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Audiência em Joinville expõe divergências entre Vigilância Sanitária e instituições de longa permanência para idosos

Audiência Pública Comissão Cidadania Foto: Mauro Schlieck/CVJ

Por: Luana Maia

02/09/2025 - 11:09 - Atualizada em: 02/09/2025 - 11:37

A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos realizou uma audiência pública nesta segunda-feira (1°) para discutir os desafios das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) em Joinville.

O debate, realizado no plenário, revelou uma tensão entre a Federação das ILPIs, que critica excessos fiscalizatórios, e a Vigilância Sanitária, que defende a rigorosa aplicação das normas para proteger os idosos. Apesar das divergências, houve consenso sobre a necessidade de combater instituições clandestinas e priorizar a dignidade dos idosos.

O conflito entre fiscalização e viabilidade econômica ocorre em um contexto de envelhecimento populacional acelerado. Dados do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (Comdi), apresentados por Elisabete Dias dos Santos, destacam que 16% dos brasileiros (32 milhões) têm mais de 60 anos. Em Joinville, os idosos representam 14% da população, com mais pessoas entrando na terceira idade do que nascendo.

A secretária de Assistência Social, Fabiana Cardoso, destacou que além do envelhecimento populacional, a falta de proteção familiar colabora para a maior necessidade de acolhimento. Ela reconheceu que “há famílias que querem se livrar dos idosos” e defendeu que o acolhimento deve ser “excepcional e provisório”.

O vereador Brandel Junior (PL), proponente da audiência, defendeu um alinhamento entre a Vigilância Sanitária e proprietários da ILPIs para garantir que os lares operem dentro das regras sem prejuízo da qualidade do atendimento.

Defesa da fiscalização rigorosa

O coordenador da Vigilância Sanitária, Allisson Domingos, apresentou dados contundentes: em 2024, Joinville tinha 29 ILPIs licenciadas, com quatro interditadas e quatro parcialmente interditadas. Em 2025, o cenário piorou: das 84 ILPIs cadastradas, 19 estão licenciadas, 20 interditadas (sendo sete fechadas) e outras seis parcialmente interditadas.

Domingos descreveu “situações inaceitáveis” encontradas nas fiscalizações, como alimentação precária, idosos dormindo no chão, estrutura sucateada e higiene inexistente. Maria Terezinha Devigili, também do Comdi, confirmou os relatos e acrescentou que muitos “depósitos de gente” acolhem até pessoas de 40 anos, preocupando-se apenas com o lucro.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), embora ausente na audiência pública, enviou documento sugerindo “soluções humanizadas” como programas de famílias acolhedoras e expansão de vagas em Centro Dia, que é um serviço da Assistência Social para pessoas idosas.

Críticas da Federação das ILPIs

O presidente da Federação das ILPIs do Brasil (FedILPIs), Sérgio de Oliveira, reclamou que as exigências “extrapolam o previsto em lei”, citando a obrigatoriedade de determinados profissionais de saúde. Ele pediu que as leis não sejam cobradas de forma arbitrária e criticou a intensificação das fiscalizações.

O representante jurídico da entidade, Marcos Lopes Heleno, alertou para a “elitização do acolhimento”, uma vez que o aumento do custo para os lares torna o serviço inacessível para parte da população.

Concordâncias

Apesar das divergências, há pontos de acordo entre todos os envolvidos, como a defesa do fechamento das ILPIs clandestinas e de um modelo que priorize a dignidade dos idosos, além da importância da denúncia de violações dos direitos dos idosos pelo Disque 100.

Propostas sobre o tema em discussão na CVJ

Dois projetos de lei que tratam de questões que envolvem ILPIs, motivados principalmente pelo fechamento de ILPIs clandestinas, estão em tramitação na CVJ:

– O Projeto de Lei 191/2025, com autoria de Kiko da Luz (PSD), prevê a instalação obrigatória de câmeras de monitoramento nas instituições;

– O Projeto de Lei 200/2025, com autoria de Tânia Larson (União), trata da divulgação das ILPIs legalizadas no Portal da Transparência do município.

Os dois textos aguardam pareceres do primeiro colegiado de análise, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

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Luana Maia

Acadêmica de Jornalismo e redatora de cotidiano e entretenimento.