Rocky é um filhote de 9 meses cheio de energia e de temperamento muito dócil. No fim de julho, ele ganhou um lar, uma família. Seus tutores insistiram muito na adoção do animal, cruza com pitbull.
Cumprindo todos os requisitos do grupo de proteção Gang dos Patinhas Poverellos, a família deu um lar a Rocky para iniciar uma nova história, cheia de aventuras e cuidados.
Mas, cerca de 4 meses depois, o cão foi devolvido, pois não cabia na mudança. Hoje, habita uma baia de 1 metro por 1,5 metro, porque a família não se dispôs a esperar para devolvê-lo.
De acordo com a voluntária Kelly Puccini, esse episódio, infelizmente, não é exceção. O índice de devoluções de pets chega a 20%.
Em 2019, aproximadamente 300 animais foram adotados junto à Gang. Desse total, 52 foram devolvidos ao longo do ano. Alguns deles, mais de uma vez, o que totaliza 60 devoluções.
“No ano de 2020, nós vamos passar de 270 adoções. Era esperado um ano mais fraco, mas não foi. Vamos chegar perto de umas 45 devoluções até o fim do ano, o que nos deixa próximos do índice do ano passado [cerca de 17%]”, revela a voluntária.
Pets devolvidos

Rocky aguarda um lar definitivo | Foto: Divulgação/Gang dos Patinhas
No entanto, há uma mudança de comportamento por parte de quem devolve os pets percebida pela ONG. No ano passado, a maioria das pessoas devolvia logo após a adoção, por falta de tempo e paciência para esperar o período necessário à adaptação do animal.
Esse ano, como as pessoas estão mais em casa, salienta Kelly, elas tiveram tempo e paciência.
“Porque elas estavam carentes e necessitando dar foco em outras coisas para tirar o foco do medo da pandemia. Porém, agora elas estão devolvendo no final do ano”, ressalta.
Os motivos são os mais variados: porque se separaram, ou vão mudar para casas menores, ou irão mudar de casa para apartamento, ou porque vão viajar.
O prejuízo para o animal, destaca a voluntária, ao ser devolvido após 4, 6 ou 10 meses, ou até um ano, é enorme. Isso porque o pet já está adaptado à família e já criou laços de afeto com as pessoas que o cercam.
“Ele estava numa casa, vivendo bem, e vai voltar para um canil onde vai viver com 10, 12, dependendo de onde for colocado. Aí o animal entra em choque mesmo, alguns apresentando depressão leve, outros depressão moderada à grave”, revela.
Quando necessário, esses animais recebem medicação ansiolítica. Muitos vão da agressividade à apatia, comportamentos antes não apresentados.
Instabilidade
A Gang faz entrevista com os possíveis candidatos a tutores e oferece uma lista de pré-requisitos.
Não doa para quem tem animal não vacinado, nem para quem possui fêmeas sem castrar, ou, ainda, quem não aceita os pré-requisitos de vacinação, acompanhamento e castração.
O processo não visa dificultar a adoção, mas tornar a pessoa extremamente consciente do que está fazendo.
“A gente fala sobre o tempo que o animal poderá viver com essa pessoa. Eu percebo que quanto mais instável é a pessoa, mais tendência ela tem de querer suprir essa instabilidade com processos que, na verdade, podem causar ainda mais instabilidade”, observa.
Kelly enfatiza que o animal deve ir para a vida das pessoas para fazê-las se sentirem melhor, mais felizes e não para trazer mais um problema.
Quanto a Rocky, ele é o único da ninhada que ainda não encontrou um tutor disposto a acolhê-lo com amor e responsabilidade.
“Procuramos uma família responsável, que o acolha consciente de que ele deve viver em torno de 15 anos, que precisa ser membro da família e que não é um pet descartável”, enfatiza.
Kelly explica que o animal hoje ainda é considerado como posse, ou seja, a pessoa pode fazer o quer com ele.
A Gang dos Patinhas Poverellos faz acompanhamento porque não tem intenção de se livrar do pet, mas garantir que ele tenha uma vida saudável e feliz.
Por essa razão, aceita acolhê-los novamente quando devolvidos.
Telegram Jaraguá do Sul