Costurando tecidos e bons sentimentos

Erica Millnitz faz sucesso com costuras, cantorias e solidariedade - Fotos: Eduardo Montecino/OCP Online

Por: OCP News Jaraguá do Sul

09/03/2016 - 04:03 - Atualizada em: 10/03/2016 - 16:11

Cabelos de algodão, olhos azuis cor do céu e um sorriso aberto, cativante, que desarma todos que a conhecem. Assim é a costureira Erica Millnitz, 73 anos, que acorda cantarolando e contagia os vizinhos da Rua Ernesto Rodolfo Fritz Sohn, no bairro Czerniewicz.

Para ela, que recentemente enfrentou e se curou de um câncer, a vida é uma sucessão de desafios que se vence com otimismo e bom humor. E é por isso que segue cantando e encantando. Que tipo de música? Cânticos da Igreja Luterana, músicas de Amado Batista, de fossa, sempre em alto e bom som…

Segunda moradora da rua onde vive, Erica conhece e é conhecida por todos. Ela espalha alegria e levanta o ânimo dos vizinhos que saem de manhã para o trabalho e a enxergam sentada, de frente para a janela, em meio a tecidos e à inseparável máquina de costura industrial. Um olhar mais atento também registrará a presença sempre constante da veterana gata “Branquinha”, de 15 anos.
Como entretenimento, ela desvenda palavras cruzadas e assume a condição de “noveleira”. Nas quintas-feiras à noite, é momento para o estudo bíblico com as amigas. “Aqui me procuram para tudo, até para dar conselhos”, resume sorrindo.

Mãe do policial militar reformado Júlio César, 49 anos, e do administrador de empresas Joel Rogério, 46 anos, é avó de Fernando, 20 anos, motivos de orgulho para ela, que durante décadas fez da costura o ganha-pão, além do ofício que a fez sentir realizada.

Ontem, no transcorrer do Dia Internacional da Mulher, Erica abriu o coração para a reportagem do jornal O Correio do Povo. Relatou episódios pitorescos, felizes e tristes, mas, como toda guerreira, mostrou que a vitória só pode ser alcançada quando se segue em frente.

2016_03_08 D Erica Millnitz costureira e boa gente - em 1 (5)Aposentada é procurada para conselhos e foi a segunda moradora da rua onde vive 

Moradora há 22 anos no número 55, na espaçosa e aconchegante casa de alvenaria que construiu, fruto de árduo trabalho, Erica lembra dos tempos em que trabalhava praticamente dia e noite para garantir o sustento da família. “Tinha semana, quando era bem ‘apurado’, que eu dormia uma ou duas horas por noite. Se não fosse assim, não conseguiria pagar as contas”. E quando era época de Natal e festas de final de ano, “ia dormir domingo de manhã”.

Mesmo aposentada oficialmente há dez anos, ela continua com as costuras. “Levanto às 6h30, 7h, e depois fico na máquina até perto do meio-dia. Adoro! Continuo fazendo costuras e consertos”, reconhece, sorrindo. Ela, que por um bom tempo foi a responsável pela confecção das fardas do 14º Batalhão de Polícia Militar, conta que hoje ainda é procurada para fazer bainhas e pequenos ajustes nos uniformes militares.

A superação da doença
“Descobri que tinha câncer de cólo do útero em setembro de 2014. Fiz 36 sessões de radioterapia, seis de quimio, mais quatro de branquiterapia, em Florianópolis. Sempre fui otimista. Os médicos diziam que era meio caminho andado, porque não esmorecia, não me entregava”, recorda.

Solidariedade
Sim, a costura faz parte da vida de Erica Millnitz, mas não somente para agregar valor à modesta aposentadoria. Preocupada com os que dispõem de poucos recursos, ela recebe doações de malhas e retalhos, que destina exclusivamente para doações. Seja para as ações sociais da Comunidade Luterana Apóstolo Pedro, no Centro, ou diretamente para duas famílias carentes do bairro Jaraguá 84. O que sobra, encaminha para a Igreja Matriz São Sebastião. “Mesmo o que recebo para doar, lavo e sai impecável”, garante, enquanto aponta para três caixas lotadas de roupas, prontas para serem distribuídas.

2016_03_08 D Erica Millnitz costureira e boa gente - em 1 (3)
Erica ainda faz confecção, reparo de roupas e é procurada por vizinhos

Família, o esteio
“Nos sábados, meus filhos vêm jogar canastra. Desde que os dois casaram, deixei de cozinhar nos domingos, sempre almoço com eles”, enfatiza, com satisfação. “Todo dia agradeço tudo o que tenho, tiro um anjo do meu baralho de anjos e leio a mensagem. Hoje [ontem] saiu ‘Plenitude e abundância’”, mostra Erica Millnitz, com os olhos brilhantes.

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Publicação da Rede OCP de Comunicação