A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que oito em cada dez pessoas no mundo têm, já tiveram ou ainda irão sofrer com hérnia de disco. No Brasil, o problema também apresenta números impressionantes. De acordo com o Ministério da Previdência Social, a condição é a principal causa de afastamento por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença), com mais 51,4 mil beneficiários afastados do trabalho em 2023.
Os dados evidenciam não apenas a prevalência desse problema, mas também seu impacto na qualidade de vida e na produtividade das pessoas. Isso porque, a hérnia de disco tem como seu principal sintoma a dor local intensa. Associada a ela, outros incômodos também ocorrem, variando conforme a localização e a gravidade, como espasmos musculares (contrações involuntárias), rigidez na região afetada e a parestesia, que é a sensação de formigamento ou dormência, especialmente nos membros inferiores, no caso de hérnia lombar.
ANS autoriza reajuste de 6,06% em planos de saúde individuais e familiares
“Esses sinais são um alerta do corpo de que algo está errado, mas muitas pessoas convivem com dores por anos sem procurar ajuda. Estudos indicam que, em 76% dos casos, há histórico de dor lombar com mais de uma década de duração”, aponta o fisioterapeuta Alex Barros, professor do curso de Fisioterapia da UniSociesc.
Conforme explica Barros, a coluna vertebral humana é composta por uma série de ossos chamados vértebras, separados por discos intervertebrais. Esses discos têm a função de amortecer o impacto entre as vértebras, permitindo flexibilidade e mobilidade. Quando as fibras desses discos sofrem uma ruptura parcial ou total, ocorre a hérnia de disco.
“Esse disco é uma estrutura cartilaginosa, mais molinha, que evita o contato direto entre as vértebras. Quando ele se rompe ou sofre um deslocamento, forma-se o que chamamos de protusão ou hérnia propriamente dita”, explica o professor.
Embora essa condição possa ocorrer em qualquer divisão da coluna vertebral, desde a cervical até a parte sacral, a região lombar é a mais acometida. “As vértebras L1 a L5, na parte inferior da coluna, concentram a maioria dos casos”, afirma o fisioterapeuta. Isso ocorre porque essa região suporta boa parte do peso corporal e é constantemente exigida nos movimentos do dia a dia.
Mas, o que causa a hérnia de disco?
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o esforço físico excessivo não é o único ou o principal fator de risco. “Muita gente acha que a hérnia vem apenas de carregar peso. Mas, o que mais contribui é a desinformação. Pessoas que passam o dia todo sentadas, por exemplo, podem desenvolver hérnia por má postura e falta de fortalecimento muscular”, destaca o especialista.
Ou seja, tanto trabalhos pesados quanto atividades aparentemente leves, como ficar em frente ao computador por horas, exigem preparo físico adequado. A ausência desse preparo é o verdadeiro vilão. “Nosso corpo precisa estar condicionado às tarefas que executamos, sejam elas quais forem”, alerta.
A hérnia de disco tem cura?
Um dos maiores mitos sobre a hérnia de disco é que todo caso é cirúrgico. “Isso não é verdade”, afirma categoricamente o professor Barros, e completa: “hoje, muitos estudos comprovam que a cura para esse problema é possível sim, e muitas vezes sem a necessidade de cirurgia. Temos conseguido reverter muitos casos, inclusive aqueles que eram suspeitas de cirurgia, fazendo o tratamento conservador”.
A fisioterapia desempenha um papel fundamental nesse processo. Por ser uma terapia que reabilita o movimento, ela está diretamente ligada aos fatores que causam a hérnia. Os profissionais utilizam uma variedade de recursos, como terapias manuais, o método Pilates, RPG (Reeducação Postural Global) e fortalecimento direcionado dos músculos do core (músculos centrais do corpo, incluindo os abdominais e lombares, muitas vezes ligados a exercícios respiratórios).
Hospital Dona Helena realiza 2º Congresso de Oncologia dia 28
Para quem tem suspeita ou diagnóstico de hérnia de disco, a orientação é uma só: procure um fisioterapeuta. “Fazemos a avaliação do paciente e traçamos o plano terapêutico mais adequado ao caso. Com movimento, preparo físico e o acompanhamento especializado o indivíduo pode ter uma coluna saudável e uma vida sem dores”, explica Barros.
Para o professor, a chave está na conscientização. Mais do que tratar a dor, é preciso combater a origem do problema, e isso começa com informação de qualidade. “Quando as pessoas entendem como prevenir, como fortalecer o corpo para as atividades que realizam e como buscar ajuda no momento certo, é possível evitar o agravamento dos quadros e, muitas vezes, até reverter completamente o problema”.
Prevenção e dicas para o dia a dia
Para prevenir dores na coluna e problemas como a hérnia de disco, o professor Alex Barros oferece algumas dicas que podem ser colocadas em prática no dia a dia.
1. Faça pausas estratégicas ao longo do dia
A cada 30 a 60 minutos de uma mesma atividade (como ficar sentado ou em pé), levante-se, alongue-se ou troque de posição. Pequenas pausas reduzem a sobrecarga na coluna e ativam a circulação.
2. Mantenha o corpo em movimento
O corpo humano não foi feito para ficar parado, ele não gosta de inércia. A inatividade é inimiga da saúde da coluna. Incorpore hábitos simples, como subir escadas, caminhar mais, alongar-se, praticar exercícios leves, mesmo dentro de casa ou no trabalho ou simplesmente mudar de posição.
3. Pratique fortalecimento muscular, especialmente do core
Exercícios que trabalham os músculos abdominais, lombares e pélvicos estabilizam a coluna e ajudam a prevenir lesões. Pilates, funcional e RPG são ótimas opções orientadas por fisioterapeutas.
4. Cuide da postura, especialmente ao usar computador ou celular
Evite passar longos períodos curvado. Mantenha os ombros relaxados, a tela na altura dos olhos e os pés apoiados no chão. A má postura é uma das principais causas de dor lombar crônica.
5. Levante pesos do jeito certo
Ao pegar objetos pesados, dobre os joelhos e mantenha a coluna reta, usando a força das pernas — nunca curve o tronco. Mesmo ao pegar algo leve, a postura correta evita sobrecargas.
6. Invista em ergonomia no ambiente de trabalho
Use cadeiras com apoio lombar, ajuste a altura da mesa e do monitor e mantenha tudo o que você usa com frequência ao alcance das mãos. Ergonomia é prevenção.
7. Controle o estresse e durma bem
O estresse e a má qualidade do sono aumentam a tensão muscular e dificultam a regeneração dos tecidos. Técnicas de respiração, relaxamento e uma rotina de sono adequada ajudam na saúde da coluna.