Conheça a história da única pessoa que pode pregar para o papa

Foto: sob licença Creative Commons

Por: Priscila Horvat

11/10/2024 - 16:10 - Atualizada em: 11/10/2024 - 16:49

Ele assina como Pregador Capuchinho da Casa Papal. O título precede o cardeal Raniero Cantalamessa: o Pregador Capuchinho da Casa Papal é uma figura influente na Igreja Católica da qual a maioria das pessoas nunca ouviu falar, e os sermões para os quais ele queria ajuda foram entregues ao próprio papa.

Cantalamessa pertence aos franciscanos capuchinhos, cujas origens remontam a 1525. Não foram batizados, como se acredita popularmente, em homenagem ao cappuccino ou ao macaco de mesmo nome: os frades passaram a ser conhecidos pelo capuz marrom pontiagudo, ou “capuche”, em seu hábito (o café e o macaco foram, na verdade, batizados em homenagem a eles).

Em 1528, os capuchinhos obtiveram a aprovação do Papa Clemente VII e, no final do século XVI, haviam se espalhado por toda a Europa e além. Os frades, conhecidos por seu serviço aos pobres, também ganharam reputação por suas habilidades de pregação e talento como missionários, ajudando a difundir a fé católica em todo o mundo.

O cargo de “Pregador da Casa Papal” existe desde 1555, quando a função era conhecida sob o título de “pregador apostólico”. Inicialmente, os membros de muitas ordens religiosas diferentes eram selecionados para o cargo.

Em 1743, o Papa Bento XIV concedeu o título exclusivamente aos capuchinhos. A função significa que o titular é a única pessoa autorizada a pregar para o papa.

A principal responsabilidade da função envolve a pregação nos domingos do Advento (o início do ano litúrgico que leva à Natividade) e da Quaresma (os 40 dias que levam ao domingo de Páscoa). Esses são períodos de intensa reflexão espiritual para todos os católicos, incluindo o papa e outros membros da Casa Papal.

O pregador prega ao papa, aos cardeais, bispos e prelados (outros membros de alto escalão do clero) da Cúria Romana (o coração administrativo do papado) e aos superiores de várias ordens religiosas. Desde 1995, freiras, irmãs religiosas e leigas que trabalham no Vaticano também participam, a pedido de Cantalamessa. Nos anos mais recentes, os sermões têm sido realizados na impressionante Capela Redemptoris Mater e Sala de Audiências Paulo VI, enquanto na Sexta-feira Santa o sermão é realizado na Basílica de São Pedro.

O frade italiano Raniero Cantalamessa ocupa o cargo desde 1980. Antes disso, foi professor de cristianismo antigo e diretor do departamento de ciências religiosas da Universidade Católica de Milão. Tendo acabado de comemorar seu 90º aniversário, o capuchinho, ao longo de seus 40 anos na função, pregou para os três últimos papas: Francisco, Bento XVI e João Paulo II.

Em 2014, ele calculou que havia feito 280 sermões de Advento e Quaresma na frente dos papas, declarando: “Fui responsável por ter ocupado umas boas 140 horas do precioso tempo dos últimos três papas”.

Embora o capuchinho tenha permanecido humilde em relação à sua atividade, seu papel é de grande influência. Ele pregou, por exemplo, no início dos dois últimos conclaves em 2005 e 2013, quando Bento XVI e Francisco foram eleitos. Com relativa liberdade para escolher o tema de suas meditações, ele afirma que tenta refletir sobre “os problemas, as necessidades ou até mesmo as graças que a igreja está vivendo no momento”.

Muitas vezes, seus sermões servem como um teste decisivo para o clima geral da Igreja e as prioridades do papado.

Trecho de texto publicado originalmente no The Conversation Brasil pelo capuchinho Liam Temple. Imagem sob licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original e completa.

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