A clarinetista argentina Estefania Spector participou do Festival de Música de Santa Catarina (Femusc) pela primeira vez em 2011, como aluna de clarinete, quando tinha 23 anos, e retornou ao festival somente este ano. Mas, a sua ausência no evento tem um motivo, ou melhor, dois motivos: é que neste intervalo de 12 anos, ela teve seus filhos Aloan e Leon. “Com duas crianças pequenas ficou muito difícil para vir da Argentina ao Brasil”, conta.
Mas, agora que Aloan já tem dez anos e Leon, oito (ele completou seus oito anos no dia 13 de janeiro, em pleno Femusc), Estefania tomou coragem e veio. Foram 30 horas viajando de ônibus para vir de Buenos Aires até Jaraguá do Sul. Separada do pai das crianças, foi a primeira vez que saiu do país com os filhos. Ela destaca que, para isso, teve o apoio do idealizador e diretor-artístico do Femusc, o maestro Alex Klein.
“Falei para o Alex ‘acho que não vou, mas ele disse venha, tem que vir’. Fiquei muito feliz porque me senti abraçada, acolhida”, destaca. “Uma mulher sozinha, com os filhos, tem receios de incomodar… e existe um preconceito de que mãe não pode fazer nada”, diz ela. Em Jaraguá do Sul, os três estão ficando em um apartamento alugado somente para o período do festival, que vai até o próximo dia 28.
Ambiente multicultural
Quando esteve aqui, em 2011, Estefania se encantou com o Femusckinho, um programa de ensino musical do Femusc, destinado a crianças com idade entre seis e 12 anos, que terá início na próxima semana. E é claro que Aloan e Leon irão participar das aulas. “Tenho certeza de que eles não vão esquecer desta experiência”, diz, se referindo ao ambiente multicultural do evento, que reúne pessoas de vários cantos do mundo, com diferentes idiomas.
Aloan estuda violino desde os quatro anos. Aprendeu a ler partitura antes de aprender a ler as letras. Leon estava aprendendo a tocar violoncelo, mas agora ele está aprendendo piano, talvez por influência do avô, já que o pai de Estefania é pianista.
Amor pela música começou na infância
Estefania também começou na música ainda criança. Aos seis anos, ela tentou o violino, mas o professor era um russo que não falava espanhol. A pouca idade e um professor que não falava sua língua, a fez perder o estímulo pelas aulas. Depois cantou em coral de crianças e, aos 12 anos, foi para o conservatório em Buenos Aires, onde conheceu o seu professor de clarinete. “Acho que é muito importante a relação entre o aluno e o professor. Mesmo que você ame um instrumento, esta relação entre aluno e professor é decisiva para o aprendizado”, destaca.
Ela toca clarinete moderno e, agora, no Femusc, está fazendo aulas de clarinete clássico (instrumento que surgiu no século 17) com o professor do Reino Unido, Thomas Carroll, especialista em música antiga, conhecido mundialmente, e que também participa do Femusc. “No meu país não tem este instrumento e nem pessoas para ensinar a tocá-lo”, observa.
De manhã Estefania participa das aulas de clarinete clássico e, à tarde, dos ensaios. Sua primeira subida ao palco nesta edição do festival será no domingo (15), quando se apresentará com outras duas alunas de clarinete brasileiras, uma delas de Jaraguá do Sul e outra de Florianópolis.
Viver de música
Na Argentina ela foi selecionada, por meio de um concurso, para integrar uma orquestra. Assim, a paixão pela música se tornou sua fonte de sustento, já que os músicos da orquestra são remunerados. Ela destaca que sua experiência no Femusc em 2011 e a participação na orquestra baiana Neojiba (Estefania morou um tempo na Bahia, onde conheceu o pai dos seus filhos), contribuíram para que ela conseguisse passar no concurso para integrar a orquestra.
“Hoje eu estava conversando com o Alex [Klein] e disse que não é comum um festival tão grande e sólido como o Femusc, com uma estrutura tão boa e que se mantém há tantos anos. Em geral os eventos ocorrem uma vez e fica difícil de continuar o projeto”, conta.
Esta edição do Femusc, que também se distingue por ser o maior festival-escola da América Latina, está sendo a maior de todas em número de participantes, com mais de 900 músicos dos cinco continentes. Perguntada se virá nas próximas edições do festival, ela brinca: “Pretendo me aposentar aqui!”
O Femusc é realizado na Sociedade Cultura Artística (Scar) e em diversos pontos da cidade de Jaraguá do Sul, como no shopping e no lar de idosos. Todas as apresentações têm entrada gratuita, bastando retirá-los na secretaria da Scar, com 48 horas de antecedência.