Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Ícone da MPB: morre, aos 88 anos, o músico João Donato

Foto: Reprodução redes sociais

Por: Elisângela Pezzutti

17/07/2023 - 12:07 - Atualizada em: 17/07/2023 - 12:44

O cantor, compositor e instrumentista, João Donato, de 88 anos, morreu nesta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro. O artista enfrentava uma série de problemas de saúde e, recentemente, tratou uma infecção nos pulmões. De acordo com nota emitida pela assessoria, o velório será realizado no Theatro Municipal do Rio.

Ícone da MPB

João Donato de Oliveira Neto, conhecido como João Donato, nasceu em 1934 em Rio Branco, capital do Acre. A sua paixão pela música começou ainda na infância. Em 1945, a família se mudou para o Rio de Janeiro e suas primeiras apresentações no palco, ainda na adolescência, aconteceram em festas de colégio. Já a primeira gravação profissional foi como integrante da banda do flautista Altamiro Carrilho. Tempos depois, ele passou a trabalhar com o violinista Fafá Lemos, como suplente de Chiquinho do Acordeom.

O artista frequentou o Sinatra-Farney Fã Clube, na Tijuca, considerado por críticos como uma das principais escolas para a geração que anos depois criaria a Bossa Nova. Com apenas 17 anos, ele namorou Dolores Duran – que tinha 21 anos. À época, o relacionamento dividiu opiniões e desencadeou preconceitos em função da diferença de idade. Donato acabou terminando o namoro por causa de brigas familiares.

João Donato criou o próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, em 1953, e também integrou o grupo Os Namorados. Um ano depois, ele decidiu montar o Trio Donato. O artista mudou-se para São Paulo em 1956, quando atuou como pianista no conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar. O primeiro LP da carreira, “Chá dançante”, foi produzido por Tom Jobim e lançado na mesma época.

Parceiro de João Gilberto em turnê pela Europa

Ele retornou ao Rio de Janeiro anos depois, em 1958, e passou a dedicar-se ao piano. Um ano depois, o músico viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. A mudança para os Estados Unidos aconteceu logo em seguida, país em que viveu durante três anos. Donato trabalhou ao lado de nomes como Carl Tjader, Johnny Martinez, Mongo Santa Maria e Tito Puente no período em que morou no país norte-americano. Ele acompanhou João Gilberto durante uma turnê pela Europa.

Além dos limites da MPB

A volta para o Brasil aconteceu em 1962, já casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser, mas acabou retornando para os EUA – onde viveu por mais dez anos. Donato foi amigo dos principais nomes da bossa bova, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto e Johnny Alf. De volta ao Brasil, nos anos 1970, o músico atuou como arranjador de diversos álbuns. Ele também trabalhou com nomes como Caetano Veloso, Daniela Mercury e Gal Costa. Embora também tenha alcançado o posto de um dos principais nomes do movimento, Donato extrapolou os limites da música popular brasileira e explorou ritmos como jazz, samba e sons latinos.

Cultuado por grandes músicos

Donato ajudou a moldar a MPB nos anos 1960 e 1970 com a elegância do seu piano, e contribuiu com grandes clássicos, muitos com colaborações de peso na letra — como “A Rã” (Caetano Veloso), “Bananeira”, “A Paz (Leila IV)” e “Emoriô” (Gilberto Gil) —, mas não foi um medalhão midiático. Ele soube disso quando gravou “Quem é Quem” em 1973, no Brasil, após uma temporada nos Estados Unidos.

Com som próprio, meio bossa nova, meio jazz (mas sempre temperado com molho latino) foi cultuado por músicos, e o álbum, listado entre os 100 melhores discos brasileiros da revista “Rolling Stone”. Na hora de lançá-lo, ouviu do dono da gravadora que o trabalho não entraria no “esquemão” de outros artistas. “Então não vai ter nenhum esquema”, pensou Donato. “Um amigo meu me disse: ‘Se eu fosse você, pegava uma caixa de discos na divulgação, ia ao Outeiro da Glória [morro do Rio de Janeiro], jogava os discos lá de cima e pedia para a televisão filmar'”. Ele obedeceu. Com as câmeras apontadas, jogou cópias de “Quem é Quem” para o alto. “Lancei a meu modo”, relembrou, gargalhando, em entrevista uma entrevista concedida ao UOL em 2016.

Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.