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Golpes do Pix no Brasil devem somar R$ 3,7 bi até 2027; saiba como se proteger

Foto: Freepik

Por: Elisângela Pezzutti

15/08/2024 - 06:08 - Atualizada em: 15/08/2024 - 14:12

As perdas com golpes aplicados por meio do Pix no Brasil devem ultrapassar os US$ 635,6 milhões – o equivalente a cerca de R$ 3,7 bilhões – até 2027. A informação consta no Relatório de Fraude Scamscope/2024, desenvolvido pela ACI Worldwide, empresa líder global com sede em Miami, na Flórida (EUA), que fornece softwares para facilitar pagamentos eletrônicos em tempo real, em parceria com a GlobalData, empresa com sede em Londres, na Inglaterra, e que é líder mundial em análise e consultoria de dados.

Ainda segundo o relatório, 60% dos golpes envolvendo Pix resultam em perdas que variam de R$ 1 a R$ 2.800, mas há casos em que os prejuízos são superiores a R$ 40 mil. De acordo com o estudo, essa é a maneira que criminosos encontraram para explorar o sucesso do meio de pagamento instantâneo no Brasil. A maioria dos golpes ocorre por meio de redes sociais ou por telefone.

A forma mais comum de golpe é o “Pix errado”

O golpe do “Pix errado” é o mais utilizado pelos bandidos, que se aproveitam de um recurso do Banco Central criado para recuperar o dinheiro quando é constatada fraude, chamado de MED (Mecanismo Especial de Devolução).

Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que alerta sobre a fraude, os criminosos descobrem o número do celular da vítima, que muitas vezes também é sua chave do Pix, por meio de cadastros preenchidos na internet ou em pesquisas em redes sociais, e fazem uma transferência para essa pessoa.

Logo depois, ligam ou enviam uma mensagem dizendo que foi feito um Pix errado e pedindo para a pessoa mandar o dinheiro de volta. A vítima, ao conferir seu extrato, vê que de fato entrou o dinheiro em sua conta. Porém, em vez de dar a mesma chave Pix que foi usada para transferir o dinheiro, o golpista fornece uma chave Pix de uma terceira conta, e então o bandido aciona o MED, alegando ter sido vítima de um golpe. Por meio deste mecanismo, os bancos envolvidos irão analisar a transação.

Como o Pix devolvido foi feito para uma terceira conta, que não é a conta original da transferência, as instituições entendem que esta ação é típica de golpe e, então, podem fazer a retirada do dinheiro do saldo da conta da pessoa enganada. Assim, além de receber o dinheiro devolvido espontaneamente, o bandido também recebe o valor pelo MED e a vítima fica no prejuízo.

A Febraban alerta que, ao receber um pedido de estorno de Pix por qualquer motivo, o cliente sempre deve fazer a transação para a conta original que o Pix foi feito. “Para isso, o cliente deve entrar em seu aplicativo bancário e dentro das funcionalidades do Pix, utilizar a opção de devolução da transação recebida, que automaticamente envia o valor para a conta de origem. Nunca, em hipótese alguma, faça um estorno para uma terceira conta. Se tiver qualquer dúvida, ligue para seu banco”, afirma José Gomes, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban.

Para devolver um Pix errado siga os seguintes passos:

  1. Entre na área Pix do banco;
  2. Vá em Extratos, clique em “Devolver”;
  3. Desta forma, o dinheiro será devolvido diretamente para quem originalmente mandou o Pix.

Sempre faça a operação de devolução dentro da ferramenta do aplicativo oficial do banco. Nunca faça o estorno para uma nova chave Pix. Em caso de dúvida, entre em contato com o seu banco.

Advogado alerta sobre outros tipos de golpe

O advogado Raphael Rocha Lopes, que atua em Jaraguá do Sul, já atendeu casos de golpes de diferentes tipos: desde acessos indevidos, sem intervenção do cliente, com retirada de dinheiro, uso de limite, pagamentos de boletos e compras nos cartões de crédito, até pessoas que foram ludibriadas por uma suposta chamada do suporte dos bancos.

“Os criminosos utilizam dados vazados para saber em que bancos a vítima tem conta. E quando conseguem pegar a pessoa num momento de desatenção ou de preocupação, é quando os golpes, em regra, têm sucesso”, afirma o advogado.

O outro golpe muito comum é o do link. Por email, SMS ou WhatsApp, os bandidos utilizam o artifício de um valor a receber ou uma compra indevida. “Mas bancos nunca mandam links, especialmente por WhatsApp”, alerta Lopes.

Idosos no foco dos criminosos

Filhos e netos devem orientar idosos para jamais passarem informações por telefone | Foto: Freepik

Um outro tipo de golpe é mais voltado para pessoas idosas. O criminoso liga para um número convencional (telefone fixo) e, também com alguma informação privilegiada, diz que foi identificada inconsistência ou compra indevida ou algo do gênero. “Para dar mais credibilidade, eles recomendam que a vítima desligue o telefone e ligue para o número que está no cartão de crédito. A vítima desliga, pega o cartão, e liga justamente para aquele número. Ocorre que o bandido não desligou o telefone do outro lado; então outra pessoa ‘atende a ligação’ e, como se fosse do suporte da operadora do correntista, faz todas aquelas perguntas e, para sacramentar o golpe, pede a informação mais preciosa: a senha. Como a vítima já está enredada, pensando que está falando com o banco mesmo, e considerando que, normalmente, são idosos e confiam nas pessoas, elas dão a senha”, detalha o advogado.

“Dá para imaginar o estrago a partir desse momento. Com senha do banco e senha do cliente correntista, os bandidos se esbaldam”, completa.

Raphael Rocha Lopes faz um alerta importante, para que os “filhos e netos avisem e orientem seus pais e idosos para não passarem nada por telefone, nunca. Se alguém ligar e pedir para ligar para qualquer número, a vítima deve ir na agência que tem conta”.

O advogado também cita o golpe do parente ou amigo que pede para pagar uma conta, de emergência, com um WhatsApp com a foto do suposto amigo ou parente.

“E está crescendo o número de golpes com Inteligência Artificial. Os áudios estão ficando cada vez mais perfeitos e já estamos, também, entrando com força na era das simulações com imagens. Já há, e já aconteceu inclusive em Jaraguá, casos de perfis de Instagram hackeados em que fizeram um vídeo curto como se fosse o dono do perfil pedindo algum tipo de depósito ou vendendo alguma coisa que não existe”, relata.

“Nessa linha, é possível que comecemos a ter chamadas em tempo real com uma imagem em IA do outro lado como se fosse você ou eu, ou, no caso concreto, com alguém conhecido ou de confiança da vítima”, diz.

O advogado finaliza dando dicas importantes de segurança. Confira:

– trocar senhas de vez em quando;
– sempre fazer senhas difíceis;
– nunca guardar as senhas na carteira ou todas no mesmo lugar (é um caos, mas é necessário);
– usar confirmação em duas etapas em todos as aplicativos que for possível;
– nunca acreditar nas ligações supostamente de bancos, mas ir até sua agência em qualquer caso de dúvida;
– nunca seguir orientações por telefone do suposto suporte, nem nos aplicativos, nem nos caixas eletrônicos;
– nunca transferir valores para parentes ou amigos sem confirmar com terceiros ou falar pessoalmente com quem supostamente precisa;
– conversar com a família sobre golpes, pois é sempre bom lembrar das dicas de vez em quando, principalmente com os mais idosos.

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.