Bairro Rio da Luz conserva potencial a ser explorado

Por: OCP News Jaraguá do Sul

14/02/2016 - 13:02 - Atualizada em: 16/02/2016 - 09:36

Uma paisagem encantadora favorecida pela natureza. Propriedades rurais, casas familiares, pequenos comércios e prédios históricos compõem as planícies do vale resguardado pela mata e encoberto por verde. O sotaque alemão e os dialetos permanecem vivos nas vozes dos moradores, que mantêm costumes passados através de gerações. Os elementos que fazem do Rio da Luz um cenário marcante não são novidade. Foi justamente esse conjunto que motivou a criação de um novo instrumento de tombamento pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a chancela da Paisagem Cultural, aplicada em 2007 à localidade e que se estendeu até o Testo Alto, em Pomerode.

De lá para cá foram oito anos e pouca coisa mudou. Manter a localidade com um desenvolvimento que não ameaçasse a cultura local foi um dos motivos para o tombamento, mas também gerou demandas e conflitos com a população. O chefe de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, Egon Jagnow, acredita que o próprio Iphan teve dificuldade de gerenciar as demandas, pois o instrumento era novidade.

“Tiveram pontos conflituosos porque a população não entendeu o que havia acontecido, haviam loteamentos sendo implantados e interesses que foram interrompidos. Chegou a se falar em reverter o tombamento, mas isso ninguém mais questiona”, destaca Jagnow.

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Depois de audiências públicas, em 2013 foram publicadas diretrizes para as intervenções na área. São diferentes normas para cada região, é descrito tudo que pode e o que não pode ser feito. E a maioria dos procedimentos realmente precisa passar por autorização do Iphan para garantir que nenhuma mudança descaracterize a paisagem.

O intrincado de regras ainda dificulta a compreensão da população, mas o chefe de Patrimônio considera que os moradores da localidade perceberam benefícios.

“As pessoas aos poucos vão vendo que não foi de todo ruim, ao contrário, para o futuro vai dar ainda mais qualidade de vida do que se a região pudesse ser ocupada indiscriminadamente”, considera.

Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado pelo município com o Iphan aponta a necessidade da criação de um projeto de urbanização para a área tombada. O assunto foi tema de reunião ontem na Prefeitura. A pavimentação das ruas Ervin Rux e Eurico Duwe precisa ser reestruturada para dar condições a ciclistas, pedestres e aos próprios agricultores que transitam com máquinas. Como é preciso estabelecer um padrão para contemplar toda a extensão, a estimativa, aponta Jagnow, é que apenas o projeto executivo custe em torno de R$ 1 milhão.

Acadêmica propõe criação de núcleo colonial na região

Valorizar a riqueza cultural do Rio da Luz motivou a arquiteta e urbanista Lídia Pacheco a propor a reutilização do Conjunto Gumz, um grupo de seis edificações no bairro que pertenciam à mesma família. Surpreendida pelas características do local, ela dedicou o trabalho acadêmico de conclusão da graduação para criar um núcleo colonial que potencializasse as características do local.

O projeto desenha cinco novas estruturas, mesclando os seis prédios existentes, criando uma nova centralidade ao bairro. Os prédios seriam utilizados como um mercado de campo, núcleo de técnicas agrícolas, museu, escola e uma hospedagem. “O trabalho tem como tema a requalificação da paisagem cultural. Traz a ideia de preservação, utilização e sustentabilidade, por isso propus a construção usando técnicas regionais. A minha ideia, pegando esse conjunto, foi tanto englobar os bens materiais quanto os imateriais, através dos usos”, aponta.

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Em projeto, acadêmica propôs espaço para mercado, museu, escola e outras estruturas

A proposta, reconhece Lídia, foi explorada amplamente para fim acadêmico, mas com alguns ajustes ela acredita que poderia ser considerado por órgãos competentes para execução. Um dos fatores que levou à escolha do local específico é a existência de um processo de desapropriação do conjunto.
Conforme Egon Jagnow, em 2014 o município reconheceu os prédios do Conjunto Gumz como de utilidade pública. O Executivo tem prazo de cinco anos para desapropriar e indenizar os proprietários e há negociação em andamento com os herdeiros para assumir a estrutura.

A intenção do município de utilização vai de acordo com o projeto de Lídia. “Está previsto um centro comunitário, um local de venda de produtos culturais e para a administração dessa região”, comenta Jagnow. Não há perspectiva para efetivar a ideia, mas o chefe de Patrimônio afirma que será preciso uma autorização do Iphan, além de haver uma busca por recursos por meio da Lei de Incentivo à Cultura ou outras fontes.

Como moradora de Jaraguá do Sul, Lídia espera que seu projeto possa inspirar ações que beneficiem o cenário. “Para a comunidade, eu vejo como a ideia de reforçar a identidade local, dar suporte para que as pessoas possam viver essa cultura. E, para a cidade, fazer com que as pessoas tenham opção de lazer, de memória, de preservar a história e a cultura. Além do turismo de experiência para quem quiser vivenciar essa cultura”, argumenta.

Casa Rux é recuperada

A Casa Rux chegou aos 100 anos em 2015 com a estrutura completamente restaurada. O tombamento e a representatividade para a história da imigração germânica no país fizeram com que fosse realizada a recuperação completa do prédio, bancada pelo Iphan.

A intervenção foi feita, segundo o especialista em restauração da empresa responsável pela obra, Fábio Araújo, num momento em que a casa estava bastante prejudicada. “Se não tivesse sido tomado providência com urgência, principalmente por conta do estado da cobertura, a estrutura não suportaria o peso do telhado e teria ruído”, explicou.

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Casa Rux foi construída em 1915

A empresa atuou por mais de um ano no local. O trabalho começou em outubro de 2014 e terminou em dezembro do ano passado. Araújo destaca que o telhado foi refeito, as paredes foram remontadas e as pinturas passaram por restauração. Com detalhismo, foi possível resgatar ao máximo o estado original. “A casa está bem preservada, foi usado material compatível com a época e está em um estado bem íntegro”, disse.

Foram investidos na restauração R$ 470 mil, recursos que a família dificilmente conseguiria disponibilizar. Em entrevista ao jornal O Correio do Povo em dezembro, a proprietária, Andressa Rux, afirmou que a família voltaria a ocupar a casa após a reforma. A edificação enxaimel foi construída por Augusto Rux, bisavô de Evandro, marido de Andressa.

Desenvolver produto turístico é meta de órgão municipal

Sociedades de tiro, produtos agrícolas e pratos típicos. Esses são os principais produtos que devem ser fortalecidos dentro do Rio da Luz, segundo o diretor da Fundação Municipal de Esporte e Turismo, Fenísio Pires Júnior. O potencial bruto está naturalmente presente na tradição mantida pela comunidade, mas ainda é preciso profissionalizar as ações para a localidade de consolide no meio turístico.

“A manifestação cultural foi apontada e é nítida, mas não tem preço, não está na prateleira e isso quem pode dar é o proprietário. Os poderes público e privado tentam dar os meios para isso” completa. Segundo Júnior, uma determinação apontada pela Prefeitura, Acijs (Associação Empresarial de Jaraguá do Sul) e Vale dos Encantos Convention & Visitors Bureau para este ano é desenvolver ações na região com amparo do Sistema S.

A ação deve se estender por toda a área de tombamento, que compreende também a localidade do Testo Alto, em Pomerode. São 14 sociedades de tiro, igrejas luteranas, casas enxaimel e cafés coloniais. Esse trabalho será voltado para quem conta com CNPJ. “Foi feito o tombamento e ali o raciocínio parou. Precisamos treinar mão de obra e gestão. É preciso trabalhar essas vertentes, formar produto”, observa o diretor.

 

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Publicação da Rede OCP de Comunicação