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Finados: Como viver o luto sem adoecer emocionalmente?

Por: Priscila Horvat

01/11/2024 - 14:11 - Atualizada em: 01/11/2024 - 14:26

Com a chegada do Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, é natural que assuntos relacionados à morte e ao luto estejam mais presentes no cotidiano de muita gente, afinal, a perda de um ente querido é um dos momentos mais difíceis de qualquer pessoa.

A perda pode vir de forma repentina ou após um longo período de sofrimento, mas a dor que ela causa é quase sempre profunda e o tempo do luto pode variar para cada indivíduo, causando um grande misto de sentimentos.

Segundo a psicanalista Rachel Poubel, o luto é dividido em cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Ela ressalta a importância de não ignorar o processo de perda da pessoa que partiu. “Nem todos vivem as cinco etapas, necessariamente, nem nessa ordem, mas é a teoria mais aceita sobre o assunto. Viver o luto é muito importante, porque é uma fase em que os sentimentos vão sendo trabalhados. Caso não se viva esta fase, tentando ignorar e ‘ser forte’, ela virá em outro estágio da sua vida em forma de uma doença emocional mais grave. Por mais que a tristeza esteja doendo, é um momento de finalizar o ciclo com aquela pessoa”, disse.

Ainda de acordo com Poubel, a sociedade, de modo geral, ainda possui certa resistência em lidar com a morte de maneira aberta.

“As pessoas não falam tanto sobre a morte quanto deveriam, mas ela faz parte da nossa vida. As pessoas vivem com sentimento de que se não falarem da morte, ela não acontecerá. Freud, o pai da psicanálise, explica que a dificuldade em assimilar o fim da vida acontece porque, no inconsciente, não existe representação disso. Nunca passamos pela morte, por isso, o nosso inconsciente, que é repleto de representações, não consegue fazer uma associação com isso”, explica.

A importância do acolhimento

Um ponto destacado pela psicanalista é a importância de acolher o luto, tanto para quem o vivencia quanto para aqueles que estão ao redor.

“É fundamental que a pessoa tenha um espaço para expressar seus sentimentos, sem julgamentos ou pressões. A rede de apoio, que inclui amigos, familiares e até profissionais, é essencial nesse momento”, afirma.

Ela sugere que o apoio profissional pode ser muito útil para ajudar as pessoas a elaborarem seu luto, principalmente quando há sinais de que o processo está estagnado.

“É preciso ficar atento aos sinais caso o luto se prolongue por mais de um ano, observando se a fase da depressão está perdurando, se essa pessoa está com comportamentos estranhos que dê sinais de que o luto não está passando e sim se transformando numa doença emocional”, alerta a psicanalista.

Fases do Luto

1. Negação

Normalmente, a reação imediata ao ouvir a notícia da morte de alguém amado é rejeitá-la. A pessoa enlutada não acredita nem quer acreditar na possibilidade de ter perdido um ente querido, então, rejeita a própria realidade.

A negação, neste caso, tem como objetivo protegê-la de uma verdade inconveniente, a qual pode desestruturá-la psicologicamente.

Deste modo, esse estágio do luto pode demorar minutos, dias ou semanas para passar. É comum que a pessoa enlutada busque o isolamento social e o distanciamento de tudo que lembre o indivíduo que partiu neste período.

2. Raiva

Sentimentos de raiva, angústia, desespero, medo, culpa e frustração se manifestam constantemente.

Este turbilhão domina a mente da pessoa enlutada, fazendo-a ter condutas ríspidas e desagradáveis. Quando alguém tenta trazê-la para realidade, ela reage com agressividade, ainda incapaz de aceitar a perda.

É possível que a pessoa em luto expresse a sua raiva por meio de atitudes autodestrutivas, como beber exageradamente, brigar com desconhecidos e destruir propriedade alheia. Como está transtornada, ela não compreende a gravidade de suas ações.

3. Barganha ou Negociação

Esta fase do luto se constitui por negociações. A pessoa enlutada negocia consigo mesma ou com a entidade superior em que acredita na tentativa desesperada de aliviar a sua dor.

Diversos pensamentos de “e se eu tivesse feito isso” ou de “se eu fizer X coisa, posso reverter a situação” rondam a mente da pessoa em luto. Mesmo que ela tenha consciência da impossibilidade desses feitos, ela os alimenta para consolar a si mesma.

4. Depressão

Uma das cinco fases do luto mais intensas é a depressão. A pessoa é acometida por um grande sofrimento, o qual pode se prolongar por semanas ou meses.

Ela se apega à dor causada pela partida do ente querido, usando-a como combustível para permanecer em estado depressivo.

Assim, a pessoa enlutada chora copiosamente, repensa as suas decisões e experiências de vida, se isola de familiares e amigos, tem crises de saudade e não consegue retomar à vida normal da mesma maneira que antes.

Este estágio do luto requer muita conversa e apoio de pessoas próximas, além de terapia. A pessoa em luto pode acabar desenvolvendo um transtorno de depressão profundo e não conseguir chegar ao estágio de aceitação da morte.

5. Aceitação

A aceitação é o último estágio do luto, mesmo quando a experiência não é linear. É neste momento que a pessoa enlutada compreende a sua nova realidade, constituída pela ausência de quem partiu.

Os sentimentos e angústias já foram externalizados, resultando em uma sensação de paz interior. Aceitar a perda não significa seguir a vida como se a pessoa amada nunca tivesse existido. Não é esquecer os momentos bons partilhados com ela nem enterrar lembranças calorosas em um canto da mente.

A saudade ainda vai mexer com as emoções e a pessoa amada ainda vai visitar os pensamentos, mesmo anos após a sua partida.

Como ajudar quem está de luto

Quando nos encontramos diante de alguém em luto, pode ser difícil saber o que fazer ou dizer. A especialista aconselha que a melhor forma de ajudar é estar presente.

“Muitas vezes, o simples fato de ouvir, sem tentar dar soluções ou minimizar a dor, já é um grande ato de apoio. Evite frases como ‘Ele está em um lugar melhor’ ou ‘Tudo acontece por um motivo’, pois elas podem não ajudar.”

Além disso, a psicanalista destaca que cada pessoa tem seu tempo. “É preciso respeitar o processo de cada um, a maneira como cada mente lida com essa perda. Algumas pessoas podem encerrar o luto, viver todas as fases em apenas meses e outras em anos”, conclui a profissional.

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