o tratamento. O Arthur odiava ir ao médico, fazer exames, tomar injeção, essas coisas, então ficamos sabendo da doença tardiamente”, explica Margareth, que viveu com o pianista por quase 25 anos. “Arthur era muito culto e brincalhão, contava piadas, sempre muito presente e carinhoso com os meus filhos do primeiro casamento, Grasiela, Andreza e Maury, e com meus netos, Marina, Catarina, Lorena e Felipe, que também se tornaram seus filhos e netos, assim como com as filhas biológicas do primeiro casamento dele, Martha e Beatriz, e com o neto Chico, que moram no Rio de Janeiro”.

A neta Catarina, de 9 anos, era o xodó de Arthur. “Ela me disse: ‘eu quis contar na escola que o vovô foi morar no céu, mas todo mundo já sabia, porque ele era famoso e aparecia na televisão”, conta Margareth, muito emocionada.

No aniversário da neta Catarina, em 24 de setembro de 2024 | Foto: Arquivo pessoal

Os ensinamentos de ‘Paddah’

“Eu tinha 23 anos quando Arthur entrou de maneira afetuosa e amorosa em nossas vidas. Lindo de ver o amor entre ele e minha mãe: cumplicidade, alegria, parceria, amor. Tínhamos uma relação muito harmônica, divertida e de muito aprendizado. Paddah (como o chamávamos carinhosamente eu e meus irmãos, Andreza e Maury porque ele não gostava do termo ‘padrasto’) sempre me ensinou muito. Aprendi muito com ele com sua história de vida, suas vivências durante sua trajetória profissional brilhante. A vida no exterior, estudos, concursos, pessoas, personagens que ele conheceu em sua vida. Tanta história viva. Pessoa valorosa, ser humano admirável e surpreendente. Mente genial, perspicaz e inteligente. Ele cultivou amizades leais e significativas que permaneceram até hoje, amizades genuínas e atemporais. Muito divertido, com seu humor peculiar nos brindava com verdadeiras aulas com novos termos e expressões que só ele poderia criar. Tenho muita gratidão a ele. Uma honra e privilégio poder compartilhar uma rica convivência de 24 anos. Tudo que aprendi estará sempre vivo em mim. Sentirei muita falta de sua presença física, de seus comentários, de ouvi-lo contar suas histórias de vida”, conta Grasiela.

Família reunida | Foto: Arquivo pessoal

Pianista levou sua música a comunidades carentes

Para que moradores de áreas de vulnerabilidade social tivessem acesso à cultura, Arthur Moreira Lima criou o projeto “Um piano pela estrada”, em 2003. Ele percorreu Santa Catarina e outras centenas de cidades do Brasil em um caminhão, que se transformava em palco, para realizar apresentações gratuitas, em que interpretava clássicos de Mozart, Bach, Mozart, Chopin, Astor Piazzolla, Villa-Lobos e Pixinguinha.

“Tive também a honra e alegria de fazer parte do projeto ‘Um piano pela estrada’, quando realizava em paralelo o projeto ‘Um Sorriso pela Estrada’ com minha mãe Margareth, que assim como eu é dentista. Tive oportunidade de viajar por todo o Brasil, desenvolvendo um trabalho de educação em saúde geral e bucal durante o dia, e à noite Arthur apresentava-se em praça pública, com o piano no palco do caminhão. Foram mais de 10 anos e quase 600 cidades”, relembra Grasiela. Margareth completa que essa também foi uma forma de estarem juntos, já que Arthur vivia viajando.

O músico carioca também era amante do futebol e torcia pelo Fluminense | Foto: Arquivo pessoal

‘Pelé do Piano’

Arthur Moreira Lima começou a estudar piano aos 6 anos, com Lúcia Branco, que também foi professora de Tom Jobim e Nelson Freire. Apelidado de “Pelé do Piano”, o pianista, que nasceu no Rio de Janeiro em 1940, também era amante do futebol e torcia pelo Fluminense. Em 2002, participou do documentário “Saudações Tricolores”, dirigido por André Barcinski e Heitor D’Alincourt.

Com mais de 100 discos gravados, recebeu inúmeros prêmios durante sua carreira. Ele tocou com as filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia e com as sinfônicas de Berlim, Viena e Praga, a BBC de Londres e a National da França.

Em 2003, ganhou o título de Cidadão Honorário da capital catarinense. Uma de suas últimas aparições aconteceu em setembro de 2024, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cerimônia da qual participou de forma remota.

Arthur e Margareth na casa de Wandér e Laurita Weege | Foto: Arquivo pessoal

Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.