O Dia da Consciência Negra, comemorado neste dia 20 de novembro, entrou para o calendário oficial em 2011, por meio da lei nº 12.519. A data marca a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão e enfrentamento ao racismo, e já era considerada feriado em alguns estados e municípios brasileiros. Mas, foi somente em 2023 que o Congresso Nacional aprovou a lei que transformou o Dia da Consciência Negra em feriado nacional. Assim, este ano a data será celebrada, pela primeira vez, em todo o país.
O que o Dia da Consciência Negra representa?
O Dia da Consciência Negra é uma data importante que traz à tona questões como o racismo e a desigualdade da sociedade brasileira em função do preconceito racial. É um dia que relembra a luta dos africanos escravizados no passado e reforça a necessidade de uma sociedade mais justa.
Muitos movimentos foram criados e atuam para combater a desigualdade racial no Brasil, que, deve-se salientar, foi o último país do Ocidente a abolir a escravatura. Em Jaraguá do Sul, essa atuação é protagonizada pelo Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi), criado em 2001 e presidido pelo corretor de imóveis e ex-vereador, Francisco Alves.
“A luta que nós temos é o combate ao racismo e a qualquer tipo de preconceito, além do resgate da cultura afro aqui na nossa região do Vale do Itapocu, já que o Moconevi engloba os municípios de Jaraguá do Sul, Corupá, Guaramirim, Schroeder e Massaranduba”, informa Alves.
De acordo com o presidente, os trabalhos desenvolvidos pelo Movimento são vários e sempre envolvem a diversidade cultural, com participação em diversos eventos, principalmente nas áreas de educação, levando informações sobre a importância do combate ao racismo e a qualquer forma de discriminação a alunos de todas as idades.
“Em anos passados, auxiliávamos na organização dos carnavais em Jaraguá do Sul, uma festa popular que a gente gostaria muito que fosse retomado. Inclusive, esta uma das bandeiras que a gente vem buscando. Também participamos dos conselhos municipais da cultura, da igualdade racial. O Conselho Municipal da Promoção de Igualdade Racial (Compir) foi retomado recentemente, mas o Moconevi foi o grande responsável por organizar e criar esse conselho, em 2014. Temos ainda a questão da defesa das mulheres negras e não podemos deixar de lado e fugir da nossa responsabilidade que é acolher aquelas pessoas que sofrem qualquer tipo de preconceito. Fazemos os encaminhamentos necessários e estamos sempre em defesa da população que mais necessita”, destaca Alves, que foi o primeiro vereador negro de Jaraguá do Sul na legislatura 2009-2012 e também presidiu a câmara, assumindo algumas comissões durante o mandato. “Foi muito gratificante poder representar essa população. O povo negro sentiu-se realmente representado”, afirma.
Legislativo jaraguaense realiza homenagem a personalidades negras
A Câmara Municipal de Jaraguá do Sul realizou, durante a sessão ordinária desta terça-feira (19), uma homenagem em alusão à Semana da Consciência Negra e de Ação Antirracista, instituída pela lei municipal n° 5426/2009. Na ocasião, foram entregues certificados e flores a pessoas negras em reconhecimento aos seus feitos e contribuições à sociedade jaraguaense. Foram homenageados Janete Marcos Rosa (in memoriam), criadora do bloco carnavalesco Verde e Rosa, representada pela sua filha Gisele Rosa; Ivanildo de Souza Pinto, atleta master; Viviane Domingos, que atua na Gestão do Cadastro Único e Benefícios de Transferência de Renda; Gilmar Fernandes, cabeleireiro; José Maria Nunes, 1° diretor do IFSC Jaraguá do Sul; Riquelme Dultra Freitas dos Santos, vereador mirim 2024; e Laura Beatriz Martins, vereadora mirim 2024.
Além dos vereadores, participaram da solenidade o presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), José Aparecido Félix, o presidente do Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi), Francisco Alves, e o presidente de honra da Comunidade Negra de Jaraguá do Sul (Conejas), Everaldo Correa.
Ao discursar durante a sessão, José Aparecido Félix ressaltou que a homenagem é uma oportunidade de refletir sobre a história e a contribuição da população negra para a sociedade de Jaraguá do Sul. Para ele, além de reconhecer os desafios que ainda enfrenta a comunidade negra, é fundamental assumirmos um compromisso de luta contra o racismo e a promoção da equidade. “Neste ano, temos a honra de homenagear pessoas negras que se destacaram em nossa comunidade por sua contribuição significativa nas áreas de educação, cultura e ativismo social. Esta homenagem representa a força e a resiliência de toda uma população que ao longo da história tem lutado por reconhecimento e igualdade”, frisou.
Programação especial em comemoração à data
Nesta quarta-feira (20), Jaraguá do Sul terá uma programação em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Organizado por entidades e coletivos locais, o evento contará com apresentações culturais e rodas de conversa. O encontro inicia às 14h na Arena Jaraguá e vai contar com a participação de grupos de capoeira, apresentações de dança e música de artistas locais e regionais. O objetivo é não apenas celebrar a cultura afro-brasileira, mas também promover o diálogo sobre temas relevantes, como racismo, inclusão e respeito à diversidade, buscando conscientizar a população sobre a importância de uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.
A programação será a seguinte: 14h, Batalha de Rimas; 16h, Capoeira; 16h30, Coral Vozes Africanas; 17h, Grupo Desejo A+; 19h, Grupo Soul Assim.
Exposição “Quarto de Despejo” segue até sexta-feira (22)
Na segunda-feira (18), teve início a exposição “Quarto de Despejo”, no Espaço Cultural Professor Dolcidio Menel, na Câmara Municipal de Jaraguá do Sul. A mostra abriu os trabalhos relativos à Semana da Consciência Negra e traz quadros pintados com giz pastel por alunos do ensino médio da Escola Estadual Professor Lino Floriani, do Bairro Santo Antônio, sob coordenação da professora Laura Silveira.
Os desenhos fazem parte de uma atividade promovida pela escola visando promover reflexões sobre o livro Quarto de Despejo, da escritora negra Carolina Maria de Jesus. O livro retrata a realidade das favelas de São Paulo nas décadas de 1950 e 1960 sob a perspectiva de uma mulher negra e pobre, proporcionando um ponto de partida para discussões sobre os temas abordados. Inspirado pela obra, o projeto visa proporcionar aos alunos do 2° ano do ensino médio uma oportunidade de reflexão crítica sobre temas como desigualdade social, racismo e pobreza.
A técnica de pintura com giz pastel foi escolhida pela artista Liandra Vitória Rocha, parceira no projeto, que ainda contou com uma roda de conversa com Lilian de Jesus, neta da autora.
A exposição vai até às 13h de sexta-feira (22). A Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul está localizada na Rua dos Imigrantes, 500, Bloco K (anexo à Católica de Santa Catarina), no Bairro Rau.