O músico conta que sua mãe faleceu muito jovem e por isso ele foi criado pelos avós maternos, Bruno Töwe e Adi Gaedtke Töwe. “O meu opa sempre comentava que o bisavô dele e um primo, de Pomerode, tocavam bandoneon e que ele também queria muito aprender a tocar, mas não conseguiu porque na época teve que servir ao Exército, depois constituiu família e enfrentou as dificuldades de quando se é novo. E eu sempre acordava com as músicas do rádio, que ficava sintonizado na Rádio Jaraguá ou na Rádio Pomerode, principalmente música alemã, tocada com bandoneon”, relembra.
Depois de um certo tempo, quando Anderson já estava maior, começou a ajudar sua avó nos serviços de casa. E ela sempre lhe dava um dinheirinho depois dele limpar a casa. A faxina incluia passar Tacolac no assoalho de madeira, a famosa cera que dispensava o uso de enceradeira. “Consegui juntar um pouco de dinheiro e fui para o Centro da cidade. Encontrei algo que parecia muito com um bandoneon – e eu até acreditei que fosse um, mas na verdade era uma concertina. E lá se foi toda a minha mesada”, recorda. “Cheguei com o instrumento em casa e quando meu avô viu, ele me questionou: ‘o que você quer com isso? Gastou todo o teu dinheirinho que tava guardado!'”
Apesar da bronca, Anderson continuava ouvindo as músicas que tocavam no rádio, tentando tirá-las na concertina só de ouvido, ou seja, reproduzi-las no instrumento, sem fazer uso de partitura ou qualquer outro tipo de notação musical, uma prática muito comum entre músicos amadores e profissionais. Ele seguiu insistindo, até que saíram as primeiras notas, o que chamou a atenção de seu avô.

Familiares de Anderson e Eliane, quando eles ainda eram namorados. O primeiro à esquerda é o opa Bruno | Foto: Arquivo pessoal
“Consegui tirar ‘Herr Schmidt’ e o opa, vendo isso, disse que talvez eu tivesse mesmo talento. Aí, ele me levou até a casa do Harold Prochnow, um parente nosso que tocava bandoneon. Durante um café ele tocou algumas músicas, me mostrou como fazia, e pela primeira vez eu tive um bandoneon nas mãos. No final do café, ele disse que se eu cuidasse ele me emprestava o instrumento, mas que não poderia me dar aulas, porque não sabia o suficiente, e me aconselhou a procurar o Sr. Alfonso Zilsdorff. Na época, eu tinha 15 para 16 anos e trabalhava na Malwee. Comecei a fazer aulas com o Alfonso aos sábados. Ele me mostrava as partituras, eu levava a lição para casa e quando voltava no sábado seguinte tinha que estar tocando. Ele sempre foi muito exigente. Não precisava tocar rápido, mas tinha que tocar certo. E eu sou muito grato pelos ensinamentos que ele me passou”, conta.
Depois, Anderson teve mais alguns mestres, entre eles o Sr. Márcio Brosowsky. “Quando o seu Alfonso já estava com uma certa idade e eu conseguia executar o que havia me passado, ele disse que dali para a frente eu tinha que procurar outra pessoa para me ensinar coisas novas. Então, todas as quartas eu ia com meu avô até São Bento do Sul fazer aulas com o Márcio, que é um grande músico”.
Depois, por um curto período, Anderson fez aulas de piano na Sociedade Cultura Artística (Scar). Ele conta que também toca um pouco de acordeon. “São três instrumentos com os quais eu consigo me virar bem. As partituras do bandoneon hoje eu tiro da internet”.
Relíquia centenária

Instrumento foi fabricado em 1923 | Foto: Arquivo pessoal
Mais tarde, o músico juntou algum dinheiro e comprou seu primeiro bandoneon – um F Lang, que lhe serviu por muito tempo, mas chegou um momento em que as músicas tinham muitas escalas, variando de uma nota bem grave para outra bem aguda, e o instrumento já não supria essas necessidades. “Nas idas e vindas para tocar, acabei fazendo vários amigos, entre eles o Sr. Herbert Borchardt, que mora aqui na Barra do Rio Cerro e hoje está com 86 anos. Ele tinha esse bandoneon, fabricado em 1923, e há uns dez anos atrás acabou me vendendo ele. Assim começou a minha história com o Doble AA, que antes de pertencer ao seu Herbert já havia sido do Sr. Arnoldo Schmidt, o primeiro dono, que o adquiriu lá em Curitiba. Inclusive, quando ele completou 100 anos, nós fomos na casa dele fazer uma visita”, conta.

Sr. Arnoldo Schmidt (à esquerda) foi o primeiro dono do bandoneon centenário | Foto: Arquivo pessoal

Imagem datada de 1901, onde está Germano Töwe (de calça branca), antepassado de Anderson | Foto: Arquivo pessoal
Desafios musicais
Atualmente, Anderson tem parceria fechada com um restaurante de Jaraguá do Sul, onde toca aos domingos das 12h às 14 horas, além de se apresentar em eventos particulares quando convidado. Entre músicas alemãs famosas, ele procura apresentar um repertório com diferentes ritmos, que inclui rock, temas de filmes e até tangos. Além disso, é um dos proprietários da banda JS, que sobe ao palco em festas típicas da região. “Adoro desafios, então me interesso muito em tocar músicas que ninguém executou no bandoneon”, conta.

Com a banda JS, o bandeonista anima as festas típicas da região | Foto: Arquivo pessoal
Lembranças
Anderson conta que seu avô faleceu em 2014 e a avó em 2017. Ao tocar seu bandoneon ele recorda dos dois com muita saudade, já que o opa acabou sendo seu maior incentivador para aprender a tocar o instrumento e sua oma gostava de ouvir o neto tocando a valsa “Oh, Izabella” e a marchinha “Das geht nach Blumenau”.

Ao lado da falecida oma Adi, que gostava de ouvir o neto tocando a valsa “Oh, Izabella” e a marchinha “Das geht nach Blumenau” | Foto: Arquivo pessoal
A esposa, Eliane, também aprendeu a tocar com Anderson. E o amor pela música parece vir de família – seu pequeno filho Johann Bruno Töwe, que ainda é um bebê, adora o bandoneon.

O pequeno Johann Bruno adora ver o pai tocando | Foto: Arquivo pessoal

Será Johann um futuro bandeonista? Influências não faltam! | Foto: Arquivo pessoal
Assista ao vídeo abaixo, onde o músico toca no bandoneon um sucesso popular do final dos anos 1990: