Em um momento de despedida, nasce a oportunidade de transformar uma vida, ou até mais de uma. Nesta quarta-feira (8), o Hospital Municipal São José promoveu a captação de múltiplos órgãos, incluindo um coração, dois rins, um fígado e duas córneas em uma corrida contra o tempo para salvar vidas que mobilizou transporte aéreo e diversas equipes.
O coração, o segundo captado pelo hospital neste ano, foi levado a São Paulo por uma equipe do Instituto do Coração (Incor).
“A partir do momento em que a equipe saiu do hospital havia quatro horas para o coração voltar a bater no receptor. A logística precisa ser muito sincronizada”, explica Liliani Azevedo, coordenadora da Comissão Hospitalar de Transplantes do Hospital Municipal São José.
Do São José, o coração foi levado pelo helicóptero Águia, da Polícia Militar, até o Aeroporto de Joinville, de onde seguiu para São Paulo em uma aeronave solicitada pela Central Nacional de Transplantes. Já o fígado foi transportado para Blumenau, os rins para Florianópolis e as córneas para o Banco de Olhos de Joinville.
“Diante do sim dessa família, hoje um coração está batendo no peito de alguém que estava contando as horas para falecer, dois rins, um fígado e duas córneas para quem estava na escuridão. Então, são muitas famílias orando por esse doador e por essa família que disse sim”, destaca Liliani.
Em Joinville, o Hospital Municipal São José é referência no atendimento a casos de traumatismo craniano e acidente vascular cerebral, duas das principais causas de morte encefálica. Neste ano, até agosto, das 18 famílias de pacientes com possibilidade de doação atendidos no hospital, 12 autorizaram o procedimento, resultando na doação de 22 rins, 11 fígados, três pâncreas e um coração até então.
Família é responsável por autorizar a doação de órgãos
Segundo a legislação brasileira, apenas os familiares de primeiro grau, como pai, mãe, irmão, esposa e filhos, podem autorizar a doação de órgãos no caso de doador morto. Dessa forma, a principal recomendação é expressar em vida, para a família, o desejo de ser um doador.
A doação é possível apenas quando há diagnóstico de morte cerebral causada, por exemplo, por traumatismo craniano ou acidente vascular cerebral. Para atestar a morte, são realizados diferentes testes que têm o objetivo de verificar se há atividade cerebral e se o paciente apresenta reflexos. Apenas após a realização de todos os testes com resultados negativos é possível diagnosticar a morte encefálica.
“A conversa sobre a doação só pode acontecer depois do óbito confirmado, após todos os testes. E a palavra principal é cuidado: é preciso tato, sensibilidade. Só tocamos no assunto quando a família passou pelo momento da negação, quando houve entendimento sobre a morte”, afirma Liliani.
O receptor do órgão doado é definido conforme a lista única administrada pela Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes), que também organiza a captação e a logística até o receptor. A definição é feita de acordo com diversos fatores, como a compatibilidade entre doador e receptor, além do estado de saúde do paciente.