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Culinária e história: O caderno de receitas da oma Ingrid que atravessa gerações

Foto: Milena Natali

Por: Milena Natali

04/09/2024 - 07:09 - Atualizada em: 04/09/2024 - 09:36

Neste ano em que o Brasil celebra os 200 anos da imigração alemã, muitas tradições e costumes trazidos pelos imigrantes continuam sendo preservadas por seus descendentes que têm orgulho desse legado que passa de geração para geração. Em Santa Catarina, essa herança aparece de diversas formas, dentre estas a culinária.

Sabe aquela receita que há décadas está na família e traz consigo toda uma memória afetiva? O OCP descobriu no interior de Jaraguá do Sul, no bairro Rio Cerro II, uma senhora conhecida como oma (avó em alemão) Ingrid que guarda um pedaço valioso de história da culinária alemã. Aos 83 anos, Ingrid Krueger Schroeder, guarda um antigo caderno de receitas de família, escrito em alemão, que era da avó dela e passou de geração em geração, sendo guardado como um relíquia de família.

Desde pequena, Ingrid foi educada na cultura alemã, aprendendo com sua mãe e avó a arte de cozinhar, em um ambiente onde as receitas eram passadas com zelo de uma geração para a outra.

Foto: Milena Natali

O caderno de receitas de oma Ingrid é um símbolo dessa conexão familiar e de preservação da cultura germânica. Escrito inteiramente em alemão, ele contém uma vasta coleção de receitas que não só alimentaram sua família ao longo dos anos, mas também serviram como um elo entre o presente e o passado. Entre essas páginas amareladas, encontram-se registros de pratos tradicionais que sobreviveram às mudanças dos tempos.

Da Alemanha para o Brasil

A história da chegada da família de Ingrid ao Brasil começa com seu bisavô, que veio da Alemanha com 17 anos, desembarcando num porto brasileiro e seguiu para Timbó, onde hoje tem até uma escola que leva seu nome. Ele trouxe consigo não só a esperança de uma vida nova, mas também os sabores e tradições de sua terra natal, que foram transmitidos através das gerações.

Oma Ingrid nasceu em Blumenau, em 1941, em um período marcado por restrições ao uso do dialeto alemão. Com apenas dois anos, sua família mudou-se para Jaraguá do Sul, onde viveu cercada pelas tradições germânicas. Ingrid cresceu em uma família que manteve viva a memória do imigrantes e sua jornada, através das receitas que trouxeram da Alemanha.

Na casa de oma Ingrid, o almoço de domingo é uma tradição aguardada por todos. O prato principal é quase sempre o marreco recheado, uma especialidade que Ingrid aprendeu com sua avó. Preparado com paciência e cuidado, o marreco é recheado com uma mistura de temperos que se mantém como segredo de família. Esse prato é servido com nhoque de batata doce.

Foto: Milena Natali

Mas não é só o marreco que se destaca na cozinha de oma Ingrid. O doce de melado, o pão caseiro e a cuca são outras delícias que fazem parte do cardápio da casa. A cuca, um bolo coberto com farofa doce, é um dos maiores sucessos, preparado com fermento de pão e farofa feita à mão. Esta sobremesa, simples, mas deliciosa, se tornou um verdadeiro ícone nas mesas dos descendentes de alemães.

 

O caderno de receitas guardado a sete chaves

Escrito inteiramente em alemão, o caderno contém receitas que foram adaptadas ao longo dos anos, mas que ainda preservam a essência da culinária germânica. Esse caderno é, para oma Ingrid, um símbolo da resiliência e da força de seus antepassados, que enfrentaram desafios e dificuldades para construir uma nova vida no Brasil, sem jamais abandonar suas raízes.

Foto: Milena Natali

Entre as muitas receitas preciosas que fazem parte do caderno de oma Ingrid, a cuca de banana com farofa é uma das mais queridas. Simples, mas incrivelmente saborosa, essa receita se tornou um clássico nas mesas de Jaraguá do Sul, assim como de Santa Catarina, adaptada ao longo dos anos, mas ainda mantendo sua essência original.

O bicentenário da imigração alemã é uma oportunidade para refletir sobre a importância de manter vivas essas tradições culturais. Pessoas como oma Ingrid desempenham um papel vital na preservação dessas tradições, garantindo que as receitas e os costumes de seus antepassados continuem a fazer parte da vida cotidiana.

Em uma época em que as mudanças acontecem rapidamente e a modernidade muitas vezes ameaça apagar o passado, o exemplo de oma Ingrid nos lembra da importância de valorizar nossas raízes. Através de suas receitas e do carinho com que as prepara, ela mantém viva a cultura alemã em Jaraguá do Sul, assegurando que as futuras gerações possam saborear não apenas a comida, mas também a história e a identidade que ela representa.

Confira a famosa receita da cuca da oma Ingrid:

Tempo de preparo: 1h 40

Ingredientes:

  • 1 ovo
  • 1 colher (sopa) de margarina
  • 2 colheres (sopa) de fermento de pão
  • 1 xícara (chá) de açúcar
  • 2 xícaras (chá) de água morna
  • 1 pitada de sal
  • 3 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • Canela em pó a gosto

Para a farofa:

  • 1 xícara (chá) de farinha de trigo
  • 1 xícara (chá) de açúcar
  • 1/4 xícara (chá) de azeite
  • Canela em pó a gosto

Instruções:

  1. Em uma tigela, bata o ovo, o açúcar e a margarina por 2 minutos.
  2. Adicione a farinha de trigo, o sal e o fermento.
  3. Aos poucos, adicione a água morna e bata até obter uma massa homogênea.
  4. Em uma forma untada, despeje a massa e deixe descansar por 40 a 45 minutos.
  5. Pré-aqueça o forno a 180ºC por 10 minutos.
  6. Enquanto a massa descansa, prepare a farofa: em uma tigela, misture a farinha de trigo, o açúcar e a canela.
  7. Adicione o azeite e amasse com as mãos até obter uma farofa.
  8. Espalhe a farofa sobre a massa descansada.
  9. Leve ao forno e asse por 35 a 45 minutos.

Foto: Milena Natali

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Milena Natali

Redatora de entretenimento e cotidiano.