A crescente pressão estética, amplificada pela era digital, tem levado muitas pessoas a buscarem procedimentos não por desejo próprio, mas por imposições silenciosas de padrões inalcançáveis. Para a professora Alice Lisboa, do curso de Estética e Cosmética da Wyden, é justamente nesse cenário que o papel ético dos profissionais da área se torna indispensável.
“Muitas pessoas chegam aos procedimentos não porque desejam, mas porque se sentem obrigadas. É como se existisse uma corrida silenciosa para alcançar um corpo que nem sempre é saudável ou compatível com sua realidade”, afirma. Ela reforça que a responsabilidade dos especialistas vai muito além de executar técnicas: “Nosso trabalho não é atender a qualquer pedido, mas ajudar o paciente a entender seus limites, sua saúde e sua individualidade”.
Segundo Alice, a orientação clara e realista é uma das principais ferramentas de proteção do paciente. “A orientação é fundamental, por isso é importante explicar aos pacientes como o corpo funciona, como resultados reais são alcançados e quais são os possíveis riscos. Isso evita frustrações e escolhas precipitadas. A verdadeira evolução do setor estético está em promover bem-estar. O objetivo não deve ser transformar pessoas, mas ajudá-las a se reconhecerem, se valorizarem e se sentirem bem no próprio corpo”.
A psiquiatra e professora do Idomed, Andreia Galastri, reforça que a conexão intensa com conteúdos visuais transforma padrões de beleza em exigências silenciosas e contínuas. Para ela, o ambiente digital, apesar de positivo em muitos aspectos, intensifica a busca por aceitação e admiração, que são necessidades humanas antigas, mas hoje expostas a amplificação sem precedentes.
“Redes sociais, publicidade e cultura popular nos bombardeiam diariamente com imagens de corpos ‘perfeitos’, peles impecáveis e estilos de vida glamorosos. O acesso rápido a esses padrões potencializa a busca pela aceitação, mas essa procura incessante pode trazer consequências para nossa saúde mental”, explica.
A especialista lembra que a idealização estética não é nova, mas ganhou força desproporcional com filtros, edições e comparações constantes. “A distância entre a imagem digital e o espelho leva à sensação de insuficiência, gerando comportamentos que ampliam a angústia, como dietas restritivas, exercícios compulsivos, excesso de maquiagem e procedimentos estéticos repetitivos”, destaca.
Segundo Andreia, quando motivadas pela necessidade de validação externa, essas ações aumentam o risco de transtornos como ansiedade, depressão e distúrbios alimentares. Ela ressalta ainda que pessoas com transtornos prévios, como o Transtorno Dismórfico Corporal, tornam-se ainda mais vulneráveis. “Indivíduos ansiosos ou com autopercepção distorcida tendem a buscar mais procedimentos por angústia de comparação. E, ao invés de satisfação, entram em uma espiral de novas intervenções, acompanhadas por desilusão e piora da saúde mental”, afirma.
Para ambas as profissionais, a construção de uma relação saudável com a própria imagem passa por educação midiática, pensamento crítico e acolhimento. Andreia resume a mudança necessária: “Não se trata de se conformar ou destruir padrões, mas de estimular o nosso melhor. A verdadeira beleza reside na individualidade e na confiança. Libertar-se da ‘ditadura da imagem’ é um ato de autocuidado que permite focar no que importa: cuidar de si de forma integral e desenvolver a beleza individual com serenidade”.