Os olhos azuis cansados , o chapéu novo, comprado especialmente para a cerimônia e o olhar que parece carregar o mar da Barra da Lagoa. Aos 80 anos, Seu Diquinho é mais que um morador ilustre do bairro onde nasceu e foi criado, é guardião de saberes antigos, olheiro de tainhas, artesão de redes e contador de causos que misturam realidade e lenda no cotidiano da comunidade.
Uma vida inteira dedicada a preservar a cultura ilhéu foi reconhecida nesta quinta-feira (7), quando ele subiu ao plenário da Câmara Municipal para receber a Medalha Manezinho da Ilha Aldírio Simões.
Em tom bem-humorado, Seu Diquinho contou que está feliz com a homenagem e prometeu exibir a medalha com orgulho na Barra da Lagoa “só não posso vender”, brincou. Conhecido também por ser contador de causos, relembrou durante a entrevista as histórias de assombração do bairro e falou sobre os antigos cantos da tainha, tradição que hoje, segundo ele, vem sendo resgatada pela comunidade.
Em meio à conversa, puxou de memória um dos versos e cantou, emocionado:
“Pescador, me responda por que se metemos lá naquela onda?
É por causa daquela rede que tem, aquela mainha apertada, meu bem.
Ai, como é bom pescar, vivendo na beira do mar,
vendo aquela lua nascendo lá no mar.”
E emendou mais um trecho, homenageando os tempos de fartura e mudança:
“Eu vou cantar pro vereador, como as coisas já mudou.
A tainha foi-se embora, a enxova que ficou.
Ai, como é bom pescar,
vivendo na beira do mar, vendo aquela lua nascendo lá no mar.”
A honraria, concedida a outras 35 personalidades na mesma solenidade, celebra quem personifica o espírito comunitário e cultural da Capital, seja por nascimento, criação ou por escolher Florianópolis como lar. A medalha leva o nome do cronista Aldírio Simões, figura essencial na valorização das tradições locais e responsável por eternizar o termo “manezinho” como símbolo de pertencimento.
Na Ilha de Santa Catarina, ser chamado de “mané” ou “manezinho” é mais que um apelido: é um título afetivo, uma marca de quem carrega no sangue ou no coração o jeito único de viver e preservar a identidade local. Ao homenagear figuras como Seu Diquinho, a Câmara celebra também a memória viva de Florianópolis.
O presidente da Câmara Municipal, o vereador João Cobalchini (MDB), durante a presidência da sessão, destacou a competência da Casa Legislativa na preservação da nossa história e nossa cultura. “A Câmara tem o papel de estimular ações que promovam o bem comum, o desenvolvimento humano e, principalmente, a preservação da nossa história e da nossa cultura”, afirmou.
“É uma honra muito grande. Eu me considero um manezinho desde sempre, nascido e criado em Florianópolis, mas sobretudo uma pessoa que cultiva, que propaga a nossa cultura, o nosso folclore, a nossa tradição e os nossos costumes,” afirmou Ítalo Augusto Mosimann, também condecorado com a medalha e que discursou em tribuna em nome dos homenageados.
Já o vereador Renato da Farmácia (PSDB), manezinho de coração e cidadão adotado por Florianópolis há mais de quarenta anos, discursou na tribuna representando os demais parlamentares. Em sua fala, destacou os costumes da ilha, o acolhimento do povo mané, e as ricas tradições levadas de gerações para gerações
Confira os homenageados:
- Adir João Lemos
- Adir Martinho Albino
- Aldori Aldo de Souza
- Amarildo Alberto Elias
- Anne Teive Auras
- Beatriz Campos Kowalski
- Carlos Domingos Vieira
- Carlos Eduardo Bernardo
- Carlos Trilha Müller
- Célio Hercílio Marciano
- Cid José Goulard Júnior
- Dárcio Arcelino Nunes
- Edenir Kremer
- Eduardo Brazil
- Everaldo Dias
- Fabiano Godinho
- Fábio Sardá
- Gilmar Justino Marcelino
- Ítalo Augusto Mosimann
- Jaime José de Barcelos
- João Batista Costa
- João Carlos Mendonça Santos
- João Dorval Teixeira
- João Manoel Vieira
- José Américo Polmann
- José Henrique Fernandes
- Juliana da Cruz Santos
- Luiz Carlos Jacques
- Marco Giorgio Longo
- Milton Luiz Valente
- Murilo Valente
- Ori Bernardo (In Memoriam)
- Paulo Bastos Abraham
- Paulo Costa (In Memoriam)
- Priscila Cristina Freitas
- Renato Cesar Lebarbenchon Polli
- Wilmar Pereira Filho