DIA DAS MÃES: “A sociedade não está pronta para receber uma mãe”

Por: Elissandro Sutil

12/05/2018 - 05:05 - Atualizada em: 29/05/2024 - 11:43

Existem muitas mães, mas para muitas pessoas elas precisam ser de um único jeito. As exigências ao redor dessa figura presente na vida de todos são muitas, mas para essas mães jaraguaenses, o segundo domingo de maio é dia de reflexão.

Nesse Dia das Mães, Carla Corrêa Pongelli Azevedo e Giovana Bongiovani contam, através de suas experiências, que a maternidade tem muitas cores além do cor-de-rosa. Não se julgar e abrir o coração para o amor é o primeiro passo.

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“A sociedade não está pronta para receber uma mãe”

Enquanto o pequeno Thomas Pongelli Azevedo já estava devidamente confortável e seguro no bebê conforto do carro, a mãe, Carla Corrêa Pongelli Azevedo dirigia enquanto as lágrimas corriam incessantemente pelo rosto.

O garotinho de um ano e meio não estava doente, não estava mais irritado, não precisava de nada. As lágrimas eram doloridas porque carregavam um sentimento de culpa e corriam na mesma velocidade em que ela mesma se julgava. E se julgava por ser mãe.

Única mãe com o filho em uma festa, Carla sentiu que o horário rotineiro de sono de Thomas havia chegado e repetiu o ritual de casa: deu de mamar ao seu garotinho, mas ele continuou, como ela diz, “chatinho”, processo até natural antes do sono vencê-lo.

“Mas sabe aquele negócio que é tão difícil estar com as amigas? Então, eu dei uma insistidinha e essa insistida acarreta em consequências, que é o choro, o colo, mas isso nem sempre é bem visto por outras mães. E eu falo de mães, é isso que mais me dói, não é uma outra pessoa não mãe que estava me julgando, era uma mãe, ou duas, ou três”, conta.

Ela saiu chorando para casa. “E outra, eu preciso adequar o Thomas também a minha vida e não só eu me adequar às questões dele”, completa.

Fotos: Eduardo Montecino/OCP News

O julgamento é, para Carla, tão naturalizado que é realmente preciso se policiar para não jogar nos outros a expectativa e o desenho de uma experiência que se formou no imaginário. Ela, que passou por 29 horas de parto antes de conhecer o filho sentiu a pressão do julgamento desde a gravidez e, hoje, muito mais.

“Na verdade, eu acho que a mulher já é muito julgada, uma mulher grávida potencializa um pouquinho, depois que você tem filho potencializa mil. As pessoas parecem que estão com aquele olhar clínico o tempo todo”, avalia.

Longe de acreditar no estereótipo de uma maternidade cor de rosa, fácil e leve, Carla diz que “quebrou a cara” com a maternidade pela primeira vez logo no nascimento de Thomas. “Quando meu filho nasceu, não sei se muitos hormônios, 29 horas de parto, muito cansaço, muita pressão em cima de mim e do Thomas para o nascimento, que não foi aquela coisa louca”, conta.

“Eu falo da minha experiência, eu amava o meu filho, mas não era aquele amor louco, eu olhava e falava: que carinha de joelho, que inchadinho, será que vai ficar assim? Foi a primeira vez que eu quebrei a cara como mãe e nem precisei de dias ou meses para quebrar a cara de alguns pré conceitos que a gente tem”.

Fotos: Eduardo Montecino/OCP News

“O cuidado sim, o cuidado eu acredito que é imenso e maravilhoso, o amor é como qualquer outro. O amor nasce e tudo que nasce não nasce grande, acho que a palavra que mais cabe é que o amor é cultivado”, finaliza a mãe.

Autonomia e individualidade precisam ser mantidas, alerta mãe

Os dias não foram fáceis do dia 13 de novembro de 2016 até agora. As descobertas são incontáveis, as experiências se acumulam, mas os dias não foram e não são cheios de rosas. Nascimento, amamentação, o momento de “soltar” o filho, tirá-lo da cama, levá-lo para a creche.

Em todas as experiências, Thomas surpreende Carla e a mãe garante que o pequeno a ensina diariamente. “Uma vez eu li uma frase de que os filhos são os nossos maiores professores e na minha experiência eu posso dizer que sim”, ressalta.

Mas, como a maternidade real é muito diferente daquela retratada nas novelas e propagandas, Carla conta que o filho tinha crises de cólica que chegavam a durar oito horas consecutivas. “Eu só pensava: Deus, por que eu?”, diz.

Carla ressalta que a experiência da maternidade promove também uma desconstrução diária de visões da maternidade que se limitam a momentos e não concebem a viagem que é feita em parceria entre mãe e filho.

“A maternidade é maravilhosa, é a melhor coisa da minha vida, mas é a mais conturbada, de longe. Ela é romântica, mas não só isso. A partir do momento que eu vejo apenas ela romantizada, eu esqueço de todas as outras partes e isso impacta, como impactou a mim por exemplo, que é achar que tudo são flores. E são flores, mas tem muito espinho e sangra pra caramba”, enfatiza.

A mulher mãe alerta ainda para o movimento que muitas mães como ela fazem de se auto anular, muito, segundo ela, em razão justamente dessa imposição social de que mães precisam estar disponíveis a todo momento. “Uma vez eu escutei um conselho assim: você agora não vai mais ser a Carla, você vai ser a mãe do Thomas e realmente é muito difícil respeitar a minha individualidade. Eu me perco às vezes, eu esqueço de mim completamente e eu preciso dessa minha individualidade”, diz.

Para Carla, o papel da mãe não é exclusivamente o cuidado e, muito pelo contrário, esse não é o principal impacto que uma mãe deve ter sobre seu filho. Ela ressalta que o principal papel da mãe é poder dar amor e torná-lo mais do que uma palavra, uma ação.

“Tem uma frase da minha irmã que eu levo muito pra mim. Ela fala: você quer ter filhos saudáveis emocionalmente? Comunique o amor. Porque às vezes eu amo a pessoa, mas eu não comunico isso e essa comunicação é extremamente importante. E eu acredito fielmente que o mais forte no papel de mãe é comunicar o amor, não é só fazer um carinho, é lembrar o filho, é realmente comunicar. E outra, é criar um ser, criar essa pessoa para fazer o mesmo: comunicar o amor e respeitar, que é o princípio de tudo. Nada mais é do que comunicar o amor e agir, agir e agir”, finaliza.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP