Acidentes elétricos aumentaram no Brasil, conforme dados recém-apurados pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). Apenas no primeiro semestre de 2024, o número de ocorrências cresceu cerca de 9,5% em relação ao mesmo período de 2023. Entre janeiro e julho do ano passado, foram registradas 992 ocorrências, enquanto, neste ano, o número subiu para 1.086 no mesmo intervalo. Em relação aos óbitos, a diferença foi de 399 para 448, representando um aumento de 12% nos primeiros seis meses de 2024.
O documento mostra que os acidentes por choque elétrico, que apresentaram uma leve queda no primeiro trimestre de 2024, voltaram a subir, encerrando o período com 565 ocorrências. Comparando com 2022, as fatalidades resultantes de choques elétricos se tornaram ainda mais preocupantes. Naquele ano, foram registradas 330 mortes, número que subiu para 350 em 2023. Agora, no primeiro semestre de 2024, já são 421 vidas perdidas, representando um crescimento superior a 20%.
Para Fábio Amaral, engenheiro eletricista e sócio-diretor da Engerey Painéis Elétricos, o aumento alarmante destaca a urgência de implementar medidas mais eficazes de prevenção e segurança no manuseio da eletricidade. “A falta de manutenção adequada nas instalações elétricas, o uso de equipamentos de baixa qualidade e a negligência em seguir as normas de proteção são os principais fatores que contribuem para a ocorrência de choques elétricos, resultando em acidentes graves e até fatais. Para mitigar esses riscos, é essencial que tanto residências quanto empresas adotem práticas rigorosas de manutenção elétrica. Inspeções regulares, substituição de fiações antigas e o uso de dispositivos de proteção fazem uma diferença significativa”, afirma.
Regiões com maior incidência de choques elétricos
Na comparação regional, o Nordeste continua a se destacar negativamente, registrando 204 acidentes por choque elétrico, dos quais 173 resultaram em mortes. Em comparação, de janeiro a julho de 2023, houve 149 acidentes e 112 mortes. A região Sudeste também apresentou um crescimento expressivo, com 121 ocorrências e 80 mortes em 2024, enquanto no ano anterior foram 93 acidentes e 57 mortes.
Por outro lado, o Sul do país, que havia registrado um aumento de acidentes em 2023 (125 acidentes e 69 mortes), teve uma redução no primeiro semestre de 2024, com 107 acidentes e 68 mortes. O Norte também mostrou uma leve queda, passando de 67 acidentes e 56 mortes para 64 acidentes e 52 mortes. Já o Centro-Oeste teve uma diminuição mais acentuada: em 2023, foram 86 acidentes com 55 mortes, enquanto em 2024, ocorreram 69 acidentes e 48 mortes.
Locais com maior incidência de acidentes
Um dado que sempre chama atenção são as estatísticas dos locais com maior incidência de acidentes por choque elétrico, sendo as redes aéreas e as moradias os principais pontos. Os números indicam que, no caso das redes aéreas, as ocorrências continuam altas, apresentando flutuações constantes. Em 2022, foram 215 ocorrências; em 2023, 195; e em 2024, 217. Quanto às mortes, a tendência é similar: em 2022, houve 142; em 2023, 125; e em 2024, 143 mortes nas redes aéreas durante esse período.
Por outro lado, os acidentes em moradias revelam dados alarmantes, com uma tendência de crescimento contínuo, segundo a Abracopel. Em 2022, ocorreram 105 acidentes por choque elétrico em residências (incluindo casas, apartamentos, sítios e propriedades rurais), resultando em 85 mortes. Já em 2023, esse número subiu para 156 acidentes, com 119 mortes. Em 2024, o total de acidentes aumentou para 163, com 143 mortes. Isso significa que as mortes por choque elétrico em moradias estão agora no mesmo patamar dos óbitos nas redes aéreas.
“Mais uma vez, o brasileiro não tem o hábito de fazer manutenção nas instalações elétricas, e essa é uma prática essencial para garantir que os sistemas estejam funcionando corretamente e que possíveis problemas sejam detectados antes de se tornarem críticos. Além disso, o uso inadequado de equipamentos e a falta de profissionais qualificados para realizar reparos e instalações contribuem significativamente para o aumento desses incidentes”, afirma Fábio Amaral. Diante desse cenário preocupante, ele ressalta a importância de conscientizar a população sobre os riscos e as medidas de precaução que devem ser adotadas.
Amaral destaca que campanhas educativas voltadas para a segurança elétrica nas residências podem ajudar a reduzir essas ocorrências e ser um passo importante na prevenção de acidentes.
Evitando choques elétricos
No que diz respeito à conscientização, muitos acidentes podem ser evitados com o uso de dispositivos de proteção. Um exemplo é o Dispositivo Diferencial Residual (DR), que atua como um interruptor automático, desligando a corrente elétrica sempre que detecta uma fuga de energia acima dos níveis normais. Dessa forma, o DR desativa o circuito onde ocorreu a falha, prevenindo choques elétricos e evitando a queima de equipamentos eletrônicos devido a sobrecargas.
O engenheiro eletricista Fábio Amaral destaca que a instalação do DR deve ser feita no painel elétrico das residências, empresas ou indústrias. “É essencial contratar uma empresa especializada para a fabricação e montagem do painel elétrico, além de um profissional habilitado para sua instalação. A instalação é simples e rápida, garantindo maior segurança.”
Atualmente, a maioria das residências no Brasil não possui o Dispositivo Diferencial Residual (DR); apenas 27% contam com esse dispositivo, de acordo com dados do Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) e da Abracopel, o que gera preocupações sobre a segurança elétrica. “O baixo índice de adesão ao uso do DR reflete não apenas a falta de informação, mas também a subestimação dos riscos associados à eletricidade. Muitas pessoas ainda acreditam que investir em segurança elétrica é desnecessário. No entanto, o custo de um acidente elétrico pode ser muito maior, envolvendo hospitalizações e prejuízos materiais significativos”, comenta Fábio Amaral.
Incêndios elétricos
A pesquisa da Abracopel também mostrou um aumento nos incêndios de origem elétrica no primeiro semestre de 2024. Em 2023, o Brasil registrou 421 ocorrências, enquanto neste ano o número subiu para 467. A boa notícia é que o número de fatalidades caiu significativamente, de 35 para 15 mortes no período.
Em relação às regiões, o Sul foi o mais impactado em ambos os anos, com 137 incêndios em 2023 e 135 em 2024. O Sudeste apresentou um aumento considerável, passando de 97 incêndios em 2023 para 125 em 2024. As regiões Norte e Nordeste também registraram crescimento nesse tipo de acidente: no Norte, os incêndios subiram de 38 em 2023 para 51 em 2024, enquanto no Nordeste o número passou de 97 para 104 no mesmo período. A região Centro-Oeste foi a única que se manteve estável, com 52 incêndios tanto em 2023 quanto em 2024.