É mês de quadrilha e de foro de São Paulo – Deltan Dallagnol

Foto: Divulgação

Por: Deltan Dallagnol

01/07/2023 - 06:07 - Atualizada em: 08/04/2024 - 10:42

A 26ª reunião do Foro de São Paulo começou na quinta-feira (29) em Brasília, reunindo mais uma vez os representantes da esquerda latino-americana. A discussão de planos mirabolantes e a exaltação de ditaduras, regadas por jantares com caros vinhos, revela um quadro tanto cômico quanto trágico. Aonde o Foro pode levar a América Latina e o Brasil?

Fundado em 1990 por Fidel Castro e Luiz Inácio Lula da Silva, o Foro de São Paulo é uma organização política de esquerda que busca reunir partidos políticos e movimentos sociais da América Latina e do Caribe. No Brasil, os partidos filiados ao grupo são PT, PC do B, PCB, PDT e Cidadania.

Na quinta-feira, Lula falou no evento bradando contra seus críticos como se todos aqueles que discordam dele devessem ser rotulados como extremistas. Lula afirmou categoricamente que não tem medo de ser chamado de comunista e que isso não o ofende e, não surpreendentemente, foi aplaudido pelos presentes.

Eles fecham os olhos para a extensão do mal que as ditaduras da esquerda causaram. De fato, ao longo do século XX, diversos regimes comunistas, como a União Soviética sob Stalin, a China durante o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural, e o Camboja sob o regime de Pol Pot, mataram dezenas de milhões de pessoas por meio de perseguições, violência e fome.

No site do evento há a veiculação de um documento que diz: “À firmeza e avanços de Cuba, Venezuela e Nicarágua, somam-se vitórias eleitorais que, tendo como premissa a unidade programática, frearam o desenvolvimento do neofascismo na região. As vitórias presidenciais no México, Santa Lúcia, Bolívia, Brasil, Colômbia, Honduras, Peru e Chile são exemplos eloquentes. A crescente liderança dos presidentes do México, Honduras, Cuba, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Brasil foi decisiva para impedir as tentativas imperialistas de dividir e fragmentar a região.”

Enquanto fala de avanços, esse Foro e suas agendas de esquerda radical representam uma ameaça à democracia e um apego ao atraso. A ameaça à democracia vem, por exemplo, da pauta do fortalecimento e elogio aos governos de esquerda na América Latina, ainda que sejam regimes ditatoriais, como Cuba, Venezuela e Nicarágua.

Vale lembrar que, ao ser fundado, o Foro de São Paulo declarou que defenderia a democracia, no entanto, tornou-se um refúgio para ditadores desde que foi criado sob o comando do tirano Fidel Castro. Atualmente, conta entre seus membros não apenas com o Partido Comunista Cubano, dos irmãos Castro, mas também com o Partido Socialista Unido da Venezuela, de Chávez e Maduro, e com a Frente Sandinista de Libertação Nacional, de Ortega.

Qual é mensagem que isso transmite? Que o Foro de São Paulo apoia ditaduras seus líderes, criminosos que praticam crimes contra a humanidade, desde que se trate de seus filiados. Enquanto protestam contra líderes de direita eleitos em democracias ao redor do mundo, os integrantes do Foro permanecem calados diante, por exemplo, de um tirano que prende padres e fecha igrejas, violando uma das liberdades humanas mais básicas, a religiosa.

É lamentável que o PT e seus membros continuem apoiando ditaduras que perseguem adversários, prendem dissidentes e praticam homicídios, torturas e violências, inclusive sexuais, contra seus cidadãos. A relação histórica de Lula e do PT com regimes autoritários prejudica a reputação internacional do Brasil e revela uma falta de compromisso com os valores democráticos e o respeito aos direitos humanos.

O apego ao atraso, por sua vez, é revelado em pautas que relembram os tempos de Guerra Fria, como a intolerância com a aproximação econômica com os Estados Unidos. O Foro de São Paulo parece estar aprisionado em um passado distante, quando fazia um projeto de uma América Latina socialista (e ditatorial), num tempo em que a queda do Muro de Berlim ainda não havia sido assimilada.

É irônico que o Foro afirme combater o “imperialismo”, mas se curve diante das ditaduras de esquerda e aplauda os algozes que abusam e violam as liberdades de milhões de cidadãos. O foro ergue a bandeira de uma utopia socialista e em nome dela atrocidades são praticadas e, mais, são aplaudidas.

O pior, contudo, é o que isso representa para a América Latina e o Brasil. A história do mundo demonstrou a importância do rule of law, do respeito aos direitos humanos e da defesa das liberdades civis e econômicas. É disso que a América Latina e o Brasil precisam, não do ideário ultrapassado do Foro.

A presença de Lula no Foro, a maior autoridade do governo brasileiro, gera o temor de que ideias ultrapassadas, que vêm de um Foro em que os atores se repetem e os enredos não mudam, ganhem força e se tornem, em maior ou menor grau, uma realidade que faça não só a América Latina, mas também o Brasil, caminharem para trás.

 

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