Mulher: o sexo “frágil” que não foge à luta

Mirian com as filhas Luna e Pillar (à esquerda) e Maria Madalena com a filha Victória | Fotos: Arquivo pessoal

Por: Elisângela Pezzutti

08/03/2024 - 07:03 - Atualizada em: 08/03/2024 - 12:25

Neste 8 de Março celebramos o Dia Internacional da Mulher, embora ainda não haja tantos motivos para comemorar. Em pleno século 21, a desvalorização do sexo feminino ainda impera na sociedade e um exemplo bem claro disso é a desigualdade salarial que persiste entre homens e mulheres – não bastasse a dupla ou tripla jornada a que elas estão sujeitas ao terem que buscar o sustento ao mesmo tempo em que precisam também cuidar da casa e dos filhos.

Como bem disse a cantora Rita Lee em uma de suas canções, o “sexo frágil não foge à luta”. E nem pode, mesmo naqueles dias que a natureza reservou somente às mulheres. E que todo mês ela enfrenta, trabalhando, cumprindo horários e obrigações, estando ou não bem.

Hoje, o OCP conta a história de duas mulheres que lutam contra duras adversidades em busca de uma vida melhor: Maria Madalena Almuas, de 39 anos, e Mirian Bento dos Santos, de 29 anos. Acompanhe!

Uma mãe solo movida pelo desejo de um futuro melhor para suas filhas

Mirian é natural de Registro (SP). Ela é mãe de 2 filhas pequenas – Luna, de 4 anos, e Pillar, de 7 meses. Ela conta que veio para Jaraguá do Sul em busca de emprego e de uma vida melhor. Seus irmãos já moram aqui há alguns anos e trabalham na WEG. “Sempre falavam muito bem da cidade. E nessa época as condições de vida em São Paulo não estavam boas. Faltava trabalho, estava difícil para pagar aluguel, então eles me chamaram pra vir pra cá. O pai das minhas filhas fez uma inscrição online na WEG, passou e veio. Depois de um tempo eu vim. Isso foi em 2021 e eu só tinha a Luna. Aqui a batalha continuou. Acabei engravidando da Pillar. Em seguida, ainda grávida, me separei. Desde então cuido das minhas filhas sozinha”.

Ela diz que sempre lhe ensinaram que o certo era casar, ter filhos e que assim a vida estaria completa. Os estudos sempre foram deixados de lado. “Mas depois que tive a segunda filha eu percebi que só a educação vai me levar onde eu quero chegar, senão eu só vou trabalhar em subempregos, ganhando pouco”, diz Mirian.

Aqui em Jaraguá do Sul ela continua vivendo com muita dificuldade, mora em uma casa alugada no Bairro Baependi e chegou a trabalhar em um hotel, mas quando terminou a licença-maternidade da segunda filha teve que desistir do emprego porque não tinha com quem deixar o bebê. Fez inscrição na creche, mas até hoje não conseguiu uma vaga.

Mirian cuida sozinha de Luna, 4 anos, e Pillar, de apenas 7 meses | Foto: Arquivo pessoal

 

Atualmente a sua fonte de renda é o Bolsa-família e um valor que recebe do pai das meninas, que varia entre R$ 200 e R$ 300, porém, é uma ajuda financeira que não vem todos os meses. Eventualmente, Mirian tenta revender algum tipo de produto para ganhar algum dinheiro.

“Mas eu vim para cá procurando oportunidades, crescimento, e acabei encontrando porque foi aqui que eu entendi de verdade que os estudos, o conhecimento, a educação, a informação transformam e nos levam para longe. Eu tenho duas filhas e eu não quero que as alternativas de vida delas sejam as mesmas que eu tive morando lá no sítio, no interior de São Paulo”, reflete.

Mirian está fazendo EAD de Técnico em Recursos Humanos no Senac, com previsão de término para dezembro de 2024. Suas filhas são a maior motivação para ela correr atrás de seus sonhos.

Superando dificuldades financeiras e sérios problemas de saúde

Maria Madalena é mãe de Victória, uma adolescente de 17 anos. Ela se separou quando a filha tinha 4 anos. Finalizou o Ensino Médio em 2023 no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), pois precisou abandonar os estudos quando era jovem para trabalhar e ajudar no sustento da casa. Em fevereiro deste ano, começou a cursar Pedagogia na Unisociesc, com bolsa de estudo parcial.

Em um segundo momento, quando começou a estudar novamente, aos 21 anos, engravidou e optou por se dedicar à filha. “Cuidei dela e trabalhei, pois era uma outra responsabilidade. E quando decidi voltar aos estudos, em 2015, fui acometida por um câncer. Minha vida virou de cabeça para baixo. De início conseguia trabalhar. Mas, a médica pediu que eu fizesse o mínimo de esforço para estar bem para as sessões de quimioterapia. Não pude voltar aos estudos pois estaria no meio de muitas pessoas e minha imunidade estava muito baixa”, conta .

Foram 5 anos fazendo quimioterapia, até que em setembro de 2018 Maria Madalena passou por um transplante de medula. O tratamento terminou em 2020, mas deixou sequelas: dor crônica e neuropatia multifocal, uma doença progressiva que afeta os membros. “Sinto dores 24 horas. Tomo muitos medicamentos para amenizar a dor. Às vezes me obrigo a ir para o Pronto Socorro para receber morfina”, relata.

Maria Madalena (direita) com a filha Victória | Foto: Arquivo pessoal

 

De acordo com Maria Madalena, para o tratamento da neuropatia o médico especialista solicitou uma medicação que impede a evolução da doença – a imunoglobulina humana – mas a patologia não entra no Cid que o SUS fornece, então ela não consegue obtê-lo e cada aplicação custa R$ 16 mil. Ela também não tem recursos para fazer fisioterapia. Devido à doença ela recebe auxílio do INSS no valor de um salário mínimo mensal, mas paga aluguel.

“Consegui concluir o Ensino Médio com muita dificuldade devido às dores. Mas no Ceja peguei professores maravilhosos, que entenderam minha situação e me ajudaram nessa questão. Tinha dias que não conseguia ir para escola devido às crises. Este ano, iniciei a faculdade de Pedagogia. Será puxado, tanto pela questão financeira quanto pelas minhas condições de saúde, mas não irei desistir. Quero concluir o curso e fazer uma pós em Psicopedagogia para atender crianças com laudos. E, assim, tornar a vida das pessoas um pouco mais leve”, planeja Maria.

Incentivo para estudar

No último domingo (3), Mirian e Maria Madalena receberam prêmios no valor de R$ 1.500 e R$ 1.000, respectivamente, da Soroptimist Internacional das Américas, uma organização voluntária global que ajuda mulheres e meninas a terem acesso à educação e ao treinamento de que precisam para atingir a independência econômica.

A presidente das Soroptimistas de Jaraguá do Sul, Morgana Decker, explica que foi feita a divulgação do prêmio e as pessoas interessadas se inscreveram. Depois disso, uma comissão avaliadora, composta pelas voluntárias da entidade, selecionaram as histórias de superação mais inspiradoras. Em seguida, foram feitas entrevistas com elas e uma comissão entrou em consenso sobre as colocações. A bolsa de estudo parcial para Maria Madalena também foi uma parceria da Soroptimist com a Sociesc.

Mirian recebendo a premiação | Foto: Divulgação

 

Maria Madalena recebendo a premiação | Foto: Divulgação

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.