Prestes a completar 130 anos, Bombeiros Voluntários de Joinville avaliam desafios e miram o futuro

Comandante Carlos Kelm | Foto: Thomas Madrigano/OCP News

Por: Thomas Madrigano

21/02/2022 - 15:02 - Atualizada em: 23/02/2022 - 15:31

O amor que sentimos por alguém, disse o filósofo chinês Lao-Tse, é o que nos dá coragem. Não poderia ser outra a disposição de espírito daqueles homens que, liderados por Victor Muller, fundaram, em 13 de julho de 1892, a Sociedade dos Bombeiros Voluntários de Joinville, a mais antiga instituição do gênero no país.

Prestes a completar 130 anos de fundação, a corporação ainda é guiada pelo amor à comunidade, que leva homens e mulheres a, voluntariamente, arriscarem suas vidas pelo bem do outro.

 

 

Atualmente sob o comando de Carlos Kelm, os bombeiros vêm se modernizando para enfrentar os desafios que a maior cidade do estado impõe. Conforme o IBGE, no fim do ano passado, Joinville ultrapassou a marca dos 600 mil habitantes.

O comandante explica que o segredo da rapidez para atender todas as áreas do município é o sistema descentralizado.

“Temos a unidade central e mais oito unidades nos bairros (Distrito Industrial, Itaum, Boa Vista, Floresta, Nova Brasília, Pirabeiraba, Vila Nova e Aventureiro). Nosso objetivo é chegar a um tempo de resposta de cinco minutos. Hoje já temos uma média de sete minutos.”

Os atendimentos pré-hospitalares, que incluem acidentes de trânsito, quedas de nível e transporte de pacientes, são responsáveis pelo maior número de ocorrências atendidas pelos bombeiros. Em 2021, por exemplo, chegaram a 73,1% do total.

Em janeiro deste ano, a corporação foi acionada 603 vezes – novamente, a principal causa foram os atendimentos pré-hospitalares.

Unidade de Suporte Avançado

Kelm conta que, em 2021, um convênio temporário com a Prefeitura de Joinville garantiu uma USA (Unidade de Suporte Avançado) – com um médico e um enfermeiro – aos bombeiros. A ideia era utilizá-la, principalmente, no transporte de pacientes com Covid-19.

O comandante, no entanto, explica que esses atendimentos foram minoritários, e a USA acabou sendo extremamente importante nas ocorrências de trauma.

“A USA tem remédios a bordo que nossas ambulâncias básicas não têm. Nós não podemos fazer aplicação de nada injetável, nem soro, nada. O médico e o enfermeiro podem, e por isso essa ambulância vai com estoque de medicamentos, para atender os pacientes no local.”

Antes da implementação da USA dos bombeiros voluntários, Joinville só tinha uma Unidade de Suporte Avançado, pertencente ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

“A USA do Samu não fica só em Joinville, ela atende toda a região: São Francisco, Garuva, Itapoá etc. Vai até Mafra. Por isso a nossa USA é tão importante, porque atende primordialmente Joinville. Mas o convênio está para acabar”, disse Kelm.

O comandante lamenta que, mesmo sendo a cidade mais populosa de Santa Catarina, Joinville tem apenas uma USA, enquanto Florianópolis tem quatro. “Para nós e para a comunidade, seria muito importante a permanência da USA na corporação”, enfatizou.

Transferência de unidade

Outro plano dos bombeiros para o futuro próximo, a fim de melhorar os atendimentos, é a transferência da Unidade 6, atualmente localizada em uma empresa no Floresta, para o bairro Paranaguamirim.

“A unidade ficará em um local mais estratégico para atender a zona Sul. Virando à direita, você sai na avenida Paulo Schroeder, e à esquerda, na rua São Paulo. Além disso, será um local maior e mais confortável.”

Em relação à frota, Carlos Kelm diz que já houve uma importante renovação. “Temos oito caminhões de incêndio novos e um caminhão de resgate veicular que foi trocado no ano passado.”

Ele, porém, afirma que uma das metas é renovar as quatro ambulâncias da corporação – três básicas e uma que está sendo utilizada como Unidade de Suporte Avançado.

“Elas têm três anos, mas rodam o dia inteiro e eu convenci a diretoria de que a vida útil delas é de três anos. Já estamos pensando em trocar as quatro atuais e talvez comprar mais uma ou duas. Essas ambulâncias saem de 10 a 15 vezes por dia, cada uma. Já extorqui demais a diretoria para comprar nove caminhões no ano passado. Eles dizem que sou chorão”, brincou o comandante.

Além do investimento recente em novos veículos, a corporação também adquiriu, no início do ano, R$ 300 mil em EPRs (equipamentos de proteção respiratória), como máscaras, cilindros, selas, além de roupas de aproximação.

Autossuficiência

O diretor-executivo da Associação dos Bombeiros Voluntários de Joinville, Matheus Cadorin, ressalta que o objetivo da corporação é tornar-se autossuficiente.

“A nossa intenção é não depender de dinheiro público para sobreviver. Hoje 75% de todo o nosso custeio vem de doações da comunidade e recursos próprios. Queremos alcançar 100%, e então todo dinheiro público que entrar será usado em investimentos.”

Entre as fontes de renda da corporação, está a grife própria Heroyz, que, segundo Cadorin, acabou de adicionar uma coleção nova de itens.

Matheus Cadorin, diretor-executivo da Associação dos Bombeiros Voluntários de Joinville | Foto: Divulgação

“Estávamos muito fortes no vestuário, mas agora temos caneca, squeeze de academia, relógios, óculos de sol e até uma moto elétrica. Também temos algumas parcerias, porque passamos a trabalhar com royalties. Grandes empresas da cidade fabricam uma linha exclusiva dos Bombeiros Voluntários, com nossa logo, e parte da arrecadação vem para a corporação.”

O diretor celebra os resultados obtidos pela instituição, que foi eleita, em dezembro de 2021, a melhor ONG de Santa Catarina, pelo prêmio Melhores ONGs.

“Ganhamos também um selo de gestão A+, que é de transparência e gestão eficiente, então a administração da corporação vem acompanhando a evolução do operacional. Temos orgulho de dizer que a instituição é completa: é boa de gestão e de serviço.”

Celebração dos 130 anos

Cadorin conta que, em 2022, seria realizado o desfile de 130 anos, em que ocorreria a apresentação da nova frota e também do caminhão 01, um Chevrolet de 1923, mas devido ao avanço da pandemia, o evento foi cancelado.

Entretanto, ele ressalta que outros eventos estão garantidos: o Hambúrguer do Bombeiro Mirim, a própria celebração do aniversário da corporação, no dia 13 de julho, e a corrida dos bombeiros voluntários, com uma expectativa de 2 mil atletas.

“Estamos planejando outras atividades. Faltam alguns acertos finais com apoiadores e patrocinadores, mas iremos lançar ao longo do ano.”

Museu do Bombeiro Voluntário

O diretor-executivo também destaca que a corporação recebeu e aprovou o projeto do Museu do Bombeiro Voluntário, que ficará no prédio histórico, na unidade 1.

“É um projeto muito bonito, feito por um escritório especializado em museus. Agora estamos na fase de precificação dos itens, para que possamos apresentar este projeto para um edital cultural nacional.”

Segundo Cadorin, a ideia é transformar a Unidade 1 em um ponto turístico oficial da cidade. “Quando atraímos as pessoas para dentro da corporação e contamos sua história e importância, mostrando números, conseguimos sensibilizá-las para que elas possam colaborar ou até ingressar em nossas fileiras.

Para os interessados em fazer parte da corporação, o diretor enfatiza que todos os anos são abertas inscrições para uma nova turma de voluntários.

“A procura é sempre bem grande. São em torno de 600, 700 candidatos para 40 vagas. O treinamento é longo, dura nove meses, e ali já vamos filtrando quem não vai conseguir, porque a atividade é pesada.”

Como pondera Cadorin, a missão de ser o primeiro a chegar em um evento de incêndio ou acidente, para tirar alguém das ferragens, não é simples. A atuação dos bombeiros requer determinação e coragem. Coragem que há 130 anos, por amor a Joinville, homens e mulheres nunca deixaram de demonstrar.

 

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