No dia 20 de novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra. Em homenagem à data, a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul realizará na terça-feira (21), uma sessão solene no auditório da Católica de SC em que 11 personalidades negras serão homenageadas, entre elas o professor Alfredo Cardoso.
Professor Cardoso já recebeu homenagens em escolas e universidades do Paraguai, México e algumas no Brasil, “mas não sabia que aqui em Jaraguá do Sul tinha alguém pensando nisso”, diz.
A indicação do nome de Alfredo Cardoso
O engenheiro e empresário Emílio Da Silva Neto explica que, a princípio, o vereador Ronnie Lux sugeriu o nome de Maria Umbelina Da Silva, avó de Eggon Da Silva, mãe de Emílio Da Silva e sua bisavó para a homenagem. “O meu primo, Décio Silva, disse que era melhor ele entrar em contato comigo, que sou o bisneto mais velho. Então eu mostrei ao vereador que, na realidade, a Maria Umbelina Da Silva não era negra, mas sim, moura, porque podemos dizer que existem duas Áfricas – a África negra e a África branca, que é o Norte da África, onde estão localizados países como a Mauritânia, Argélia, Líbia e Egito, região em que viviam os mouros, que eram mais escuros que os brancos, mas não eram negros”, detalha Emílio. “Meu avô, Emílio, nunca teve preconceito racial, mas existe esta confusão entre cor da pele e etnia”, observa.
“Rapidamente chegamos ao nome do professor Cardoso, que de imediato foi aprovado pelo Décio, presidente da WEG, pela gratidão que se tem pelo tanto que o professor Cardoso contribuiu com a empresa. Foi um profissional de suprema importância para a WEG na montagem do treinamento da capacitação de pessoal”, destaca Emílio.
Discriminação racial e socioeconomica
Em conversa, Emílio e o professor Cardoso relembram de quando este quis ser sócio do Clube Baependi e não conseguiu. Isso só foi possível depois, por intermédio de Eggon Da Silva. Um episódio de racismo marcante foi quando o professor chegou ao salão do Baependi acompanhado da esposa Ivone, que também é negra, e o salão inteiro parou para olhá-los. Foi quando, do outro lado do salão, Geraldo Werninghaus levantou-se e veio buscá-los para que se sentassem na mesa com ele, onde também estavam Eggon Da Silva e Werner Voigt (os três são os fundadores da WEG). “Isso mostrou para a sociedade inteira o respeito que os três tinham por uma pessoa considerada ‘inferior’ porque era negra”, ressalta Emílio. Mais tarde, Alfredo Cardoso acabou sendo diretor do Clube Baependi.
Sobre o preconceito racial, o professor diz que já sentiu e ainda sente a discriminação por causa de sua cor, mas que “ainda maior que o preconceito racial existente no mundo é o preconceito socioeconomico”.
Uma trajetória vitoriosa
Alfredo Cardoso nasceu em Hansa Humboldt, hoje Corupá, no dia 13 de julho de 1940. É um dos dez filhos de Tobias Cardoso, que dá nome a uma rua central do município, e de Maria Felippe Cardoso, a Dona Nina, nome de um centro de educação infantil da cidade.
Casado com Maria Ivone, é pai de Cesar, hoje professor universitário, e de Márcia, coordenadora da Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul, avô de Guilherme, Vinícius, Vanessa e Júnior, e bisavô de Olívia. Atualmente com 83 anos, Alfredo está aposentado desde 1987, mas nunca deixou o trabalho de lado.
Ainda adolescente, em 1956, formou-se eletricista. Casou-se em 1962, na Catedral Católica, em Joinville. Em seguida, ele e a esposa passaram a residir em Pinhais (PR), numa casa de 30 metros quadrados de propriedade de um primo de Cardoso. “Esta casa não tinha luz elétrica, nem água encanada. Conseguimos instalar e colocar luz elétrica na rua em que morávamos, foi uma festa, inclusive fiz a instalação em três casas vizinhas gratuitamente para acelerar o processo. Meus vizinhos eram ferroviários, com famílias relativamente grandes e não dispunham de capital”, relembra.
O início na WEG
Sua carreira na WEG iniciou em 22 de abril de 1974, como instrutor de mecânica no Centroweg (Centro de Formação Profissional Weg). Em 1978, foi promovido a chefe da seção de treinamento. Ao mesmo tempo dava aulas de Matemática e Geometria na EEB Holando Marcellino Gonçalves, nos cursos noturnos de primeiro grau. Em 1979, passou a lecionar Matemática para turmas do segundo grau do Colégio Marista São Luís em Jaraguá do Sul, permanecendo como professor no colégio até 1986.
Em 1982 foi candidato a vereador em Jaraguá do Sul, pelo extinto PDS, terminando como suplente. “Porém, apesar de ser convidado por alguns partidos, decidi não continuar o processo eletivo nas eleições seguintes”, conta. No mesmo ano, foi promovido gerente do Departamento de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal da WEG, a nível corporativo.
Em 1986, viajou para a Alemanha, com bolsa patrocinada pelo governo alemão, para fazer estágio e aprofundamento em gerência de centros de formação profissional nas empresas Tysser Muller, Bosch, BMW, Basf, Philip Morris e Schultz, que ficava na Alemanha Oriental. “Naquele ano, meu filho, Cesar, se formou em engenharia química na Furb, e começou a trabalhar na Weg Química”, conta.
Trabalho mesclado com lazer
Em 1987 se aposentou pelo INSS, mas continuou a trabalhar na WEG. Em 1988 passou a assessorar a implantação da escola de formação de ferramenteiros e eletricistas de ônibus na empresa Marcopolo, fábricante de carrocerias de ônibus, com sede em Caxias do Sul (RS).
Em 1989, assessorou em Caçador, a empresa Sincol, na implantação da escola de formação de operadores de máquina com controle numérico, para fabricação de portas e janelas. No mesmo ano, assumiu a gerência do Departamento Corporativo de Relações Industriais do Grupo WEG, indo para o prédio da direção geral da WEG SA.
Em 1990, assessorou, em Tijucas, a Cerâmica Porto Belo na implantação da escola de formação de mecânicos e eletricista de manutenção.
No ano seguinte, em conjunto com o professor Alexandre Morais, do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Curitiba, elaborou o projeto para a Faculdade de Jaraguá do Sul (Ferj), para implantação do Curso de Tecnólogo em Mecânica com ênfase em Processos Industriais. Em 1992, o professor Cardoso proferiu a aula inaugural do curso.
Em 1993, assessorou a Perdigão, em Videira, na área de recursos humanos, período em que a WEG, coordenou a reestruturação da empresa sediada no Oeste do estado. No mesmo ano, assumiu a vice-presidência da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul, com mandato de dois anos.
Em 1995, foi trabalhar na Record Electric, em Asunción, Paraguai, distribuidora da WEG para o mercado paraguaio. No mesmo ano foi paraninfo da primeira turma do curso de formação de tecnólogos em mecânica da Faculdade de Jaraguá do Sul.
Em 1997 foi promovido a diretor da Record Electric, em Asunción. No ano seguinte passou a atuar no Conselho de Administração da empresa. “Eu e a Ivone viajamos para Montreal (Canadá), Chicago, Nova Iorque, e Miami (EUA)”, conta.
Em 2005, passou assessorar a presidência da Inverfin, empresa do Grupo Record Electric, em Asunción. “No mesmo ano, iniciamos a montagem de motos no Paraguai, em um prédio alugado”.
No ano seguinte, assessorou a empresa Famto Internacional, na cidade de Tlascala no México, na implantação de um Centro de Formação Profissional.
Em 2007, assessorou o Governo do Estado de Tlascala, no México, na implantação dos cursos de formação de tecnólogos, e centro de vinculação escola–empresa, em cinco universidades mexicanas.
Em 2008, iniciou na cidade de Luque, no Paraguai, a construção da fabrica própria (montadora de motos), da Inverfin. “Coordenei o projeto da construção civil, lay out, instalação e treinamento de pessoal, inclusive de ferramenteiros. Montamos uma escola para preparar técnicos para a fábrica e assistência técnica para as motos”, explica Cardoso. A montagem de motos na fábrica nova iniciou em 2009.
No mesmo ano, foi para a China transferir tecnologia na fabricação de partes e montagem de motos. As idas para a China se repetiram diversas vezes, ocasiões que o professor aproveitou para conhecer a Muralha da China e a Cidade Proibida em Pequim.
Em 2010 iniciou o projeto do edifício corporativo da Inverfin, em Asunción. “Eu e a Ivone viajamos para Fernando de Noronha e a costa brasileira de navio. Foram 11 dias navegando”, recorda.
Em 2012 foi inaugurado o edifício corporativo da Inverfin, quando Alfredo foi agraciado com uma placa de serviços prestados na construção da fábrica e do edifício corporativo.
Em 2013 iniciou, em Asunción, a assessoria na empresa RS Internacional, distribuidora de perfumes e cosméticos, reestruturando a área de recursos humanos. Em 2014 o professor Alfredo e sua esposa Ivone foram dançar um tango em Buenos Aires.
Em 2015 foi concluída a construção em dois andares da sucursal da Inverfin em Campo 9. No mesmo ano teve início a reconstrução da sucursal de Coronel Oviedo da Inverfin. “Eu e a Ivone viajamos para Cuba, Peru, Lisboa e Paris”, conta. Em 2016 foi transferido para a área de Infraestrutura da Inverfin, coordenando projetos e a construção de novas sucursais.
Em 2017, assessorou em Asunción a empresa Agropecuária Heisecke, na área de recursos humanos e sucessão. No ano seguinte, ele e a esposa fizeram a travessia do Atlântico de navio, embarcando em Lisboa e finalizando em Recife.
Em 2019, foi promovido a diretor e membro do conselho de administração da empresa Heisecke, em Asunción, e se integrou à empresa Stark, de São Paulo, como indicador de negócios.
Em 2021, iniciou o trabalho de assessoria na empresa Coplasa do Brasil, em Corupá, de propriedade de seu ex-aluno e amigo Guido Giancarlo Muller, onde está sendo implantado um Centro de Formação Profissional. Ao mesmo tempo, assessora um grupo de empresas agro paraguaias, ná área de recursos humanos e sucessão.
Lançou o livro “O Potencial do seu Quintal”, em 2020 (traduzido para o espanhol em 2021); e “Planejamento Estratégico”, em 2022, em espanhol, obras em que repassa seu conhecimento profissional para empresários e futuros empreendedores.
São mais de oito décadas de uma trajetória que envolveu muitas lutas e conquistas, e que seguem tendo o merecido reconhecimento.
Serviço:
O quê: Sessão Solene em Homenagem ao Dia da Consciência Negra
Quando: 21 de novembro (terça-feira)
Horário: 19 horas
Onde: Auditório da Católica de SC
Endereço: Rua dos Imigrantes, 500, Bairro Rau – Jaraguá do Sul