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O papel do professor frente aos desafios da tecnologia na educação

Professora de Língua Portuguesa, Vanessa Fernandes Diniz Barboza | Foto: arquivo pessoal

Por: Elisângela Pezzutti

15/10/2025 - 06:10 - Atualizada em: 15/10/2025 - 10:48

No atual cenário da educação, marcado por avanços tecnológicos acelerados e um cotidiano onde os alunos estão excessivamente conectados com a internet, o papel do professor se reinventa a cada dia. Mais do que nunca, ensinar ultrapassa os limites do quadro e giz e exige criatividade, sensibilidade e escuta. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a homenagem vai além da celebração: é também um convite à reflexão sobre o ensino em tempos digitais.

A reportagem do OCP conversou com três educadores que atuam em diferentes níveis de ensino para entender como a tecnologia impacta a sala de aula e quais caminhos vêm sendo trilhados para manter o vínculo com os estudantes. Os depoimentos revelam desafios, mas também grandes possibilidades que se abrem quando a educação é conduzida com afeto e compromisso.

Equilíbrio entre a tecnologia e os métodos tradicionais

A professora de Língua Portuguesa, Vanessa Fernandes Diniz Barboza, atua na área da educação há 14 anos e atualmente leciona Língua Portuguesa para turmas de 8º e 9º anos, nas escolas municipais de ensino básico Rodolpho Dornbusch e Waldemar Schmitz.

Para ela, a tecnologia e a internet transformaram a educação e trouxeram muitas facilidades, mas o seu uso exige equilíbrio. “Percebo que muitos alunos já não se sentem tão motivados por atividades que não envolvam nenhum recurso digital. Mas, mesmo com todo esse avanço, há habilidades importantes que precisam ser desenvolvidas por meio de métodos mais tradicionais. O desafio é encontrar esse ponto de equilíbrio”, diz.

Vanessa observa que, hoje em dia, os alunos têm mais dificuldade em manter a atenção por longos períodos. A distração é constante, e há uma certa urgência por resultados rápidos. Eles querem tudo “pra ontem”, o que acaba interferindo na paciência e concentração necessárias para aprender de forma mais aprofundada.

“Assim, textos mais longos ou atividades que exigem mais foco já não despertam tanto interesse. Além disso, muitos alunos questionam a utilidade do que aprendem e acham que não vão usar isso na vida adulta. Por isso, precisamos diariamente pensar em maneiras de motivá-los e mostrar a relevância do conteúdo de forma atrativa”, conta a professora, completando que a tecnologia pode ser uma grande aliada. “Isso foi mostrado claramente em eventos como a Feira de Matemática, Ciências e Tecnologia, que revelou trabalhos inspiradores e incríveis com o uso de recursos digitais”.

Vanessa reforça a necessidade do professor pensar diariamente em maneiras de motivar os alunos, mostrando a relevância do conteúdo de forma atrativa | Foto: arquivo pessoal

 

No dia a dia, Vanessa usa com frequência o projetor para apresentar exercícios, imagens, vídeos e conteúdos interativos, além de propor atividades em que os alunos criam vídeos e ilustrações com apoio de ferramentas de inteligência artificial (IA). “O Google Sala de Aula também é uma ferramenta que emprego para tornar as atividades mais dinâmicas. Sempre busco mesclar o digital com o tradicional, para manter o engajamento e o aprendizado”.

Considerando esse cenário digital cada vez mais presente, Vanessa acredita que a “reinvenção” é a palavra-chave para o futuro da educação. “O cenário escolar mudou, os alunos estão mais questionadores e, muitas vezes, mais resistentes às rotinas. Cabe a nós, professores, buscar novas estratégias para manter a qualidade do ensino, desenvolver o senso crítico e ajudar os estudantes a fazerem boas escolhas nesse mundo tão conectado. Precisamos estar abertos às mudanças, sem perder de vista aquilo que é essencial na formação de cada um”, finaliza.

Capacitação tecnológica dos professores e didática

A professora Gisele Fischer atua no magistério há 25 anos e há 14 anos leciona no Colégio Marista São Luís, para crianças na faixa etária de 8 e 9 anos. Ela conta que é possível perceber um aumento na ansiedade, falta de interesse na leitura, mais imediatismo e até casos de depressão e baixa autoestima nas crianças, devido à comparação com o que veem nas redes sociais. “A hiperconectividade também afeta a socialização, pois prejudica o desenvolvimento do diálogo e das relações sociais. Além disso, enfrentamos o desafio em prender a atenção dos estudantes”, diz.

Ela destaca que a didática da aula é que vai determinar se os alunos prestarão ou não atenção nas aulas. “Propostas motivadoras, a escuta e a presença ativa do professor trazendo conteúdos relevantes, tornando o aluno participativo e ativo, utilizando metodologias diversificadas, criando um ambiente seguro e acolhedor, faz com que o aluno participe e se envolva em todo o processo pedagógico”, afirma.

Gisele afirma que a tecnologia, quando bem utilizada, desenvolve habilidades essenciais, como autonomia e pensamento crítico nos alunos | Foto: arquivo pessoal

 

Gisele defende que a tecnologia é uma grande aliada no processo educacional e que, para isso, o professor e a escola precisam se adaptar constantemente. “Sabendo aproveitar os novos recursos em nossas aulas, eles se tornam grandes aliados”, diz a professora, que faz uso de jogos matemáticos para auxiliar na fixação do conteúdo e também utiliza plataformas como o Canva, onde cria cartazes com os alunos sobre temas variados.

A professora ressalta a importância da atualização do colégio e da formação e capacitação tecnológica dos professores. “Precisamos acompanhar o progresso e o desenvolvimento da sociedade, não podemos parar no tempo, enquanto nossos estudantes estão avançando. A tecnologia, quando bem utilizada, desenvolve habilidades essenciais, como autonomia e pensamento crítico, preparando os alunos para a vida”, conclui.

A tecnologia pode ser boa ou ruim, dependendo do seu uso

João Otávio Garcia atua como professor de Física desde 2016 e atualmente leciona no IFSC, onde dá aulas para jovens e adultos. Ele acredita que os impactos da tecnologia são diversos, tanto positivamente quanto negativamente. “Não podemos nesse momento escolher entre nos tornarmos ‘tecnófilos’ nem ‘tecnófobos’. Ao mesmo tempo que a hiperconectividade ajuda em muitas situações de pesquisa e contextualização, por exemplo, ela atrapalha no sentido de que ‘nunca desligamos ou paramos para pensar com calma nas coisas’. Ou seja, o impacto é dialético: é bom e ruim ao mesmo tempo, pois depende das intencionalidades que temos com o uso de tecnologias, sobretudo na escola”, diz.

O professor afirma que nunca teve problema com a falta de participação e atenção dos alunos em suas aulas e que a chave para isso sempre foi a mesma: mostrar afeto e envolvê-los em questões da Física, infusionadas de questões sociais agudas, que se encontram como “problemas em aberto”, e que nota que a atenção e a entrega dos alunos, no sentido de se dedicar à atividades coletivas, por exemplo, parece ter melhorado.

João (ao centro na foto) destaca a importância do afeto no processo de ensino e aprendizagem | Foto: arquivo pessoal

 

“Então, para resumir, penso que podemos dizer, com muita cautela, que as interações sociais de comunicação coletiva parecem estar ficando cada vez mais ricas, em sentido de troca. Acho que, mais uma vez, temos uma questão complexa, nem só boa e nem só ruim. De um lado, os jovens estão mais ligados e preocupados em conseguir ‘provar’ ou ‘sustentar’ afirmações, o que às vezes é feito usando dados falaciosos (fake news), mas ainda assim existe o movimento de ‘vamos corroborar ou refutar isso que está sendo dito'”, diz João, ponderando que, por outro lado, é algo que também pode gerar ansiedade, no sentido de produzir uma “autocobrança” de estar sempre certo.

O professor finaliza afirmando que é essencial que, cada vez mais, se invista na dimensão afetiva, sobretudo na relação entre professores, estudantes e tecnologia. “Acredito que cada vez mais é necessário entender que o professor ensina-aprende e o estudante aprende-ensina, ou seja, ambos estão na prática educativa para ensinar-aprender de maneira afetivamente conectada”.

 

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Elisângela Pezzutti

Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.