A campanha Junho Laranja alerta para duas doenças importantes do sangue: a anemia e a leucemia. Ao OCP News, o médico oncologista pediátrico Dr. Hugo Martins de Oliveira explica os principais sintomas, tratamento e prevenção das condições.
Muitas pessoas acreditam que a anemia pode evoluir para leucemia, mas o Dr. Hugo deixa claro que isso não passa de um mito. Apesar de ambas serem doenças relacionadas ao sangue, não há a possibilidade disso acontecer. A anemia é um dos sintomas dos pacientes com leucemia e, por esse motivo, é necessário realizar exames específicos para não acabar achando que há a presença de uma doença, quando na verdade é a outra.
Vale destacar que as duas doenças possuem causas diferentes e, portanto, não é possível afirmar que a anemia pode evoluir para leucemia, mesmo que seja uma anemia profunda.
Anemia

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A anemia é a diminuição dos glóbulos vermelhos no sangue ou concentração de hemoglobina dentro deles menor que o normal. A hemoglobina é necessária para transportar oxigênio e, se tiver poucos glóbulos vermelhos, ou não houver hemoglobina suficiente, haverá uma capacidade diminuída do sangue para transportá-lo para os tecidos do corpo.
A anemia afeta principalmente crianças pequenas e mulheres grávidas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 42% das crianças com menos de cinco anos de idade e 40% das mulheres grávidas em todo o mundo são anêmicas. As causas mais comuns de anemia incluem deficiências nutricionais, como falta de ferro, deficiências em folato, vitaminas B12 e A; hemoglobinopatias, que são um grupo de doenças em que há alguma falha na produção da hemoglobina; e doenças infecciosas como malária, tuberculose, HIV e infecções parasitárias.
Os principais sintomas são cansaço, fraqueza, tontura, falta de ar, entre outros. A anemia por deficiência de ferro, conhecida como anemia ferropriva, também afeta o desenvolvimento cognitivo e físico em crianças e reduz a produtividade em adultos.
Também é a mais comum e é relativamente fácil de tratar por meio de mudanças na dieta. O ferro é um nutriente essencial para a vida e atua principalmente na fabricação dessas células vermelhas do sangue. Veja alguns alimentos que você pode encontrar esse nutriente:
- Carnes vermelhas, principalmente fígado de qualquer animal e outras vísceras (miúdos), como rim e coração;
- Carnes de aves e de peixes e mariscos crus;
- Agrião, couve, cheiro-verde, taioba;
- Feijões, fava, grão-de-bico, ervilha, lentilha;
- Grãos integrais ou enriquecidos;
- Nozes e castanhas, melado de cana, rapadura e açúcar mascavo.
Leucemia

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Já a leucemia é um tipo de câncer que acontece no sangue, quando alguns glóbulos brancos (responsáveis por combater infecções) perdem a função de proteger e são produzidos de forma descontrolada, acumulando-se na medula óssea e substituindo os glóbulos saudáveis. Ainda não se sabe qual a origem dessa anormalidade, sendo multifatorial, não podendo apontar uma causa específica. A leucemia é dividida em subtipos, sendo:
- Leucemia mieloide aguda (LMA): avança rapidamente e pode atingir tanto adultos quanto crianças, com maior incidência com o aumento da idade;
- Leucemia mieloide crônica (LMC): afetam as células mieloides e são chamadas mieloide ou mieloblástica, acomete adultos e, no início, desenvolve-se mais lentamente;
- Leucemia linfocítica aguda (LLA): se agrava rapidamente e é um tipo bem comum em crianças;
- Leucemia linfocítica crônica (LLC): afetam as células linfóides são chamadas de linfoide, linfocítica ou linfoblástica, e atinge pessoas com mais de 55 anos e também se desenvolve de forma lenta.
Os sintomas são comuns, como a fadiga e a fraqueza, perda de peso, dor óssea, excesso de transpiração noturna e febre, sangramentos, petéquias (manchas vermelhas na pele), gânglios inchados (especialmente no pescoço e axila), entre outros.
Ao identificar esses sinais, o paciente deve procurar um médico que irá fazer a avaliação e solicitar os exames pertinentes para investigação, como o hemograma, um exame simples e de custo baixo, demonstra como está o funcionamento da medula, com uma espelho da fábrica do sangue. Quando alterado pode ser necessário exames mais específicos como exame da medula óssea, indo diretamente na medula para coletar o material e analisar detalhadamente. O tratamento depende do tipo e do estágio do câncer, mas as terapias envolvem:
- Quimioterapia – uso de drogas que matam as células e inibe seu crescimento. Pode ser um único medicamento ou uma combinação de diferentes tipos. É o mais indicado para tratar a leucemia mieloide aguda e a leucemia linfocítica aguda;
- Radioterapia – por meio da radiação danifica as células e inibe seu crescimento. Não é muito utilizado para tratar leucemias;
- Transplante de células-tronco/medula óssea – substitui a medula óssea doente por uma saudável. Pode ser indicada para os quatro subtipos de leucemia;
- Inibidores ou terapia alvo – portadores de leucemia com alterações genéticas específicas que tem o benefício de utilizar as medicações que atuam no “alvo”, podendo ser associado a quimioterapia convencional ou isolado, dependendo do caso.
Em alguns casos pode ser necessário que paciente faça transfusão de sangue, quando a condição da leucemia for aguda.
Junho Laranja

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A campanha do mês de junho dirige-se à informação e prevenção sobre a saúde do sangue. Além de reservar um dia especialmente à importância da transfusão de sangue, o mês também traz em destaque as duas condições mais frequentes relacionadas ao sistema sanguíneo: a anemia e a leucemia.
Sobre o Dr. Hugo

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O médico oncologista pediátrico Hugo Martins de Oliveira tem uma história inspiradora: quando menino teve linfoma, foi curado e hoje é médico e cuida de crianças com câncer.
O médico fez residência em oncologia pediátrica 15 anos depois no mesmo hospital onde se tratou na infância: o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, no Paraná.
Ele sempre sonhou em ser jogador de futebol, mas aos 14 anos descobriu a doença juntamente com um diagnóstico errado em que o médico disse que lhe restavam apenas três meses de vida.
Parecia o fim, mas era apenas o seu começo. Durante o tratamento, Hugo decidiu que ia ser médico. Hoje, aos 35 anos de idade, carrega aprendizados da doença que enfrentou há mais de 20 anos. “Tenho um cuidado humano e individual com cada família, pois acredito que cuidar é além da cura”, declara o Dr.
Hoje ele se dedica à construção de um hospital oncopediátrico, pois ainda não existe em Santa Catarina um hospital de cuidado especializado em tratamento de crianças com câncer. O objetivo é levantar R$ 1 milhão em doações para construção da clínica.