Foi eleito na quinta-feira (8) o novo Papa da Igreja Católica, Robert Francis Prevost, de 69 anos, agora oficialmente conhecido como Leão 14. A escolha surpreendeu, já que é a primeira vez que um norte-americano assume o mais alto posto da Igreja, mas também pela simbologia, um religioso de perfil discreto, missionário de alma e matemático por formação.
O processo de escolha do novo pontífice seguiu o tradicional rito do conclave, realizado em sigilo absoluto na Capela Sistina, no Vaticano. Participaram 133 cardeais com menos de 80 anos, conforme determina a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Foram necessárias quatro votações para que se alcançasse a maioria qualificada de dois terços dos votos. Assim que a fumaça branca subiu pelas chaminés do Vaticano, o mundo católico soube: havia um novo pastor à frente de 1,3 bilhão de fiéis.
Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, em 1955, Prevost foi ordenado padre em 1982 como membro da Ordem de Santo Agostinho. Seu currículo é incomum entre os papáveis. Antes mesmo de abraçar a vida religiosa, graduou-se em Matemática pela Universidade de Villanova. Sim, o novo papa sabe somar — e muito bem: teve o apoio de 89 cardeais no conclave, um número expressivo mesmo entre os favoritos.
Seu percurso missionário o levou ao Peru, onde viveu por quase 20 anos e se naturalizou como cidadão peruano — um gesto de gratidão que fortaleceu seus laços com a América Latina. Lá, não foi apenas bispo de Chiclayo, mas também uma figura popular: dispensava seguranças, caminhava pelas ruas como um cidadão comum, tomava café em padarias de bairro e batia papo com fiéis nas calçadas. A simplicidade se tornou sua marca registrada.
Outro traço notável é seu talento com idiomas. Leão 14 é multilíngue, fala fluentemente inglês, espanhol, francês e italiano. E, segundo fontes próximas ao Vaticano, tem ensaiado algumas palavras em português, o suficiente, talvez, para emocionar os brasileiros em sua primeira saudação oficial.
Vida religiosa
Já no Vaticano, ocupou recentemente o estratégico cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, responsável por indicar bispos no mundo inteiro. O trabalho o colocou em contato direto com os desafios da Igreja global, aprofundando sua visão sobre as desigualdades entre norte e sul, centro e periferia, poder e pastoral.
E por falar em simbolismos, o nome Leão 14 não foi escolhido por acaso. Ao adotá-lo, o novo papa presta homenagem ao Papa Leão 13, que em 1891 escreveu a histórica encíclica Rerum Novarum, marco da doutrina social da Igreja e referência nos debates sobre justiça social e direitos dos trabalhadores. Uma escolha carregada de intenção: Leão 14 deixa claro que continuará a trilhar o caminho da inclusão, da solidariedade e do compromisso com os mais pobres, como fez seu antecessor Papa Francisco.
Em Jaraguá do Sul, a escolha do novo Papa também repercutiu entre os fiéis. Para o padre Marcos Bernardes, da Paróquia São Sebastião, no Centro, a escolha de Leão 14 representa uma nova esperança para a Igreja. “Hoje para nós é um dia de profunda alegria, porque o Senhor em sua infinita sabedoria e misericórdia, mais uma vez conduziu o seu povo por meio da força do Espírito Santo, e após dias de oração, discernimento e silêncio, o conclave anuncia ao mundo a eleição do novo sucessor”, afirma.

Padre Marcos Bernardes da Paróquia São Sebastião | Foto: Divulgação
Para o padre Sérgio da Silva, da Paróquia São Judas Tadeu, do bairro Água Verde, a igreja foi agraciada por mais um Papa, agora Leão 14. “O nome traz consigo o legado de uma escolha: a prática do Evangelho na via da paz e da justiça social, que tanto os nossos tempos clamam. Assim como o Papa Francisco, a Igreja, a partir de Roma, no novo papado, continuará a ser fiel à doutrina dos apóstolos e desafiada a ser missionária e profética no anúncio de Cristo crucificado e ressuscitado, levando mais vida para todos, sem distinção. Deus abençoe o Papa Leão. Com ele nos unimos com toda a Igreja Católica no mundo”, destaca.

Padre Sérgio da Silva da Paróquia São Judas Tadeu | Foto: Divulgação
Desafios futuros
Leão 14 inicia seu pontificado num momento delicado para a Igreja Católica. Internamente, o Vaticano ainda enfrenta as consequências da crise de abusos, a queda no número de vocações e as discussões sobre o papel das mulheres na hierarquia eclesial. Externamente, o Papa terá o desafio de dialogar com um mundo em conflito, marcado por guerras, avanço da pobreza, migrações em massa e mudanças climáticas.
O novo pontífice chega com o peso desses dilemas nos ombros, mas também com uma bagagem que inspira confiança. Sua experiência nas periferias do mundo, sua formação intelectual, seu gosto pelo diálogo e sua postura acessível o tornam uma figura capaz de construir pontes, entre povos, dentro da própria Igreja e, talvez, entre o sagrado e o cotidiano.
“É um convite à esperança em tempos desafiadores. Assim como Leão 13 guiou a igreja com clareza e abertura para os sinais dos tempos, Leão 14, hoje escolhido, se apresenta como um pastor universal, que ele conduza como aquele que tem a missão de nos levar ao caminho do reino dos céus. A todos e a todas que Deus os abençoe”, concluiu o pároco Marcos Bernardes.