O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no mundo, existam 70 milhões de pessoas com o TEA, 2 milhões só no Brasil, segundo dados de 2010.
Detectar o autismo precocemente é essencial para proporcionar às crianças as intervenções necessárias, possibilitando um desenvolvimento mais saudável e integrado à sociedade. O pediatra desempenha um papel central nesse processo, sendo o primeiro profissional capaz de identificar sinais que indicam a presença do transtorno, especialmente nos primeiros anos de vida.
Segundo a pediatra Bruna de Paula, o acompanhamento nos primeiros anos de vida é decisivo para identificar possíveis sinais precoces de autismo.
“O pediatra é, muitas vezes, o primeiro profissional a notar possíveis atrasos ou comportamentos atípicos, permitindo que a investigação comece o quanto antes. Durante as consultas regulares, ele avalia marcos importantes do desenvolvimento infantil, como contato visual, comunicação, interação social e motricidade. Caso algo esteja fora do esperado, pode orientar uma avaliação mais detalhada e ajudar os pais a diferenciar sinais de alerta de variações normais, esclarecendo dúvidas sobre comportamentos que podem parecer preocupantes, mas fazem parte do desenvolvimento típico. Muitas crianças acabam recebendo o diagnóstico tardiamente porque os sinais iniciais são ignorados ou atribuídos à ideia de que ‘cada criança tem seu tempo’. O pediatra ajuda a evitar essa espera prejudicial, garantindo que a criança receba o suporte adequado no momento certo”, frisa a médica.
Sinais precoces de autismo
Embora cada criança tenha um ritmo próprio de desenvolvimento, é possível identificar sinais de alerta em bebês com menos de dois anos que podem indicar a presença de autismo. A pediatra destaca que esses sinais não são definitivos, mas merecem atenção e acompanhamento especializado:
1. Dificuldades na comunicação: atraso na fala ou ausência de fala (algumas crianças não falam ou falam muito pouco) / não responde quando chamado pelo nome, mas reage a outros sons / dificuldade em apontar para mostrar o que quer (usa a mão dos pais para pegar algo, por exemplo) / pouco uso de gestos como acenar “tchau” ou apontar / ecolalia (repetição de palavras ou frases sem sentido no contexto);
2. Dificuldades na interação social: pouco contato visual ou contato visual fugaz / prefere brincar sozinho e não demonstra interesse em interagir com outras crianças / não compartilha interesses (não mostra brinquedos para os pais, por exemplo) / dificuldade em expressar emoções ou entender as emoções dos outros / não imita expressões faciais ou gestos dos adultos (como bater palmas ou dar tchau);
3. Comportamentos repetitivos e interesses restritos: movimentos repetitivos (bater as mãos, balançar o corpo, girar objetos) / interesse intenso e fixo por um único tema ou objeto (exemplo: dinossauros, números, letras) / resiste a mudanças na rotina (se um caminho diferente para casa for feito, pode reagir com choro ou irritação) / sensibilidade alterada a estímulos (pode se incomodar com barulhos altos, texturas de roupas, luzes fortes);
4. Outros sinais comuns: dificuldade na alimentação (seletividade alimentar, rejeição a certas texturas) / pouca ou nenhuma expressão facial para demonstrar felicidade, tristeza ou surpresa / interesse incomum por partes de objetos (como girar rodas de um carrinho em vez de brincar com ele normalmente) / pode não demonstrar medo de perigos (atravessar a rua sem perceber riscos).
A importância da intervenção precoce
Identificar o autismo antes dos dois anos permite que intervenções terapêuticas especializadas sejam iniciadas rapidamente, potencializando o desenvolvimento da criança em áreas como comunicação, habilidades sociais e comportamento.
Bruna ressalta a importância dessas intervenções. “Nos primeiros anos de vida o cérebro está em um período de alta plasticidade, o que significa que tem maior capacidade de aprender e se adaptar. Quanto mais cedo as intervenções começam, melhores são os resultados em áreas como comunicação, socialização e comportamento. Outro ponto importante é a prevenção de comorbidades, já que crianças com TEA têm maior risco de desenvolver condições associadas, como ansiedade, TDAH e dificuldades alimentares. Com um acompanhamento adequado desde cedo, é possível monitorar e tratar esses problemas de maneira mais eficaz”.
A contribuição dos pais
Embora o pediatra seja o primeiro a observar os sinais de alerta, os pais desempenham um papel essencial ao monitorar o comportamento diário do bebê. Pequenas mudanças ou comportamentos atípicos, como os listados acima, devem ser relatados nas consultas de rotina para que o médico possa acompanhar o desenvolvimento de forma mais precisa.
“O diálogo entre pais e pediatra é fundamental. Quanto mais cedo as preocupações forem compartilhadas, mais rápido podemos agir e buscar os recursos necessários para apoiar o desenvolvimento da criança”, afirma a pediatra.
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