Para os amantes do Carnaval, a festa representa a alegria e euforia do povo brasileiro, mas mesmo sendo uma das essências da cultura do país, a época de folia ainda sofre muito preconceito. Hoje, o OCP abre a série “Incompreendidos do Carnaval”, com histórias de jaraguaenses que têm em comum o amor pela festa.
“Não deixe o samba morrer”, é no ritmo da música de Alcione que Peri Querino da Cruz começa seus dias. Mesmo com 93 anos, ele não larga o fiel pandeiro e as alegres noites de samba.
Natural de Joinville, Peri veio para Jaraguá do Sul com 25 anos, mas se mudou para Curitiba após sobreviver ao acidente na fábrica de pólvora, em 1953.
Ele voltou para a cidade em 1970, onde começou a estabelecer um forte vínculo com o bairro Nova Brasília. “Quando cheguei no bairro, só tinha eucalipto”, destaca.
Unidos da Brasília
No mesmo ano, o Brasil estava no México para a disputa da final da Copa do Mundo. Peri e seus amigos fizeram uma promessa: se Pelé levasse a seleção ao tricampeonato, eles iriam sair pelas ruas batucando.
E não deu outra. Ao mesmo tempo que o Brasil fazia 4 a 1 na Itália, surgia a escola de samba “Unidos da Brasília”.
Sua esposa, Alcionei da Cruz, 90 anos, utilizava lençóis para preparar a ala das baianas. O filho de Peri, Sindei Luiz da Cruz, 61 anos, lembra que os desfiles da escola contavam com a presença de aproximadamente 300 pessoas e os instrumentos eram feitos de latão de diesel, que seu pai pegava do posto de combustíveis onde trabalhava.
Peri lembra que os primeiros desfiles eram totalmente diferente dos realizados nos dias atuais. Batucando e cantando, diversas pessoas passavam a semana inteira navegando o rio Jaraguá de canoa. As pessoas apreciavam a música das margens.
Hostilidade à festa
Prestes a falar sobre o preconceito que as pessoas têm com o Carnaval, Peri olha para a janela, respira fundo e diz: “Já sofri muitas ofensas por querer ser feliz”. Ele lamenta que as pessoas massacrem quem está desfilando ou apenas assistindo a festa.
“As pessoas enxergam apenas os exemplos ruins, mas esquecem da essência da festa”, destaca.
Ultimamente, as fantasias carnavalescas tendem a puxar bastante para o lado social, mas Peri conta que as ações sociais sempre estiveram presentes na festa, sendo importante para tirar jovens da marginalidade e coloca-lo para sambar ou tocar um instrumento.
“Aqui na região Sul não tem muito isso, mas em outros lugares as escolas de samba são usadas como uma ferramenta social, levando a festa para crianças e comunidades”, enfatiza.
Mas, por outro lado, Sidnei também também não esquece do preconceito que existia nas primeiras edições que participou. “No começo os salões eram divididos em dois, dos brancos e dos afrodescendentes”, relata o filho.
De geração em geração
Peri e Alcionei compartilharam o carinho pelo Carnaval com seus três filhos. Com 12 anos, Sidnei estava desfilando nas ruas centrais de Jaraguá do Sul em 1970 e presenciou os primeiros passos do Carnaval na cidade.
Em 1974, Sandra Regina da Cruz, 63 anos, foi a grande rainha do desfile jaraguaense. E sua irmã, Giane da Cruz, 48 anos, já era passista com apenas quatro anos. “Acredito que cultivar essa festa linda fez a nossa família viver mais feliz”, destaca Giane.
E tamanha animação vira até remédio. Recentemente, Peri sofreu uma queda e trincou o fêmur. Giane queria leva-lo ao hospital, mas como tinha uma festa no dia seguinte ele se negou. “Mesmo debilitado, ele ficou até a madrugada com seu pandeiro”, lembra Giane.
Aos 93 anos, ele continua cultivando o amor pela festa e, principalmente, pelo samba. “Não gosto de perder nenhuma roda de samba, adoro tocar meu pandeiro”, finaliza.
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