Morreu na noite deste domingo (10), aos 72 anos, o jornalista Ricardo Pereira, ex-diretor da Globo em Portugal. Há quatro anos, ele vinha tratando um câncer no pâncreas e no fígado.
A morte foi confirmada pela família, mas os detalhes do velório e do sepultamento não foram divulgados.
Ao longo de mais de 40 anos de carreira, o jornalista foi repórter de política e correspondente internacional da emissora, além de diretor. Em todas as funções, noticiou fatos de grande repercussão para o Brasil e o mundo.
Trajetória profissional
Ricardo Pereira chegou à Globo em 1977, como repórter do Jornal Nacional e do Fantástico. Antes, já tinha feito reportagens para a emissora como “freelancer”.
Em 1978, mudou-se para Brasília para acompanhar o processo de abertura política no país, iniciado pelo então presidente militar Ernesto Geisel.
Em 1980, o jornalista se tornou correspondente da Globo em Londres, onde cobriu eventos como o terremoto no Sul da Itália e a guerra entre Irã e Iraque – quando conseguiu uma entrevista com o ditador iraquiano Saddam Hussein.
Em 1983, passou a comandar o escritório da Globo em Londres. Em 1986, se mudou para a Itália, onde dirigiu o jornalismo da Telemontecarlo, então associada às Organizações Globo. Em 2006, ainda na Itália, tornou-se consultor da Globo para a distribuição do canal na Europa.
Em 2011, foi nomeado diretor da Globo Portugal, cargo em que permaneceu até setembro deste ano.
Aposentadoria e documentário
Mesmo após sua aposentadoria, Ricardo Pereira queria seguir registrando grandes histórias.
Nos últimos meses, estava preparando um documentário para o Globoplay sobre um diário de guerra que ele mesmo encontrou em uma viagem em 1983 às Ilhas Malvinas – território alvo de disputa entre a Argentina e o Reino Unido.
A guerra entre os países pelo comando das ilhas havia terminado um ano antes, em 1982. Pereira foi o primeiro repórter de TV não britânico com permissão para entrar no local.
“Nestas mesmas colinas, nós encontramos este diário de um soldado argentino, o soldado Adrian Sacheto. O diário do soldado Sacheto conta que no dia 30, já a bordo do navio, é que ele ficou sabendo para onde estava indo. Iam voltar as Ilhas Malvinas. Iam retomar dos ingleses, segundo os comandantes”, conta trecho do roteiro do documentário.
Mesmo na luta contra o câncer, o jornalista manteve a perseverança e a disposição para elucidar o que estava por trás do diário. A postura na elaboração do documentário é exemplo do profissionalismo de Ricardo Pereira.
Em depoimento ao projeto Memória Globo, Ricardo Pereira relembra algumas de suas principais coberturas ao longo da carreira. Confira alguns trechos:
Terremoto no Sul da Itália, em 1980: “Foi a cobertura mais dramática que eu fiz na minha carreira. Nunca tinha visto nada igual. Morte, destruição e dor causadas por uma mistura trágica de fatalidade e pobreza”, afirma.
Copa do Mundo de 1982: “Foi a Copa dos sonhos da TV Globo e de todos nós que participamos. Para ser perfeito só faltou combinar com os italianos. A Globo era exclusiva na Copa. Nós éramos 150 brasileiros cobrindo o evento na Espanha, uma Copa fantástica”, conta.
Malvinas pós-Guerra, 1983: “Conseguimos autorização do governo inglês para ir para as Malvinas. Eu fui com o cinegrafista Newton Quilichini. Vimos o absurdo que foi aquela guerra. As tropas inglesas conseguiram tomar Goose Green, que parecia uma cidade importantíssima na geopolítica das ilhas. Mas Goose Green são exatamente quatro casas e uma igreja. Achamos diários de soldados argentinos. Aquela operação militar foi um equívoco, morreu muita gente a troco de nada”, declara.
*Com informações do g1