Uma volta pelo calçadão e os olhos são fisgados pelo grande número de lojas dos mais variados segmentos. Não há dúvida do poder e da força do comércio no Centro de Jaraguá do Sul, mas nem só de compras é feito o bairro que, embora não pareça em um primeiro momento, possui mais de 9,2 mil habitantes.
Para o diretor do Instituto Jourdan, Luís Fernando Marcolla, é indiscutível que hoje, o Centro da cidade é misto, porém, a tendência é que a imagem de comércio pulsante se intensifique cada vez mais.
“A tendência é que fique cada vez mais comercial e menos residencial. O processo natural de crescimento das cidades é de o Centro ir cada vez mais para a área comercial”, afirma.
E é justamente as novas demandas que exigem soluções diferenciadas. Neste contexto, muito se fala do projeto de revitalização do Calçadão da Marechal e da área central, que teria como objetivo organizar a região ao mesmo tempo que preserva o patrimônio histórico do município. Porém, o projeto ainda é uma realidade distante, garante Marcolla.
Segundo o diretor, o que existe são estudos que apontam possibilidades. Enquanto esse planejamento é desenvolvido – com prazo até o final do próximo ano -, há uma linha de crédito que pode viabilizar a efetividade do projeto de revitalização.
O financiamento com a CAF (Corporação Andina de Fomenta) é uma realidade, explica Marcolla, mas ainda há etapas a serem vencidas. “Está para acontecer mais uma reunião nas próximas semanas, em tese, até o final do ano deveria estar tudo resolvido”, completa.
Entre os assuntos para essa revitalização estão mobilidade urbana, ruas, ciclovias, calçadas, uso do espaço do calçadão e trânsito.
“Precisamos ajustar às novas demandas. A cidade cresce e as demandas mudam”, afirma o diretor.
Aumento da ocupação precisa ser avaliado
Outra discussão que deve ser motivo de audiências públicas e fazer o poder público se debruçar sobre o assunto é o zoneamento e o código de obras da região, explica Marcolla. O diretor afirma que a tendência de todos os municípios médios e grandes é adensar mais o Centro e hoje, em Jaraguá do Sul, segundo ele, o índice de adensamento médio gira em torno de 4% ao ano.
“Essa questão do adensamento e da verticalização precisa ser muito pensada, afinal, na região central cada quadra tem uma situação distinta. Enquanto em algumas há bom fluxo, em outras é impossível aumentar o fluxo de veículos”, lembra.
Para o diretor, o Centro tem algumas outras características particulares que precisam ser defendidas e que merecem atenção do poder público.
“É uma área que ainda carece de mais espaços verdes, precisamos tentar preservar tudo que for possível de áreas verdes, que são bem escassas”, releva.
Um dos pontos que precisa de atenção na questão ambiental, afirma, é o Morro do Carvão, área verde situada atrás do Colégio Marista São Luís. “Precisamos pensar na preservação da mata ciliar do rio Itapocu e ampliar as praças, espaços públicos. Tudo isso temos que ter como foco sempre”, completa Marcolla.
Jaraguaenses exaltam desenvolvimento da cidade
Praticamente todos os dias é fácil saber onde encontrar o aposentado Sérgio Silva, que dos 62 anos de vida, está há seis décadas em Jaraguá do Sul. Paranaense de nascimento, o coração já é inteiramente jaraguaense.
E as lembranças são tantas que diariamente ele as compartilha com os amigos, sentado em um dos muitos banquinhos espalhados pelo Calçadão. “Aqui é o nosso ponto de parada, é aqui que a gente coloca a fofoca em dia”, brinca.
Enquanto Sérgio conta com detalhes como era o Centro quando a família chegou a Jaraguá do Sul, o movimento aumenta ao seu redor hora após hora.
Com um comércio efervescente, o calçadão é o coração quando o assunto é direcionado a compras e, para o aposentado, isso é apenas uma demonstração do quanto a cidade cresceu nas últimas décadas. “Quando eu era criança, isso aqui era tudo mato e barro”, ri.
Satisfeito ao contar como pôde ver o município crescer, evoluir e desenvolver, Sérgio lembra da infância, quando as ruas eram de barro, a estação de trem funcionava e tudo chegava pelos trilhos.
O comércio, hoje intenso, se limitava a poucas portas abertas, as mesmas que hoje se consolidaram como marcas fortes, históricas e genuinamente jaraguaense.
A projeção do aposentado é de que o município cresça ainda mais nos próximos anos. “Até a década de 70 só tinha um sinal [semáforo] na cidade. O comércio se limitava ao Breithaupt, Grubba e algumas lojinhas e olha como está isso aqui hoje”, diz.
Frequentador assíduo do Centro da cidade, Sérgio, que é morador da Vila Lenzi, faz bom uso do espaço público que é, inclusive, alvo de elogios do aposentado. As ruas, calçadas e ciclovias, muito diferentes daquelas com as quais a família se deparou quando chegou à cidade, são utilizadas quase que diariamente na caminhada rumo ao banco.
Além de elogiar a estrutura de mobilidade, a segurança é ponto fundamental para o crescimento da cidade. “Eu posso caminhar tranquilamente pra vir até aqui, você pode sair de noite sem medo. Tem assalto? Até tem, mas são casos isolados”, avalia.
Apesar disso, ele vê que é necessário observar com cuidado os efeitos da tão comentada crise econômica. Segundo ele, diversas lojas fecharam as portas nos últimos meses no Centro e, embora não tenha afetado significativamente, é bom “ficar de olho”.
Por outro lado, a fama de cidade com bons índices de segurança, educação e com qualidade de vida, atrai investidores e moradores, analisa Sérgio. “Todo mundo vê a cidade como um filão de ouro”, completa.
Para o aposentado, talvez a única questão que careça de atenção. “Talvez o trânsito poderia melhorar, mas isso não tem muito o que fazer, é o ônus do crescimento, não tem muito para onde correr”, analisa.
Assim como Sérgio, as décadas passaram rápido desde que o aposentado Ilário Dogg se mudou para o Centro de Jaraguá do Sul. Aos 70 anos, ele é presença frequente no calçadão, onde costuma caminhar para “desenferrujar”.
Para ele, o Centro estimula as pessoas a ocupar os espaços públicos, uma vez que proporciona bem-estar a quem costuma caminhar e utilizar os locais destinados para uso comum. “Eu costumo observar bem as coisas, sabe? E vejo que está tudo muito bonito, não dá para nem pensar em reclamar”, avalia.
Além disso, a segurança do Centro, salienta Ilário, é um convite para que os jaraguaenses, moradores do bairro como ele ou não, frequentem o Centro e todas as opções que oferta. Apesar disso, na visão do aposentado, nos últimos anos vem caindo o número de moradores do Centro, enquanto o número de comércios cresceu proporcionalmente.
“Mudou bastante, não tem mais muita moradia, as pessoas foram embora daqui para os bairros. E as que ficaram vivem em prédios que antes eram muito poucos. Já o comércio cresceu muito”, finaliza.
Quem veio de fora não quer sair
É possível que o ponto de táxi da praça Ângelo Piazera seja tão antigo e tradicional quanto o próprio espaço público. Quem passa por ali vê, todos os dias pela manhã, uma figura já conhecida. Os cabelos brancos não escondem a idade e muito menos as histórias vividas em solo jaraguaense.
O taxista Nelson Nando Scarpato praticamente faz parte do cenário da praça mais famosa da cidade. Dos 73 anos, 40 se passaram no local que, quando ele chegou, era muito diferente. A antiga prefeitura dá o tom do peso histórico. Sentado no banco do ponto e do carro branco, Nelson viu a cidade mudar diante dos seus olhos.
Ele conta que a rua Quintino Bocaiuva era “uma ruazinha de paralelepípedo”, uma das únicas três ruas pavimentadas com calçamento na cidade. “Aqui era a prefeitura, o Fórum era ali em cima, tudo aqui”, lembra.
A principal mudança, afirma o catarinense de Pedras Grandes, no sul, é a estética do Centro que antes era dominado por casas baixas e hoje, se caracteriza pelo comércio e construções verticais.
Além disso, a ocupação da cidade foi, ano após ano, fazendo com que a estrutura se solidificasse e permitisse o desenvolvimento de Jaraguá do Sul.
“A Reinoldo Rau, uma das principais ruas do Centro hoje, antes era uma baixada, não tinha nada”, conta.
Para o taxista que construiu a vida em Jaraguá do Sul, a cidade deve continuar em franca expansão e a acolhida dos jaraguaenses é parte fundamental. “Hoje eu não troco mais Jaraguá do Sul por outro lugar”, decreta.
Moradores sentem falta de ruas arborizadas e cuidado com calçadas
Todos os dias Marili Murara, de 57 anos, faz o mesmo percurso com a pequena Vichi, de quatro anos. A cachorrinha tem a caminhada matinal interrompida apenas quando a calçada fica perigosa, garante a aposentada que mora há 10 anos na Clemente Barato, no Centro da cidade.
Para ela, o bairro melhorou significativamente no último ano, no que diz respeito a estruturas, como saneamento básico, limpeza e manutenção, mas ainda deixa a desejar quando o assunto é urbanismo.
“Uma coisa que ainda está perigosa é a calçada, tu vai caminhando e quando vê cai em um buraco”, reclama. Além disso, ela ressalta a importância da arborização para a cidade, item que ela sente falta. “Quase não tem árvore na cidade e as que têm eles arrancam”, completa.
Apesar disso, ela não tem a menor intenção de trocar o bairro por outro local, afinal, existem muitas facilidades, ela aponta, entre elas está justamente o “fazer tudo a pé”. “Tem tudo aqui pertinho, não tem muito o que reclamar”, garante.
Trem segue como vilão do trânsito
Há três anos, todos os dias Mayara de Almeida da Silva chega na rua Reinoldo Rau para trabalhar. Uma das principais vias do Centro da cidade, é ali que a jovem de 20 anos trabalha.
Para ela, embora ainda seja residencial, o Centro se tornou majoritariamente comercial, o que impulsiona o movimento do local. “O pessoal vem comprar, vem passear com a família nas praças e áreas abertas, o que acaba movimentando”, diz.
A única observação contrária ao bom ambiente do Centro, diz Mayara, é com relação ao trânsito que se forma devido à linha férrea que corta o bairro. “O trem atrapalha bastante. Para tudo”, finaliza.
O trem, que foi uma dos responsáveis por definir a área como o centro da cidade na época da colonização, hoje acaba sendo um inconveniente para o fluxo de veículos e pedestres nos horários de pico. Ruas principais como a Reinoldo Rau, Marechal Deodoro da Fonseca e Henrique Piazera são bloqueadas pelos vagões.
O projeto do contorno ferroviário de Jaraguá do Sul – que tiraria os trilhos do trem da área urbana, em um traçado semelhante ao do contorno da BR-280 – entrou inúmeras vezes em pauta.
No ano de 2000, um projeto chegou a ser criado pela Prefeitura de Jaraguá do Sul orçado em R$ 100 milhões para reconstruir 23 quilômetros de trilhos, mas nunca saiu do papel. A possibilidade ainda é citada como pauta para o desenvolvimento de Jaraguá do Sul por entidades e associações.
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