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“Fica quieto, menino!”: O que a ciência diz sobre limitar a voz das crianças

Foto: Freepik

Por: Priscila Horvat

13/05/2025 - 11:05 - Atualizada em: 13/05/2025 - 11:48

Silenciar, corrigir em excesso ou menosprezar a comunicação de uma criança pode parecer inofensivo, mas especialistas alertam: esse padrão pode gerar impactos profundos e duradouros. Segundo a Dra. Cristiane Romano, fonoaudióloga, doutora em expressividade e especialista em comunicação estratégica, a infância é o período em que as bases emocionais e comunicativas são construídas – e bloqueá-las pode comprometer habilidades essenciais para o futuro.

“Frases como ‘fica quieto’, ‘não fala besteira’, ‘isso não é assunto para criança’ transmitem à criança a ideia de que sua voz não tem valor. Esse padrão mina a autoestima, enfraquece a capacidade de argumentação e cria adultos inseguros para se expressar em diferentes contextos”, explica a especialista.

Dados que preocupam

Um relatório da UNICEF (2023) destaca que crianças que crescem em ambientes pouco acolhedores para a comunicação apresentam maior risco de desenvolver dificuldades emocionais, problemas de socialização e baixa autoconfiança. Segundo o estudo, cerca de 43% das crianças entrevistadas em 21 países relataram sentir que suas opiniões não eram levadas em conta em casa.

Além disso, uma pesquisa publicada na revista científica Child Development aponta que a parentalidade autoritária (caracterizada por rigidez e pouco espaço para o diálogo) está associada a uma redução das habilidades socioemocionais e da capacidade de resolução de conflitos na vida adulta.

Por que dar voz importa?

De acordo com a Dra. Cristiane Romano, incentivar a expressão infantil não significa perder o controle parental, mas sim construir um ambiente onde a criança desenvolva segurança emocional para dialogar, expressar sentimentos e defender ideias.

“Quando a criança aprende que pode falar sem medo, ela cresce entendendo que sua voz importa. Isso reflete diretamente na construção da assertividade, uma habilidade fundamental para relações pessoais e profissionais”, explica.

Riscos a longo prazo

O bloqueio da comunicação na infância pode resultar em adultos com dificuldade de se posicionar, medo de falar em público, baixa performance em entrevistas de emprego e até limitações em funções de liderança. Dados da Harvard Business Review mostram que profissionais que apresentam baixa competência comunicativa têm menos chances de promoção e são mais propensos a enfrentar barreiras de crescimento na carreira.

Como fortalecer a comunicação infantil?

A Dra. Cristiane Romano sugere caminhos práticos para famílias interessadas em promover uma comunicação saudável com os filhos:

  • Criar espaço para o diálogo: reservar momentos do dia para escutar a criança com atenção genuína;
  • Validar sentimentos: reconhecer emoções e opiniões, mesmo que sejam simples ou imaturas;
  • Evitar interrupções: permitir que a criança conclua suas ideias antes de corrigir ou dar respostas;
  • Usar perguntas abertas: estimular a criança a refletir e desenvolver argumentos;
  • Modelar a expressividade: os adultos também devem mostrar abertura e transparência ao se comunicar.

“Escutar uma criança é mais do que uma questão de paciência. É uma escolha estratégica para formar adultos capazes de comunicar, negociar, construir pontes e ocupar espaços de influência”, conclui a Dra. Cristiane.

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Priscila Horvat

Jornalista especializada em conteúdo de saúde e puericultura.