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ENTREVISTA ESPECIAL | Dia das Crianças: Os sentidos e os sentimentos de Lauro

Foto Eduardo Montecino/OCP

Por: Elissandro Sutil

11/10/2017 - 10:10 - Atualizada em: 28/05/2024 - 14:14

Além do nome, Lauro Henrique Reck, 11 anos, leva muito do exemplo e experiências junto ao pai, também Lauro. Estudante do 6º ano da Escola Anna Towe Nagel, em Jaraguá do Sul, ele pretende seguir a carreira militar, tal como o pai, com quem vive bons momentos de cumplicidade e companheirismo. Essa conexão se mostra, inclusive, no objeto escolhido por ele como um dos preferidos: uma caixinha de som portátil. “Eu trouxe essa porque eu gosto muito, porque me lembra do meu pai”, revela, cheio de carinho, ressaltando que os dois costumam ouvir músicas gaúchas.

Mas, nem todas as lições aprendidas pelo menino, personagem da segunda entrevista da série “O que Pensam as Crianças”, foram fáceis. Ao falar sobre empatia, respeito, inclusão e solidariedade, ele também se lembra da tristeza de sofrer bullying na escola por estar acima do peso e por causa de suas orelhas. “Me chamavam de dumbo, de baleia, de elefante e essas coisas”, conta ele, que define: “uma pessoa bonita é aquela que respeita a outra e cuja beleza vem do coração”.

https://www.youtube.com/watch?v=oKndE5EihG0&feature=youtu.be

Com quem você mora?

Moro com a minha mãe, Rosemeri. Meu pai (Lauro) tem um sítio e ele só vem para casa a cada dois dias. Ele também vai nos bombeiros, trabalha nas duas coisas.

Como é a sua casa?

Ela tem dois andares e é uma casa normal.

Tens animais de estimação?

Temo uma cadelinha yorkshire.

Quando não está na escola, o que gosta de fazer?

Jogar no celular, assistir Netflix, andar de bicicleta.

Tem amigos fora da escola?

Tenho.

Como são as brincadeiras entre vocês?

Andamos de bicicleta, na maioria das vezes, jogamos bola, essas coisas.

Fale um pouco sobre seus sonhos…

O meu sonho fixo que eu quero realizar é ser coronel do exército. Meu pai seguiu a carreira militar, né! Agora ele está no bombeiro, mas ele saiu do exército como cabo. Daí eu queria seguir essa carreira igual a ele.

Por que você gostaria dessa carreira? O que mais te atrai nela?

A mata, porque eu sempre me criei na mata fazendo essas coisas assim.

“Pessoa bonita, para mim,

é uma pessoa que tem

respeito com a outra.”

Você gosta de viajar?

Gosto. Nunca viajei de avião, mas é meu sonho também andar de avião.

Fala de um lugar marcante que já foi.

Raramente eu viajo, o lugar mais longe que eu fui é para o Paraná, mas eu era pequeno, daí não lembro de muita coisa.

Você convive com pessoas mais velhas (avós, tios)?

Sim.

Sobre o que vocês conversam?

Com a minha avó eu converso mais… porque ela era cozinheira, confeiteira, daí converso sobre essas coisas de bolo.

Gosta de passar um tempo com pessoas mais velhas?

Sim, para aprender mais porque o tempo delas é maior e elas já viveram mais coisas.

Nasceu em Jaraguá do Sul?

Sim.

O que mais gosta na cidade?

O Centro, essa parte mais urbana, porque tem parquinho e lugares para brincar, tem o calçadão lá.

E o que falta na cidade?

Natureza, a parte rural assim.

Sabe o que é acessibilidade?

Não.

Um exemplo prático são as pessoas com deficiência que precisam de adaptações para poder levar uma vida normal… Você acha que na nossa cidade existe acessibilidade?

Tem, porque na maioria das escadas têm rampa para os cadeirantes subirem e descerem.

Na sua escola também tem acessibilidade?

Tem.

Você possui religião?

Sou cristão.

Acredita que o seu Deus é diferente do de outras religiões?

Não, a maioria é fixa. Só muda um pouco porque às vezes uma religião tem mais deuses.

Você costuma conversar com Deus?

Costumo. De noite, quando vou dormir, antes de dormir eu rezo.

Você pratica sua religião?

Agora que eu saí da catequese está mais difícil de ir à missa, mas antes eu ia bastante.

Você costuma acompanhar notícias?

Raramente.

A maioria das que acompanha, é boa ou ruim?

São ruins.

Que tipo de notícias ruins?

Homicídios, assassinatos, essas coisas assim.

O que gostaria de ver mais em termos de notícias?

Gostaria de ver mais os bombeiros e militares salvando vidas e coisas assim.

Sabe qual o papel do jornalista?

Investigar as coisas e ir mais além.

Acha que as crianças costumam ser ouvidas?

Dependendo do adulto ou alguma entidade assim, porque na maioria das vezes tem adulto que não dá bola para a criança, deixa ela ali… a criança fala uma coisa boa e ele não tá nem aí.

Gosta de ler?

Pouco.

Me fala sobre uma história legal que você leu:

Artemis Fowl.

Sobre o que é?

É um menino que o pai dele foi sequestrado por um demônio, que tinha roubado a herança dele. Ele queria a herança e os pais dele de volta e ele foi a caminho daquilo para conquistar tudo de volta.

Cinema, você gosta?

Gosto de filmes de ação e ficção. Homem Aranha, X-Man…

Tem acesso à internet?

Tenho.

Que páginas costuma acessar?

Netflix.

Conhece algum youtuber?

Não.

Bate-papo pela internet?

Raramente.

Acha que as pessoas conseguem viver sem internet?

É difícil, porque a maioria das coisas sempre está ligada à internet. Antigamente, não tinha internet e conseguiam viver, mas não sei agora como iria ser.

Você sabe quem é nosso presidente?

O Temer.

O que você já ouviu falar sobre ele?

Tem um pessoal que fala que ele é ladrão, ele rouba milhões.

Falam de corrupção?

Isso, de corrupção.

O que você sabe sobre política?

Pelo que eu escuto, a maioria dos políticos é corrupto, mas existe uma parcela pequena que não é corrupta, que segue a lei.

Você acha importante que as pessoas saibam sobre política?

Sim, é bom estar informando porque a sabedoria é tudo, né?

Já ouviu falar sobre guerras?

Já.

Sabe se está acontecendo alguma?

Não.

E as consequências da guerra, você sabe quais são?

Destruição do local, mortes e essas coisas.

E refugiados?

Pessoas que se escondem de alguma guerra, se escondem do lugar em que está acontecendo a guerra.

Elas estão fugindo daquele cenário. Você acha que os países que não estão em guerra devem aceitá-las?

Devem, porque para aquelas pessoas estarem fugindo deve estar acontecendo muita destruição, muito caos e daí o país deve aceitar porque ninguém merece sofrer.

Como você agiria com uma criança refugiada na sua escola?

Ia conversar com ela normalmente, mas não iria tocar muito no assunto para ela não ficar brava, alguma coisa assim.

A paz mundial depende de quais atitudes?

Respeito de uns com os outros, não xingar, respeitar.

Objeto preferido: caixinha de som para ouvir músicas gauchescas com o pai, de quem herdou o mesmo gosto e até o nome | Foto Eduardo Montecino/OCP

Sabe quais são os direitos da criança?

Os direitos da criança são poder brincar, conversar, ter momentos de liberdade para fazer essas coisas.

Acha que todas as crianças têm seus direitos respeitados?

Não. Tem escolas assim… Tem crianças que sofrem abusos também e tem gente que não entra na cabeça que crianças têm seus direitos.

Sabe quais são os deveres das crianças?

Estudar. E, como a minha mãe diz: é primeiro fazer os deveres e depois brincar, fazer as tarefas primeiro.

Além de presentes o que você acha que as crianças gostariam de receber no dia delas?

Carinho e amor.

Você acha que as pessoas costumam preservar o meio ambiente?

Tem pessoas que sim e tem pessoas que não, que jogam lixo em terreno baldio, mesmo que tenha uma placa, às vezes, são ignorantes, e jogam lá.

O que é preciso fazer para preservar?

Não jogar lixo em local inapropriado, reciclar, jogar o lixo no seu devido lugar.

Quais os resultados da agressão à natureza?

Aquecimento global, pessoas estão fazendo o desmatamento e tem lugares que já não têm muita natureza.

Descreva uma pessoa bonita:

Pessoa bonita, para mim, é uma pessoa que tem respeito com a outra, não é só beleza física, mas também interna, no coração, quem pratica caridade e essas coisas.

Sabe o que é preconceito?

É aquela pessoa que não aceita a outra, se ela é negra, não aceita e exclui aquela pessoa. Por exemplo, numa rodinha de amigos chega um negro querendo entrar para conversar e os outros não dão bola, excluem ele, ou dão risada pelas costas.

Já viu alguém sofrendo bullying?

Já. E eu mesmo já sofri bullying.

Por que você acha que sofreu bullying?

Porque quando eu era pequeno era bem gordinho e tinha orelha bem pra frente, me chamavam de dumbo, de baleia, de elefante e essas coisas.

E como você se sentia?

Bem mal. Sentia como se alguém estivesse me batendo.

Como fez para isso passar?

Contei para os professores, e eles levaram eu e o praticante para esclarecer tudo, na diretoria, e eu contei o que estava acontecendo.

E parou?

Parou.

O que você acha que a pessoa que fazia bullying sentia?

Sentia prazer em fazer isso, ria na minha frente e tudo.

O que podemos fazer para aumentar o amor entre as pessoas?

Respeitar… voltando um pouco antes ali (na conversa) aceitar o colega negro, ou cadeirante, ou o gordo para entrar, pra conhecer, pra brincar.

Incluir as pessoas?

Incluir, é isso.

O que você trouxe para nos mostrar (objeto)?

Essa é uma caixinha de som, Charge flip. Eu trouxe essa porque eu gosto muito, porque me lembra do meu pai. Em todos os acampamentos que eu fui ou em casa, quando tem churrasco, eu ligo essa caixinha de som e fico escutando músicas gaúchas com ele.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP