Esta é uma história de amor que superou o tempo e a distância. A jornada deste casal vai te emocionar – principalmente se você acredita em destino. Separados na juventude, os catarinenses Fenísio Pires e Tarcita Buratto se reencontraram para continuar a história de amor que se iniciou quando tinham apenas 15 anos de idade – lá em meados da década de 1960.
Após 49 anos de encontros e desencontros, juntos eles abrem o coração para contar essa história inspiradora, que vai te fazer voltar a acreditar no amor verdadeiro.
Moradores de Indaial, no Vale do Itajaí, o casal hoje vive cada dia intensamente na companhia um do outro, com muito amor. “Para mim foi inesperado, depois de tantos anos… parece que foi por Deus, um propósito. Estamos muito felizes, sabendo que é isso mesmo que queremos: terminar nossos dias juntos”, diz Tarcita.
O final a gente sabe que é feliz, mas esses catarinenses passaram por muitos perrengues, e seguiram caminhos muito diferentes antes de chegarem até aqui.
Amor adolescente na década de 60
Tudo começou em 1965, na pacata cidade de Bom Retiro, localizada na região serrana de Santa Catarina. Tarcita havia acabado de voltar de Urubici para continuar os estudos do Ensino Médio na cidade natal. E no momento em que Fenísio a viu na escola, foi amor à primeira vista.
“Quando eu a vi pela primeira vez, achei ela linda. Estudávamos na mesma sala de aula, mas eu era muito tímido! Apesar de ser adventista, quando descobri que todo domingo ela ia à missa, eu ficava lá na Igreja, esperando escondido, só para ver ela chegar”, relembra o catarinense.
Mas foi em 14 de setembro de 1966, após o desfile em comemoração ao Dia da Independência, que a vida dos dois se entrelaçou definitivamente. O tradicional desfile comemorativo teve que ser adiado para o fim de semana seguinte daquele mês, isso devido ao grande volume de chuva que caiu sobre a cidade no feriado.
A festividade coincidiu com a visita de um amigo à cidade, que foi rever a namorada em Bom Retiro. Esse amigo de Fenísio o convidou para ir junto neste encontro e, quando chegaram, a grata surpresa: Tarcita também morava lá, dividia a casa com a amiga.
Os quatro jovens conversaram por horas a fio na cozinha, até que o casal de namorados foi para a sala. Esta foi a oportunidade de os protagonistas desta história se conhecerem melhor. “Ficamos ali sentados conversando, mas eu estava muito nervoso e quase não conseguia falar. Até que ela tomou a iniciativa de me beijar; eu nunca tinha beijado ninguém. Naquela noite eu não dormi!”, diz Pires entre risos.
Foi inevitável, os jovens pombinhos começaram um belíssimo namoro, daqueles que até professores da escola apoiavam – alguns, inclusive, deixavam eles sentarem juntos em sala de aula. Mas qual a graça de um amor adolescente em 1960, se não fosse proibido? Apesar de Fenísio ser um jovem esforçado nos estudos e no trabalho, os pais de Tarcita não aceitavam o relacionamento, por isso namoravam escondido.
Meses depois, as coisas mudaram: uma noite, em meio a uma festa, uma jovem beijou Fenísio. Apesar de ele não ter correspondido, a cena foi suficiente para o fim da relação. Com o coração magoado, Tarcita resolveu se afastar.
Depois do “adeus”, vida que segue
Em busca de melhores oportunidades, em 1969, Fenísio se mudou temporariamente para Florianópolis. Por lá, descobriu os perrengues da vida de vendedor de enciclopédia; mas foi num desses dias, batendo perna em busca de novos clientes, que viu uma faixa chamando os jovens para servirem o exército em Brasília.
Ele topou o desafio de se alistar. Assim, em 1970, voltou para a pequena Bom Retiro, com o intuito de pegar a documentação necessária na junta militar da cidade. Quando soube que o amado estava de volta, Tarcita o chamou para conversar. Fenísio lembra bem daquele belo fim de tarde que passaram juntos; a paixão reacendeu. “Ela prometeu que ia me esperar, e eu saí de lá feliz da vida”, conta.
Enquanto o jovem Fenísio seguia carreira no quartel, se correspondia com Tarcita por meio de cartas. Todas sempre muito apaixonadas e com juras de amor. Mas a vida nem sempre segue os rumos planejados. A tristeza o abalou quando soube que ela iria casar – e assim aconteceu, no final de 1971. Naquele o mesmo ano, Fenísio mudou-se para servir no Rio de Janeiro e conheceu a esposa.
Coincidência ou não, ele teve três filhos – dois meninos e uma menina. Tarcita também teve três filhos, mas duas meninas e um menino. E apesar de cada um ter constituído a própria família e vidas completamente diferentes, nunca deixaram de saber um do outro, por meio dos amigos de infância.
Na década de 1990, os dois catarinenses sofreram a triste perda de seus respectivos companheiros. Após algum tempo, Tarcita sugeriu um reencontro, que aconteceu na rodoviária de Curitiba (PR) – ritual que se repetiu por três anos. Mas quando ela propôs que os dois ficassem juntos, Fenísio não correspondeu como ela gostaria e, novamente, eles se separaram.
Reencontro digno de cena de filme
Em 2019, aposentado, Fenísio havia deixado o Rio de Janeiro de vez para voltar a viver em Santa Catarina. Foi morar perto dos filhos, em Jaraguá do Sul, Norte do estado. Um dia, navegando pela internet, viu uma foto que Tarcita postou com as irmãs no Facebook, e resolveu comentar. A partir deste dia, eles voltaram a conversar.
“Eu nem sabia que ele estava em SC de novo. Fui para Curitiba visitar minhas irmãs e, depois da foto publicada, combinamos de nos encontrar. Fiquei dias pensando naquilo, e na semana seguinte viajei a Jaraguá do Sul para rever ele”, lembra Tarcita.
No dia combinado, Fenísio foi até a rodoviária encontrá-la. E este foi, definitivamente, um dos momentos mais mágicos da história do casal. “Foi surreal. Quando vi ela descendo os degraus do ônibus, empurrei o portão de embarque, e sai correndo para abraçar e beijar ela. Foi muito bacana, feito cena de filme”, conta Pires.
Após dias curtindo a companhia um do outro, decidiram morar juntos. Ficaram por bons meses em Jaraguá do Sul, até que a vida os levou a Palhoça, onde Tarcita já vivia há alguns anos, e, posteriormente, a Indaial.
Hoje, Fenisio Pires, com 73 anos, e Tarcita Buratto, 72, estão felizes e vivem intensamente o presente do reencontro. Sempre que podem, reúnem as famílias que constituíram ao longo da vida para comemorarem o amor.
“Nos damos muito bem e me sinto muito amada. Não é qualquer um que tem a oportunidade de ter uma história como a nossa”, finaliza Tarcita.
Assista ao vídeo e confira o poema escrito por Fenísio em 1966, dedicado a Tarcita: